tag:blogger.com,1999:blog-329316402024-03-13T03:10:27.184-03:00Pensamentos EquivocadosClimão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.comBlogger42125tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-16660422327163102072022-01-28T18:37:00.002-03:002022-01-28T18:37:53.187-03:00Como é imigrar para Portugal - Documentação de Desembarque<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgUbB2w3wDQ3Jt97h-rb6tJyqpyFYUE1JlslyVcsGnXOOoW4kvXtIj8cb1YiVzoJJQ68xM-WOYvHyfgBWWlW8HjfbB8iTJqVVzUXw3s5jAyVulYw7ncWJrq8Yfs3TbpNcSHqlfhmKVU4-vsYDUsx8JBGUy-4wjn8TmoDcvEyQBy5J4GC6lldQ=s4032" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="1960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgUbB2w3wDQ3Jt97h-rb6tJyqpyFYUE1JlslyVcsGnXOOoW4kvXtIj8cb1YiVzoJJQ68xM-WOYvHyfgBWWlW8HjfbB8iTJqVVzUXw3s5jAyVulYw7ncWJrq8Yfs3TbpNcSHqlfhmKVU4-vsYDUsx8JBGUy-4wjn8TmoDcvEyQBy5J4GC6lldQ=w156-h320" width="156" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;">Semana passada, depois de todo o processo de visto e o encerramento da Campanha do Mestrado - que foi um sucesso, finalmente desembarcamos em Portugal.</p><p style="text-align: justify;">Para conseguir evitar problemas com o pessoal do serviço de fronteiras (SEF) logo ao chegar tenha em mente que organização é fundamental.</p><p style="text-align: justify;">Portanto organize constantemente sua documentação no Brasil e tudo que pensar fazer em Portugal que não demande uma vida muito curta (como o Atestado de Antecedentes criminais) providencie o apostilamento de haia.</p><p style="text-align: justify;">Por exemplo, se pretende viajar com seus familiares revise cuidadosamente os nomes dos familiares na documentação (erros acontecem e as vezes passamos direto por eles) com bastante antecedência antes da viagem, porque um ajuste numa certidão de nascimento, por exemplo, pode levar meses para concluir. Eu tive um problema com minha Certidão de Nascimento e esperei quase dois meses pra resolver, peguei o documento uma semana antes de viajar. Em paralelo a isso também identifiquei um erro de digitação na minha certidão de casamento que levou um mês pra ficar pronta (rodou em paralelo com minha certidão de nascimento).</p><p style="text-align: justify;">Aproveite o meio tempo entre a emissão do Visto de Residência e a decolagem para renovar o máximo de documentos possíveis (apenas o Passaporte deve renovar antes, e só se precisar de fato). Você, considerando que imigrou para estudar, passará no mínimo 2 anos (considerando Mestrado) longe do Brasil dependendo de procurador ou de terceiros para resolver seus problemas. Um tipo de documento que é interessante renovar - e é permitido antecipar a renovação em alguns estados - é a CNH. Além do incremento da duração da carteira recente para 10 anos ainda faz a digitalização do documento (se não fez, faça). <br /></p><p style="text-align: justify;">E mesmo assim sempre fica algo de fora.<br /></p><p style="text-align: justify;">Então, foi previdente, providenciou toda a documentação e acha que está pronto? Não acredite e cheque duas vezes.<br /></p><p style="text-align: justify;"> Sabe a documentação que enviou para o Consulado de Portugal visando obter o Visto? Atualize o que tiver que atualizar (como os extratos bancários) e arrume direitinho porque pedirão por esses documentos novamente. No momento a Pandemia ainda está acontecendo, então além desses documentos que podem ou não serem cobrados em algum momento a imigração ou a empresa de aviação exigirá:</p><ul style="text-align: justify;"><li>Teste negativo de Covid dentro das regras atuais emitido por um laboratório público ou particular com uma antecedência variável de acordo com o tipo de exame;</li><li>Comprovante de Vacinação com no mínimo as 2 doses (já estão cogitando exigir com as 3 doses);</li><li>Preenchimento do formulário de localização do passageiro preenchido pelo titular da compra marcando os lugares onde marcaram no check-in, se fizer check-in no balcão tem que ver o procedimento com a empresa.<br /></li></ul><p style="text-align: justify;">Aqui nos organizamos em pastinhas para cada momento da viagem. Uma pastinha para a empresa de aviação, outra com a documentação do visto e uma terceira com outros documentos. Quando desembarquei no Porto precisei apresentar além de meu passaporte com o visto também o comprovante de matrícula na Universidade do Minho. E ter de cabeça minha hospedagem ajudou a agilizar as coisas que pode ser comprovante de aluguel, AirBnb, carta convite, etc.</p><p style="text-align: justify;">Um item indispensável na viagem é cordialidade. Não importa o quão truculento um agente da imigração de qualquer país seja, se você agir de forma descortês a chance de sua viagem acabar ali mesmo é muito maior do que se faltar algum documento ou errar na impressão do voucher de um hotel, por exemplo.</p><p style="text-align: justify;">Por fim passamos pela imigração, pegamos nossas bagagens e rumamos para nosso destino: Braga.</p><p style="text-align: justify;">No próximo post falarei dos primeiros dias e documentos que precisei providenciar, na ordem que aconteceu comigo.</p><p style="text-align: justify;">Lembrando que cada caso é um caso, só tenho como falar do meu e dar dicas dentro da minha vivência para ajudar outros que passarão pela mesma situação a se prepararem melhor.<br /></p><p style="text-align: justify;">Se não me acompanha no Instagram esse <a href="https://www.instagram.com/climaotahiti/" target="_blank">é um bom momento</a>, tenho postado bastante por lá.<br /></p>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-71271956114588228082021-11-11T18:26:00.006-03:002021-11-11T19:05:37.854-03:00Visto de Estudante em Portugal - Como funcionou comigo?<p style="text-align: center;"> <a href="https://www.blogger.com/u/3/#"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWWC41jt6uwAVikNxCupRfnsQsMN5f37iAac4Zegl0oqoi0IVHer5kDv94-HlaFgpc07Va8kbqxtPbWatkdxrmGRk_u_C84m26z458rQrIk2Mms_hElq-cvkX70T-fCv9XgsEm/s320/Validade-do-Passaporte-min.png" /></a><br /></p><p></p><p style="text-align: justify;">Finalmente.<br /><br />Meu passaporte voltou para o conforto do lar e com aquele que imagino ser o carimbo mais importante que já consegui: o visto de residência para estudantes em Portugal.<br /><br />Mas provavelmente e, principalmente, se você chegou até aqui porque estava procurando informações sobre o processo de visto e dicas talvez tenha algumas, mas meu objetivo é dizer como foi, não como será o seu processo.<br /><br />Uma coisa importante que esse não é o que consideramos com O visto, na verdade é um autorização de entrada em solo português para que possa resolver na Europa os trâmites de imigração locais e aí sim tirar a autorização de residência (que só farei em Janeiro de 2022). E é uma exigência burocrática para quem se matricula nas Universidades e escolas portuguesas, não recomendo em hipótese alguma dar uma de aventureiro e tentar chegar entrar com visto de turista porque a chance de ser deportado é bem alta. <br /><br />E assim como o famoso Jack de Londres faria as coisas temos que ter em mente que tudo vai acontecer pedaço por pedaço. <br /></p><span><a name='more'></a></span><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>Primeira Etapa - Decidir</b></span><br /><br />Se você planeja sair do Brasil para estudar provavelmente você já passou pelo processo de escolha de sua instituição de ensino e tem na cabeça bem o que quer. Senão eu tenho <a href="https://www.blogger.com/u/3/#">um post que fala justamente sobre como foi esse processo de escolha</a>.<br /><br />A não ser que você seja herdeiro ou seja a pessoa que terá herdeiros já sabe de antemão que é um processo caro e nem sempre por mais que calcule direitinho tudo <a href="https://www.blogger.com/u/3/#">pode acabar precisando de ajuda dos amigos e da família</a> (família mesmo, não parente), então se até certos políticos tem coragem de criar campanha para arrecadar fundos e arcar com as consequências financeiras de seus atos não há nada de vergonhoso em pedir ajuda a desconhecidos na internet.<br /><br />Decidiu? Se inscreveu no processo seletivo pra estudar fora do Brasil? Foi aprovado? Beleza.<br /><br />Pagou as taxas de matrícula e está tudo pronto?<br /><br />Beleza, vamos solicitar o visto. <br /><br /><span style="font-size: medium;"><b>Segunda Etapa - Ler</b></span><br /><br />O Brasil cada ano que passa mais e mais pessoas passam pelo processo de imigração para conseguir entrar no país e residir.<br /><br />Como o Brasileiro não costuma ler (eu trabalho com atendimento ao público e lido com isso diariamente) a Embaixada de Portugal passou a utilizar para o processo de visto para Portugal os serviços da VFS Global.<br /><br />A VFS Global atua como uma rede de despachantes legalizada. Ao invés de você contratar um despachante (como muita gente faz) para realizar os trâmites burocráticos você faz por eles.<br /><br />Eles não atendem somente para o processo de visto português, também atuam para outros países, porém até o momento - novembro de 2021 - o atendimento presencial deles se encontra em suspenso e, pelo menos no Rio de Janeiro, somente fazem atendimento online e recebimento de documentação pelos Correios. Já atendiam presencial em Brasília, mas o sistema deles é meio estranho e nem me arrisquei a perder tempo com isso, mas pode ser o seu caso se estiver muito desesperado.<br /><br />O site deles é esse aqui:<br /></p><p style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://www.blogger.com/u/3/#">https://www.vfsglobal.com/portugal/Brazil/residency-visa.html</a></span><br /></p><p style="text-align: left;"></p><p style="text-align: justify;">Então, se planeja tirar seu visto de estudante e ainda não foi lá já tem um problema. Clica no link e dá uma lida.<br /><br />Uma coisa que precisa ter em mente ao lidar com outros países - principalmente no que diz respeito a imigração - é que não existe "jeitinho" ou "conversa", está tudo documentado. Você abre o site do consulado ou equivalente e lê o que é solicitado.<br /><br />Não é pra pensar, não é pra tirar conclusão, você lê. Se mesmo lendo ainda ficar alguma dúvida, entre em contato com o site pelos e-mails de contato e eles tentarão ajudar.<br /><br />Mas saiba que: se a resposta estiver no site eles se limitarão a copiar e colar a informação contida no site e azar o seu se não compreender.<br /><br />Dica pra vida: isso vale para qualquer relação que tiver em Portugal. Eles não se incomodam em explicar a documentação se você mostrar a parte em que tem dúvidas, mas se incomodam absurdamente quando perguntamos coisas que estão escritas e damos a entender que não lemos. Sejam informações consulares ou a localização de algo. Com sorte não serão ríspidos.<br /></p><p style="text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/u/3/#"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvTxbr0GMU7wdR86S51xx1Q8z4ES6-4SKJUU0iUd3hZQL818E0b6OBLidJjAy9dpkv3RJ4eB-eTRuN-q2jZVFWcNItBGsFlBJdFQIMuyh7OD79JIlfBdeI0F6gmuj5BlMV1YUi/w361-h263/Clipboard01.jpg" /></a> </p><p style="text-align: justify;">O site deles tem 3 abas principais.<br /><br />A primeira é referente a saber qual seu tipo de visto, a segunda com as instruções para a solicitação de visto e a terceira com informações relevantes sobre o acompanhamento do processo de visto.<br /><br />Não tem como tentar outro caminho para obter o visto, os sites do consulado apontam para eles. Pode rebolar, reclamar na página do Facebook do consulado, chorar no Twitter, fazer Tik Tok ofensivo ou até vir comentar aqui no blog.<br /><br />Quando você escolhe o tipo de visto aí que começa a luta.<br /><br /><b><span style="font-size: medium;">Minha Experiência</span></b> <br /><br />Eu precisava do Visto de Estudante.<br /><br />Fui na respectiva aba e a VFS Global disponibiliza um check list com o mínimo de documentos necessários para a solicitação do visto de estudante. Necessitava providenciar esses documentos e somente depois de atender tanto o check list quanto outros trâmites poderia colocar tudo num envelope e então encaminhar para a empresa.<br /><br />De acordo com o Check List os documentos eram os seguintes:<br /></p><ul style="text-align: left;"><li>Formulário de pedido de visto nacional (preenchido na íntegra e assinado tanto no final quanto no item de número 37); </li><li>2 Fotografias iguais, em tamanho 3x4, atualizadas e em boas condições de identificação do requerente (1 colada no formulário acima);</li><li>Passaporte ou outro documento de viagem, válido por mais de três meses após a data prevista para o regresso;</li><li>Fotocópia de partes do passaporte (dados biográficos e páginas com carimbo);</li><li>Seguro de viagem válido, que permita cobrir as despesas necessárias por razões médicas, incluindo assistência médica urgente e eventual repatriamento em caso de morte ou PB4 emitido pelo Ministério da Saúde do Brasil (eu quis apostilar). </li><li>Certificado de registro criminal emitido pela Polícia Federal do Brasil nos últimos 30 dias e apostilado. </li><li>Requerimento para consulta do registo criminal português pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (não aplicável a menores de 16 anos);</li><li>Comprovativo de Meios de Subsistência;</li><li> Documentos Específicos que comprovem minha situação acadêmica. </li></ul><p style="text-align: justify;"><br />Além dos documentos constantes no Check List era necessário colocar no envelope:<br /></p><ul style="text-align: left;"><li> 2 Cópias do Check List preenchido;</li><li>Termo de consentimento; </li><li>Comprovantes originais de pagamento das taxas consulares e da empresa.</li></ul><p style="text-align: justify;"><br />Tendo esses documentos é só pegar o endereço da VFS Global mais próxima de sua residência e encaminhar pelos Correios via SEDEX.<br /><br />Precisam ser colocados na <a href="https://www.blogger.com/u/3/#">ordem que informam no site</a> e sem grampear ou prender com clipes de papel. <br /><br />No site também avisam que o prazo em média é de 60 dias úteis.<br /><br />No meu caso a resposta e meu passaporte chegaram em aproximadamente 30 dias (somente o processo de visto, sem mencionar a preparação de documentos que são outros 20 dias ao menos), isso porque já estava com tudo parcialmente preparado para encaminhar.<br /><br />Então pode considerar que entre a aprovação e efetivamente estar apto a entrar em Portugal eu levei cerca de três meses (meu processo seletivo foi em Setembro), mas em Portugal só estarei mesmo por volta de meados de Janeiro.<br /><br /><span style="font-size: medium;"><b>Sobre Formulários, Documentos e Taxas</b></span><br /><br />Eu preenchi o Formulário de pedido de visto nacional colocando dados de um parente onde me hospedarei nos primeiros dias até alugar um imóvel ou quarto em república, além de dados do meu empregador no Brasil.<br /><br />As fotografias precisei voltar no tempo e arrumar uma papelaria que tirasse foto e imprimisse. Em 2021 e em uma pandemia não foi exatamente um serviço muito fácil.<br /><br />O Passaporte e a cópia foram fáceis de obter porque o meu está dentro da validade. Se não for o seu caso terá que esperar até receber um passaporte dentro dos requisitos mínimos, nem adianta tentar porque seu visto será negado e pior do que ter que recomeçar tudo do zero é o tempo que se perde.<br /><br />O PB4, atualmente chamado de CDAM, é fornecido pelo Governo Federal Brasileiro e pode ser obtido por pessoas que trabalham no Brasil no sistema Gov.BR através desse link: <a href="https://www.blogger.com/u/3/#">https://www.gov.br/pt-br/servicos/obter-certificado-de-direito-a-assistencia-medica</a>. Esse formulário tem prazo de duração limitado a um ano, então não compensa muito pedir com antecedência, eu pedi o meu tão logo paguei a matrícula da Universidade do Minho. <br /><br />O certificado de antecedentes criminais brasileiro é imediato pra obter, mas fiz a solicitação do meu no mesmo dia que o PB-4 para evitar distanciar muito as datas entre um e outro. E lembre-se de realizar o apostilamento de haia deste documento porque mesmo tendo validade é uma exigência do consulado.<br /><br /> O requerimento de consulta ao registo (é essa palavra mesmo, acostume-se) criminal português é fornecido pelo site.<br /><br />Para a comprovação de meios de subsistência providenciei os extratos bancários de todas as minhas economias, meu contracheque e informações fiscais (minha última declaração de imposto de renda, no caso) e fiz uma declaração simples (e assinada) de uma página compilando as informações todas para facilitar ao agente consular e demonstrar cordialidade. <br /><br />Em relação a documentação específica eu precisava comprovar minha situação acadêmica. No meu caso uma Declaração de Matrícula emitida pela Universidade do Minho. Em geral esse documento sai poucos dias depois do pagamento da taxa, mas acabei solicitando assim mesmo porque estava demorando. Encaminhei junto com essa declaração o comprovante de pagamento da taxa de matrícula e a grade de horário de 2021/2022 ilustrando que começaria as aulas no segundo semestre. Informação nunca é demais. Essa documentação esperei umas duas semanas para conseguir. Mesmo assim não foi o suficiente, como falarei a seguir.<br /><br />Com a documentação separada, coloque tudo num envelope e pague as taxas que são informadas pela VFS Global.<br /><br />Eu paguei pelos seguintes serviços:<br /></p><ul style="text-align: left;"><li>Taxas Consulares;</li><li>Serviços de fotocópia e impressão (precisei pagar porque cometi uns erros);</li><li>SMS;</li><li>Serviço de Courier regular e expresso;</li><li>Garantia de Courier;</li><li>Kiosque de autoatendimento;</li></ul><p style="text-align: justify;"><br />Cada um deles tem um valor tabelado e o Courrier varia de acordo com o lugar onde mora. Paguei seguro porque se tem uma coisa que aprendi na vida é que sem seguro é mais caro (e seu passaporte virá pelos Correios, preciso dizer mais?). <br /><br />Torno a repetir: os documentos não podem estar grampeados ou presos com clipes, e organizados de acordo com a ordem informada no site da VFS Global. Não se baseie na minha lista porque essa documentação pode mudar.<br /><br />E tenha em mente que dependendo das informações que colocar no seu formulário de pedido de visto nacional provavelmente solicitarão documentação ou informação adicional.<br /><br />Fato curioso: para agilizar o envio da documentação no prédio onde fica a sede da VFS do Rio de Janeiro tem uma agência dos Correios. Precisei enviar um sedex para eles ali nessa agência, o que transformou <br /><br />E aconteceu.<br /><br /><span style="font-size: medium;"><b>Documentação Adicional </b></span><br /></p><p style="text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/u/3/#"><img border="0" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgr83Y5Rd2hUMFn15uspgvvAF-BUVp6Sgzg90ef1MxvEKla07_CE_XKyvWucH_CHSUDIvSO2JBBNdR6NxSHaYzXpnxFkrNJaURlbNwu1yufOMVIueRxU1xpPJUnPKTa84_pA_Af/w415-h257/photo_2021-10-27_10-48-26.jpg" width="415" /></a><br /></p><p>O site deixa bem claro que a documentação do Check List é apenas uma referência inicial e o consulado pode (e conte que irá) exigir documentação adicional.<br /><br />Se você viu o que passei até agora e leu o post sobre o processo de mestrado provavelmente tem um monte de documentação acadêmica apostilada em casa.<br /><br />Foi o momento de usá-la mais uma vez.<br /><br />Com duas semanas de envio realizado, informaram que faltavam preencher algumas partes do formulário de requerimento de visto relativas ao local onde ficaria em Portugal. Contratei, como disse acima, o serviço de impressão e kiosky pra resolver sem precisar reenviar pelos Correios. Três dias depois recebi o código de acompanhamento do processo de visto.<br /><br />Aí parecia que estava tudo bem, mas não.<br /><br />Uma semana depois recebi solicitação de documentação adicional.<br /><br />Queriam uma comprovação do meu trabalho, um comprovativo de morada (em Portugal) e a comprovação acadêmica. Fui até meu trabalho e consegui uma declaração de meu superior informando do meu local de trabalho. O comprovativo de morada precisei providenciar as pressas. O diploma, mesmo que apostilado, tirei uma cópia autenticada de ambos.<br /><br />Precisei remeter pelos correios esses documentos, o que levou mais uma semana para isso.<br /><br />Ao final disso, numa segunda-feira recebi uma mensagem misteriosa que meu processo de visto tinha acabado e meu passaporte estava a caminho.<br /><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwfGkxx5CzAQ_1m3lfze_hqqTnt3frTnQw2zoqW13F8Hcam_3GmPnSM2iNVV0Y8bw3cnwnVo1zrLVlhziE2Z5v3DDj9IrP7hmBquKDWxk1tdphXEkD-jrw7j23Jq0DNyTKoYY-/s1280/photo_2021-11-08_18-50-05.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="623" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwfGkxx5CzAQ_1m3lfze_hqqTnt3frTnQw2zoqW13F8Hcam_3GmPnSM2iNVV0Y8bw3cnwnVo1zrLVlhziE2Z5v3DDj9IrP7hmBquKDWxk1tdphXEkD-jrw7j23Jq0DNyTKoYY-/s320/photo_2021-11-08_18-50-05.jpg" width="156" /></a></div><br />Aceitaram? Negaram? Indeferiram?<br /><br />Não tinha como saber.<br /><br />Isso mesmo, só tinha a informação com o código dos Correios.<br /><br />Ler que "Os funcionários não tem ciência ou qualquer tipo de informação referente aos resultados das solicitações de vistos, pois o recebem em envelope lacrado e não tem autorização para verificação" me garantiu que se não fosse o sagrado Rivotril provavelmente não teria dormido nesse dia.<br /><br />Esperei, até porque era o que restava a ser feito, e na quarta-feira minha esposa recebeu em casa o SEDEX com meu passaporte.<br /><br />Um saquinho plástico apenas com meu passaporte dentro, nenhuma mensagem, nada mais.<br /><br />Mas aberto em uma linda página.<br /><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivfJIYmaRKPsyT3-WjPtqWsF90xmHZZno-AAhMSV0iBx7BSes5yS1oF1v2OMmjSy1o9QeGu-1KXBurDRHV_7zg0VppSg6MpbTrrct1Drh94aOx2aEL-cFj_0MGqULRB-YJquYu/s670/Clipboard02.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="313" data-original-width="670" height="149" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivfJIYmaRKPsyT3-WjPtqWsF90xmHZZno-AAhMSV0iBx7BSes5yS1oF1v2OMmjSy1o9QeGu-1KXBurDRHV_7zg0VppSg6MpbTrrct1Drh94aOx2aEL-cFj_0MGqULRB-YJquYu/s320/Clipboard02.jpg" width="320" /></a></div><p><br /><br /><b><span style="font-size: medium;">Resumo da Documentação</span></b><br /> <br />Por fim meu Check List final (juntando tudo que precisei) ficou desse jeito:<br /></p><ul style="text-align: left;"><li>2 Cópias do Check List preenchido;</li><li>Termo de consentimento; </li><li>Comprovantes originais de pagamento das taxas consulares e da empresa, os seguintes:</li><ul><li>Taxas Consulares;</li><li>Serviços de fotocópia e impressão (precisei pagar porque cometi uns erros);</li><li>SMS;</li><li>Serviço de Courier regular e expresso;</li><li>Garantia de Courier;</li><li>Kiosque de autoatendimento.</li></ul><li>Formulário de pedido de visto nacional (preenchido na íntegra e assinado tanto no final quanto no item de número 37); </li><ul><li>Precisei documentar aonde ficaria.</li></ul><li>2 Fotografias iguais, em tamanho 3x4, atualizadas e em boas condições de identificação do requerente (1 colada no formulário acima);</li><li>Passaporte ou outro documento de viagem, válido por mais de três meses após a data prevista para o regresso;</li><li>Fotocópia de partes do passaporte (dados biográficos e páginas com carimbo);</li><li>PB4 emitido pelo Ministério da Saúde do Brasil e apostilado. </li><li>Certificado de registro criminal emitido pela Polícia Federal do Brasil nos últimos 30 dias e devidamente apostilado. </li><li>Requerimento para consulta do registo criminal português pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (não aplicável a menores de 16 anos);</li><li>Comprovativo de Meios de Subsistência, composto de;</li><ul><li>Autodeclaração;</li><li>Contracheque;</li><li>Declaração de minha chefia;</li><li>Comprobativo de alojamento em Portugal.</li></ul><li> Documentos Específicos que comprovem minha situação acadêmica. </li><ul><li>Resultado do processo seletivo do Mestrado; <br /></li><li>Comprovante de matrícula;</li><li>Declaração de Matrícula;</li><li>Cópia autenticada do Diploma apostilado.</li></ul></ul><p style="text-align: left;"><br />E não é que depois de todo esse trabalho (e um tico de sofrimento) deu tudo certo?<br /> </p><p style="text-align: center;">Janeiro estarei em Portugal para mais uma etapa da batalha. <br /></p><p style="text-align: left;"><b><span style="font-size: medium;">Dicas </span></b><br /> <br />Por último coloque na cabeça algumas dessas coisas que poderão te ajudar tanto no processo de visto quanto posteriormente. <br /><br /></p><ul style="text-align: left;"><li>Leia tudo, uma, duas, quantas vezes precisar;</li><li>Faça as coisas com o máximo de calma possível;</li><li>Faça o apostilamento de todo documento oficial que tiver se seu destino for a Europa;</li><li>Não se esqueça de realizar a tradução juramentada (se quiser emigrar pra países de outro idioma); </li><li>Autentique assinaturas de seus documentos particulares, em Portugal será mais difícil senão impossível;</li><li>Tenha todos os seus documentos acadêmicos autenticados e apostilados que são pelo menos esses:</li><li>Diplomas;</li><li>Declarações de Formado com Escala de Avaliação;</li><li>Histórico Escolar; </li><li>Ementas (pro caso de se formar em universidades particulares algumas universidades exigem isso). </li><li> Esteja preparado para providenciar e enviar qualquer documento necessário pra cumprir o que pedirem rapidamente e com um sorriso no rosto. Se exigirem, por exemplo, pra reservar um hotel (mesmo que digam que não precise), porque o campo de alojamento não pode ficar vazio, vá num que permita cancelamento e reserve. Um visto negado é pior do que ficar com o valor do hotel pendurado no seu cartão. </li></ul><br />Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-20295190227760324922021-10-27T11:09:00.004-03:002021-10-27T11:10:12.128-03:00Visto a perder de vista<p> Uma imagem que resume meu último mês:<br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiK7_mt0Mge3_me6oiH6QBe83cpXr-4cnY7RvxVTfhGnWAJTcPzSUF6o4vZXWlhE_n6ZK10OcNirGlclrDRHuIo3167_r6SVMov70gOKAj4-PYm59rd7-t_lmTS1u23FC5leoj/s600/photo_2021-10-27_10-48-26.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Meme. Um corpo musculoso corre atrás de uma caveira. O corpo musculoso diz "climao tahiti envie mais um documento" e a caveira responde "sai pra lá consulado, agora todo dia isso?"" border="0" data-original-height="372" data-original-width="600" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiK7_mt0Mge3_me6oiH6QBe83cpXr-4cnY7RvxVTfhGnWAJTcPzSUF6o4vZXWlhE_n6ZK10OcNirGlclrDRHuIo3167_r6SVMov70gOKAj4-PYm59rd7-t_lmTS1u23FC5leoj/w400-h248/photo_2021-10-27_10-48-26.jpg" width="400" /> </a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Toda semana um pedido novo de documento.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Até que o processo termine estarei que nem o seu Madruga devendo 14 meses de alug... ops, devendo o post de visto de estudante.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">E quando a campanha de <a href="https://www.pensamentosequivocados.com/p/campanha-ajude-o-limao.html" rel="nofollow" target="_blank">Ajuda ao Limão</a> completar 30 dias postarei um pequeno relatório resumido com a quantidade de doadores aqui.</div><p></p>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-80214535729460367302021-10-23T18:44:00.011-03:002021-10-24T12:39:24.200-03:00Como funcionou o processo de seleção para mestrado em Portugal?<div><div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitzS4wtCIH8QyAg0R4cTagfNQd1FQ6ArXg93DLfNBm06Y9cVgwxooTXOqZQtWc97kJeu8yZK9I-4nhKpmqAM2jOptOop7Yje9jQJZsrWFSe-DEM6SDDI5mrqaRopEW6xfiW1N_/s1200/universidade-do-minho.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="1200" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitzS4wtCIH8QyAg0R4cTagfNQd1FQ6ArXg93DLfNBm06Y9cVgwxooTXOqZQtWc97kJeu8yZK9I-4nhKpmqAM2jOptOop7Yje9jQJZsrWFSe-DEM6SDDI5mrqaRopEW6xfiW1N_/s320/universidade-do-minho.jpg" width="320" /></a></div><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma pergunta que talvez seja recorrente e que não encontrei em muitos sites é justamente sobre como funciona um processo seletivo de Mestrado em Portugal.</div><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;">A gente encontra com certa facilidade até como faz para conseguir os Vistos de Trabalho ou os Vistos de Residência.</p><p style="text-align: justify;">Porém a opção de imigrar para estudar o caminho é um pouco diferente e não necessariamente mais fácil (na verdade é até mais demorado, afinal de contas, antes de chegar no ponto de se candidatar você precisou pelo menos se formar).<br /></p><p style="text-align: justify;">Explicarei, não muito resumidamente, por aqui.<span></span></p><a name='more'></a><p></p><a name="more"></a><span></span><p></p><p style="text-align: justify;">Até pouco tempo atrás existia um projeto chamado Ciências Sem Fronteiras em que estudantes brasileiros tinham a opção de realizar disciplinas extras em universidades fora do Brasil bastando serem aprovados em exames de proficiência em inglês e participarem de processos seletivos. Infelizmente não era uma política de estado e esse projeto se encerrou e atualmente a possibilidade de conseguir financiamento por parte de fundações e outros fundos de apoio a ciência são bem raros (não impossíveis, diga-se, porque existem projetos, porém raros e restritos a determinados condicionantes que não cabem aqui). <br /></p><p style="text-align: justify;">Portanto tenha em mente pra começo de conversa sobre estudar em Portugal de partir do seguinte princípio:</p><p style="text-align: center;"><b>Não conte com ensino público superior gratuito para estrangeiros nas universidades públicas</b><br /></p><p style="text-align: justify;">Você, repito, pode até <i>eventualmente </i>conseguir uma Bolsa de Estudos ou alguma parceria em fundações, porém não conte com isso logo de cara. É difícil e demanda um conhecimento que muitas vezes não temos no ambiente escolar ou familiar salvo quando damos a sorte de esbarrar nas redes sociais com divulgadores científicos que abordam o tema.<br /></p><p style="text-align: justify;">No Brasil processos de mestrado nas universidades públicas são 100% gratuitos e muitos até já incluem a possibilidade de bolsa no próprio edital. Esquece isso em Portugal, se alguém disse "ah, mas fulano conseguiu" provavelmente é alguma modalidade baseada muito mais em Qi acessível para aqueles 0,000001% que credita-se mais a uma Lenda Urbana que a realidade em si. <br /></p><p style="text-align: justify;">Se vai candidatar-se a um Mestrado escolha a universidade de sua preferência.</p><p style="text-align: center;"><b>Seja no Brasil ou fora, procure saber o que quer e onde quer</b><br /></p><p style="text-align: justify;">Em Portugal existem excelentes universidades públicas e privadas e a época de candidatura costuma ocorrer no meio do ano, mas pode variar e com a Pandemia essas datas mudaram muito (atualizarei o post no decorrer da normalização dessas datas), então o ideal é checar periodicamente nos sites dos institutos que oferecem vagas.<br /></p><p style="text-align: justify;">Como me candidatei a Universidade do Minho limitarei minha narrativa a
minha experiência, entretanto se a sua foi diferente ou tem informações a
acrescentar os comentários estão no final da postagem. Não encare como
regra porque <b>cada edital é diferente e pode mudar de um ano para outro</b>. <br /></p><p style="text-align: justify;">Então sugiro fazer um checklist mental (ou não) abordando pelo menos essas questões:</p><ol style="text-align: justify;"><li><b>Quero fazer mestrado? (sério, é bom ter certeza disso)</b></li><li><b>Qual minha área de atuação ou minha linha de pesquisa? (muito importante saber, explico abaixo)<br /></b></li><li><b>Onde quero estudar? (dar tiro pra todo lado é legal quando tem dinheiro sobrando, caso contrário acerte bem o alvo)<br /></b></li><li><b>O quê quero estudar?</b></li><li><b>Como posso tornar isso realidade?</b><br /></li></ol><p style="text-align: justify;">Minhas respostas foram:</p><ol style="text-align: justify;"><li><i>Quero;</i></li><li><i>Minha linha de pesquisa é na área de estudo de comportamento de usuário e catalogação;</i></li><li><i>Quero estudar na Universidade do Minho, por motivos pessoais (meu avô era natural da região norte de Portugal, mais especificamente do Porto);</i></li><li><i>Quero continuar na minha linha de pesquisa e procuro uma grade de matérias que se adeque as minhas necessidades, mesmo que parcialmente;</i></li><li><i>Vou organizar a documentação e juntar dinheiro, assim que tiver condições me candidato.</i></li></ol><p style="text-align: justify;">Atente para o item 5.</p><p style="text-align: justify;">Vou dizer aqui logo de cara quais documentos são extremamente necessários já possuir contigo para que sua candidatura não se perca caso seja aprovado:</p><ol style="text-align: justify;"><li><b>Diploma </b>- Devidamente autenticado no cartório e com o apostilamento de Haia realizado;</li><li><b>Histórico Escolar Oficial </b>- Devidamente autenticado no cartório e com o apostilamento de Haia realizado;</li><li><b>Declaração de sua universidade informando qual sua média final e a escala de aprovação</b>, também autenticada em cartório e com apostilamento de Haia realizado;</li><li><b>Passaporte, </b>com validade de pelo menos 3 anos; <br /></li><li><b>Carteira de Vacinação</b>, informando que tomou a vacina antitetânica e a validade;</li><li><b>Cartão de Crédito Internacional</b>, para pagamento de taxas. <br /></li></ol><p style="text-align: justify;">Apostilamento de Haia se trata de um modelo de autenticação de documentos internacional. Se você se formou em uma universidade pública como funcionários públicos possuem fé pública no geral não é necessário autenticar o documento (mas recomendo fazer isso com seu diploma), mas alguns cartórios podem insistir nisso (o meu não insistiu). A vacinação antitetânica é exigida, e tudo leva a crer que provavelmente ano que vem incluirão o certificado de vacinação do coronavírus.<br /></p><p style="text-align: justify;">Tenha na cabeça que para conseguir estudar em qualquer universidade fora do país você precisa preencher requisitos financeiros para ser aprovado para entrada. Em Portugal é necessário já saber que precisará ter dinheiro acumulado em uma conta no Brasil com o equivalente a 12 meses de salário mínimo português (atualmente algo em torno de<span></span> setecentos euros mensais) e calcule além disso que precisará do dinheiro para pagar as mensalidades (em Portugal chamam de propinas), taxas de matrícula e documentação para tirar o visto de estudante ainda no Brasil e para refazer todo o processo de visto em Portugal.</p><p style="text-align: justify;">Mas não vamos falar de dinheiro, deixarei isso para outro post sobre o assunto referente ao visto.<br /></p><p style="text-align: justify;">Fez a escolha? Se organizou financeiramente? Arrumou a papelada?</p><p style="text-align: justify;">E isso me leva ao primeiro ponto, o edital.</p><p style="text-align: justify;">Minha área de formação é na Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação. Como já sei que Biblioteconomia não é exatamente uma área muito ampla precisaria me adequar em encontrar um mestrado cuja formação considerasse um pouco do que quero aprender. Minha área de formação é no campo da informação, então eu procurei na internet por áreas que tivessem alguma coisa a ver com minha formação.</p><p style="text-align: justify;">No Brasil o curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, dentre sua gama de aplicações, se vende como uma ciência social aplicada. Fui checar então no Instituto de Ciências Sociais de universidades estrangeiras se me encaixaria.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0jzxQPiCqWxRlYO5-4hFSroSIen1mCVRetqOb39T9AT3va9psMRPd77zAKS1DxPbm-zGOdIt3KF9Ve7eIBYFBWbkYjWrRKqyK9xHo5d7AhfobyLn4Px_4b5PujSqHvwmtAPKM/s899/Clipboard01.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="899" data-original-width="634" height="411" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0jzxQPiCqWxRlYO5-4hFSroSIen1mCVRetqOb39T9AT3va9psMRPd77zAKS1DxPbm-zGOdIt3KF9Ve7eIBYFBWbkYjWrRKqyK9xHo5d7AhfobyLn4Px_4b5PujSqHvwmtAPKM/w290-h411/Clipboard01.jpg" width="290" /></a> </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.ics.uminho.pt/pt/Ensino/Mestrados/Paginas/Candidaturas.aspx">https://www.ics.uminho.pt/pt/Ensino/Mestrados/Paginas/Candidaturas.aspx</a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0jzxQPiCqWxRlYO5-4hFSroSIen1mCVRetqOb39T9AT3va9psMRPd77zAKS1DxPbm-zGOdIt3KF9Ve7eIBYFBWbkYjWrRKqyK9xHo5d7AhfobyLn4Px_4b5PujSqHvwmtAPKM/s899/Clipboard01.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"> Como podem ver na imagem (ou clicando no link se quiser mais informação) a oferta de linhas de conhecimento para o mestrado é bem ampla. Eu cliquei em cada uma delas, analisei as ofertas acadêmicas de cada curso, suas disciplinas e até mesmo alguns trabalhos acadêmicos que me permitiram decidir com segurança qual escolheria para me candidatar.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYvNt-1nlo7R6gTKf2nYtpmDWQISnLUyIpIQnfeLU3m_mXqtlc-ywrQc53BEqZop1-6aMlgiDcuB_sHYS3G92AwnEepXmXGYv0Nno8yE1TA0qxSZPiPAltMs6sJ6KCVAgsqHy0/s1212/Clipboard02.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="771" data-original-width="1212" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYvNt-1nlo7R6gTKf2nYtpmDWQISnLUyIpIQnfeLU3m_mXqtlc-ywrQc53BEqZop1-6aMlgiDcuB_sHYS3G92AwnEepXmXGYv0Nno8yE1TA0qxSZPiPAltMs6sJ6KCVAgsqHy0/s320/Clipboard02.jpg" width="320" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Na página informa as datas em que ocorreram o último concurso de acesso. Eu me candidatei ao Mestrado em Ciências da Comunicação - Investigação para o ano letivo de 2021/2022, que como podem ver a última fase de candidatura desse concurso já se encerrou. </p><p style="text-align: justify;">Quando chegar a sua vez e tendo a instituição de ensino escolhida você precisa periodicamente acompanhar a página de divulgação de mestrados. Cada universidade ou centro de ensino tem seu próprio modelo de informar, não existe exatamente um padrão.</p><p style="text-align: justify;">Recomendo além de acompanhar periodicamente direto nas páginas dos institutos de ensino também seguir as instituições nas redes sociais. Ao contrário do que acontece no Brasil as páginas costumam ser bem alimentadas e atualizações regulares informando dos mais diversos temas inclusive inscrições.<br /></p><p style="text-align: justify;">Essa página apontava para um link com informações para a realização de inscrição para o mestrado, que é este aqui:</p><p style="text-align: center;"><a href="https://alunos.uminho.pt/PT/candidatos/Mestrados/Paginas/default.aspx">https://alunos.uminho.pt/PT/candidatos/Mestrados/Paginas/default.aspx</a> </p><p style="text-align: justify;">Para me matricular precisei criar um login e senha para participar do processo seletivo. E pagar a taxa de inscrição de 30 euros com cartão internacional.<br /></p><p style="text-align: justify;">Nesse ponto é importante lembrar da papelada que mencionei acima.</p><p style="text-align: justify;">Pra me candidatar precisei anexar no formulário de inscrição os seguintes documentos (digitalizados e/ou em pdf) que exigiam no edital:</p><ul style="text-align: justify;"><li><i><b>Certidão da licenciatura, com discriminação das disciplinas realizadas e respetiva classificação final.</b> Os candidatos detentores de um grau estrangeiro não reconhecido em Portugal devem instruir a candidatura com uma<b> declaração oficial emitida pela Instituição de Ensino Superior onde foi concluído o grau académico, da qual conste o grau académico e a respetiva média final ou coeficiente de rendimento, bem como a escala de avaliação utilizada</b>, incluindo ainda referência à classificação mínima a que corresponde a aprovação na escala de classificação final estrangeira. A não comprovação da classificação final do grau académico nos termos acima referidos determina a atribuição da classificação final de 10 valores (na escala nacional entre 0 e 20 valores). </i></li><ul><li>Traduzindo: Diploma e Histórico Escolar. E lembra da declaração que mencionei acima? Essa declaração mesma.</li></ul><li><i>Para habilitações obtidas no estrangeiro, à exceção de documentos emitidos por Instituições de Ensino Superior de países da União Europeia, os documentos devem ser autenticados pela autoridade diplomática ou consular portuguesa no local ou <b>legalizados pelo sistema de Apostila nos termos da Convenção de Haia</b>. O mesmo deve acontecer relativamente às traduções de documentos cuja língua original não seja espanhola, francesa ou inglesa (obrigatória a tradução para uma destas línguas). </i></li><ul><li><b>Realizar o apostilamento de Haia em todos os itens da exigência acima.<br /></b></li></ul><li><i>Curriculum Vitae detalhado. </i></li><ul><li>Faça um currículo incluindo tudo que fez na sua vida profissional e educacional, se tiver relação com a área a que se candidata. Se seu trabalho de conclusão de curso foi apresentado em algum congresso é aqui que seu currículo Lattes vai começar a brilhar. Grave em pdf.<i> <br /></i></li></ul><li><i>Documento comprovativo da situação profissional, quando aplicável. </i></li><ul><li>Já trabalha ou tem referências profissionais? Peça para seu chefe redigir uma carta de recomendação elencando suas qualidades profissionais. Essa carta será importante no futuro. Se teve boa relação com seus professores na faculdade é hora de pedir uma carta de recomendação também, preferencialmente no papel timbrado da instituição. Digitalize os documentos e mande o pdf no formulário de inscrição. <i> <br /></i></li></ul><li><i>Carta de autoapresentação com indicação das motivações de candidatura e os interesses e expetativas quanto à realização do mestrado. Deve ainda indicar o Ramo e Área de Especialização (quando aplicável) a que se candidata (não deverá ultrapassar a extensão de uma página)</i></li><ul><li>Sempre se perguntou para que serviriam as redações da escola? Eis a resposta. É hora de contar um resumo sua história profissional e acadêmica compiladas em apenas uma página. Coloque o que tem de mais relevante.</li></ul></ul><p style="text-align: justify;">Não hesite em obter essa documentação e não deixe pra depois, porque as vezes não terá um.</p><p style="text-align: justify;">Eu não tive essa visão da necessidade e coloquei toda a documentação que eu tinha comigo, ou ao menos achei que tinha colocado. Na primeira fase pequei nos seguintes itens:</p><ul style="text-align: justify;"><li>Apostilar a documentação (simplesmente escaneei e mandei);</li><li>Não providenciei o documento emitido pela instituição de ensino informado escala de avaliação.</li></ul><p style="text-align: justify;">O resultado não podia ser outro: <br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfcIx8y24Dj-aUHTCvruQIgTqFuWFWvRPThbTlKh-QjCStQbnAiVYHJr1pjqsr-H4AYi2zHI_O1qP6LBALVK_JoiUjEygPw1zogzdZKvsaWkkjsNnI_tdBOzMKHqAUgg7ohRhJ/s1010/Clipboard02.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="861" data-original-width="1010" height="273" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfcIx8y24Dj-aUHTCvruQIgTqFuWFWvRPThbTlKh-QjCStQbnAiVYHJr1pjqsr-H4AYi2zHI_O1qP6LBALVK_JoiUjEygPw1zogzdZKvsaWkkjsNnI_tdBOzMKHqAUgg7ohRhJ/s320/Clipboard02.jpg" width="320" /></a></div><br /></div><div style="text-align: justify;">Exatamente, fui reprovado.</div><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;">Chorei, me desesperei e quase desisti, aí fui me informar do motivo da reprovação e descobri que a documentação reduzira meu placar. Resolvi todos os problemas, importunei minha universidade para conseguir a declaração em plena pandemia e a tempo de me inscrever para a segunda fase estava com todos os documentos apostilados e com a declaração oficial também apostilada.</p><p style="text-align: justify;">Paguei nova taxa de inscrição e me candidatei novamente.</p><p style="text-align: justify;">Era agora ou nunca.</p><p style="text-align: justify;">Foi agora.<br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3vAxjyBf4SDvE4QYr-mYRMsENalkyTnv83QOgD5zNZZAprzvLzXKMSqUTM0j0yj_9AdAM_1yIIF5XHS9bs-Jqcz_3ahpp7VS_2nl6nARc2vnPYVmzRxcxvEM6AlKYUbETTnBY/s1334/Clipboard03.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="775" data-original-width="1334" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3vAxjyBf4SDvE4QYr-mYRMsENalkyTnv83QOgD5zNZZAprzvLzXKMSqUTM0j0yj_9AdAM_1yIIF5XHS9bs-Jqcz_3ahpp7VS_2nl6nARc2vnPYVmzRxcxvEM6AlKYUbETTnBY/s320/Clipboard03.jpg" width="320" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Não só fui aprovado como tive uma excelente nota considerando que meu diploma não é exatamente da área de Ciências da Comunicação o que me colocou entre os alunos estrangeiros como o melhor colocado - não que signifique para algo além de alimentar o ego.</p><p style="text-align: justify;">Dias depois do resultado publicado recebi as instruções de matrícula, com um novo login e senha agora de aluno da Universidade do Minho e paguei a minha primeira taxa da faculdade.</p><p style="text-align: justify;">A famigerada taxa de matrícula no valor de 126 euros.</p><p style="text-align: justify;">Mas era isso. Aprovado e matriculado.</p><p style="text-align: justify;">Agora só precisava partir para a próxima luta:</p><p style="text-align: center;"><b>Enfrentar a burocracia para obtenção do visto</b><br /></p><p></p><p style="text-align: justify;">Mas isso fica para outro dia, até porque essa batalha ainda está acontecendo...<br /></p><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;"></div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-4800649223746094902021-10-17T23:54:00.005-03:002021-10-23T18:47:07.544-03:00Quem quer pão? Vamos comer uma foca...ccia?<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizgfDCFVOGtz0ZJnEjmjLo8iyDit2na61aElPzm2bi4AlmmIs9njFxfuyu0sURnK8kacgN0ntplzUZp08ctDICpMfn2BXgz4Sgw_c6lriHYQ0MQvTJpPsrrbTqc3rcBY79-qWR/s1600/1634527487802244-0.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizgfDCFVOGtz0ZJnEjmjLo8iyDit2na61aElPzm2bi4AlmmIs9njFxfuyu0sURnK8kacgN0ntplzUZp08ctDICpMfn2BXgz4Sgw_c6lriHYQ0MQvTJpPsrrbTqc3rcBY79-qWR/s1600/1634527487802244-0.png" width="400" /></a> </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Bora fazer pão?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nessa pandemia fui contaminado pela pãodemia e acabei me dedicando a preparos com pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já fiz pão francês, pão de leite, pão de hambúrguer, pão de cachorro quente, pão sírio, pão árabe e até panetone.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hoje estava entediado em casa e sozinho, decidi fazer pão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">Bora fazer uma focaccia?</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span><a name='more'></a></span>Um pão fácil de fazer porque não tem sova, pelo menos não a que estamos acostumados a fazer (eu não, eu uso batedeira porque prefiro socar pessERRRRROR).<br /></div><span><a name="more"></a></span></div><div><div>Primeiro e o principal de tudo é ler bem a receita, que colocarei
ingredientes e o passo a passo no final.</div><div> </div><div>(receita essa que peguei de outro site, aqui é basicamente o meu resumo e os ingredientes no final, cada um que lute pra aprender - se conseguir aprender por aqui PARABÉNS).</div><div><br /></div><div>Sempre, em qualquer preparo que fizer, leia a receita.</div><div><br /></div><div>Veja vídeos se existirem, mas mesmo assim <b>ler é fundamental</b>.</div><div><br /></div><div>Lendo você vai, pra começo de conversa, saber o que precisa separar pra se organizar. Desde ingredientes até utensílios (e provavelmente um adulto responsável, como verá durante o processo).</div><div><br /></div></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhNayPVu2YZJc0nEwNq2lEaxBhtPjT9hg0-t0CI8D8KzUUrT9SkOc_70aCWom0ymdVHsTa-z-QmR6MfjmoSJMdAQBTXpds6ZwuhKtnHgyPT9-P-uh9ElFvIKhby0Nv0Yj7HdjL/s1600/1634520948873679-0.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhNayPVu2YZJc0nEwNq2lEaxBhtPjT9hg0-t0CI8D8KzUUrT9SkOc_70aCWom0ymdVHsTa-z-QmR6MfjmoSJMdAQBTXpds6ZwuhKtnHgyPT9-P-uh9ElFvIKhby0Nv0Yj7HdjL/s1600/1634520948873679-0.png" width="400" />
</a>
</div><br /></div><div>Na foto acima registrei o começo dos trabalhos, quando decidi que além de fazer pão também postaria aqui fazendo o pão. </div><div> </div><div>Ali está a receita, uma tigela vermelha com a esponja e o pote da batedeira de metal onde coloquei a farinha de trigo, a água, o azeite e o sal. </div><div> </div><div>Depois da foto misturei tudo com uma colher de pau até virar uma espécie de mingau de farinha bem feio e nojento. Ali atrás tem a balancinha velha companheira de guerra que é fundamental em qualquer receita porque panificação é que nem confeitaria: medidas exatas.</div><div><br /></div><div>Xícara, colher, etc é tudo muito legal no programa de culinária onde usam aqueles potinhos e apetrechos caros que nem o rim que as pessoas já venderam pra comprar celular. Com a balança você mede tudo e pode usar qualquer outro tipo de suporte da cozinha, de prato a até seu irmão ou filho mais novo se ele couber na balança e não deixar nada cair no chão.<br /></div><div><br /></div><br /><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div><br /></div><div>Aqui em cima, com direito a pack do pezinho e minha bancada velha de guerra, vemos a massa da focaccia já misturada. Como pode ver é um troço feio demais (falo da massa, não do meu pé).<br /></div><div><br /></div><div>Nesse momento a gente deixa descansar um pouco, cerca de 5min. Mas lembra de colocar um pano de prato úmido em cima pra não ressecar a massa. E eu meço esse tempo no relógio.</div><div><br /></div><div>Passado esse tempo, vai fazer a dobra. A massa parece um troço gosmento (e tem que parecer). Você separa um potinho com água pra encharcar as mãos e a dobra.</div><div><br /></div><div>A primeira dobra será é um movimento em que você enfia os dedos molhados por debaixo da massa pra soltar da tigela, puxa ela pra cima e deixa de volta na tigela (a massa parece um U se fechando quando isso acontece).</div><div><br /></div><div>Gira a tigela com a massa com meia volta (tipo colocar o ponteiro do relógio do vovô de 12am para 3am) e repete o movimento com a massa nessa outra posição. Aí coloca pra repousar de novo.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div><br /></div><div>Com mais pack do pezinho, agora é a massa depois da primeira dobra. Repete a dobra inicial, tentando fazer mais giros com a tigela, uns 4 pelo menos.</div><div><br /></div><div>Vai fazendo isso até ficar fácil soltar a massa.</div><div><br /></div><div>São pelo menos 4 vezes fazendo isso. É até terapêutico, aproveitei os intervalos pra fazer o post aqui.</div><div><br /></div><div>Dando tudo certo você terá uma massa firme e solta.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div><br /></div><div>Olha como vai ficando cada vez mais lisinha? Parece até bundinha de Paol...nenê. E vai perceber que não agarra mais na tigela, só nos seus dedos se esquecer de colocar água na mão sempre que for realizar a dobra. E repare que a massa vai soltando quase toda da tigela.<br /></div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div><br /></div><div>Ela começou a querer entrar no ponto de véu, ainda rasga, mas está ótima. Aí o quê fazer quando parar de dobrar?</div><div><br /></div><div>Deixa descansar pra fermentar bem a massa.</div><div><br /></div><div>Cobre com o mesmo pano de prato úmido e tendo um micro-ondas em casa, e se couber, coloque a tigela ali. É um ambiente bem isolado do clima exterior e escuro o suficiente (além de ser uma alternativa ao uso do forno pra isso, porque em algum momento vai precisar preaquecer o forno e não pode desabrigar a massa).<br /></div><div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div></div><div><br /></div><div>Meu forno micro-ondas, por exemplo, é pequenininho, mas com cuspe e com jeito consegui colocar pra descansar.</div><div><br /></div><div>Deixar ali a massa dormindo por 1h mais ou menos.</div><div><br /></div><div>Mas tem um macete pra dias frios ou pra ajudar a demorar um pouco menos se você for impaciente.</div><div><br /></div><div>Pegue uma caneca, esquente água nela por menos de um minuto. E deixe a caneca junto com a tigela. Só não seja bobo e crie uma armadilha pra caneca voar quando abrir, se não couber ou não tiver confiança não faça. Ou faça com a supervisão de um adulto.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div></div><div><br /></div><div>Agora a massa vai descansar em paz.</div><div><br /></div><div>Programe o seu celular pra tocar em 45min.</div><div><br /></div><div>Motivo? Pré aquecer o forno. Entre 30min a 1h com 45min tem como checar como a massa está, provavelmente cresceu, aí você liga seu forno.</div><div><br /></div><div>Coloque na temperatura entre 200º ou 250°, porque DEPENDE do seu fogão. Tem forno que acumula mais ou menos calor, pode estar furado, arrebentado, receber gás enganado, gás encanado, gás de botijão, gás de peidErrrror... Enfim, cada um conhece o seu.</div><div><br /></div><div>Se não conhece, peça a supervisão de um adulto. Provavelmente o adulto que usa o forno enquanto você está na internet lendo meu blog pensando em como fazer a focaccia.</div><div><br /></div><div>Passou esse tempo e ligou o forno?</div><div><br /></div><div>Ótimo, está quase lá (aonde não sei, nunca saberemos).</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div><br /></div><div>Olha só, deliciosamente enorme.</div><div><br /></div><div>Pegue uma forma quadrada (a grande) e besunte de azeite. Não seja exagerado e não seja econômico. Mas besunte. Pegue a massa que está na maior tranquilidade e jogue na forma.</div><div><br /></div><div>Com as mãos molhadas pegue a massa, coloque ma forma e tal como dedilha piano vá dando forma a massa na forma, deixando quadrada e com uma espessura de 1cm a 2cm.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div><br /></div><div>Feito isso, meta a massa no forNEM PENSAR.</div><div><br /></div><div>Pegue o mato que separou da receita (tipo aquele alecrim dourado que cresceu no campo sem ser semeado), um pouco de sal grosso a gosto (ou desgosto), regue com mais azeite e agora sim.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div><br /></div><div>Coloca essa quase delícia no forno. Se gosta de massa crua com certeza pegou um pedaço e gostei, ops, gostou.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div><br /></div><div>Agora deixa no forno quentinho, quentinho nem o lugar para onde vamoERRRRRROR.</div><div><br /></div><div>Com 10min aparentemente começou a dourar, você abre o forno e com todo cuidado pra não se queimar gira a bandeja. </div><div><br /></div><div>Com mais 10min está pronta.<br /></div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div><br /></div><div>Aqui já estava na metade do processo. E o cheirinho estava delicioso.</div><div><br /></div><div>Quando estiver dourada retire a focaccia da forma CUIDADOSAMENTE PRA NÃO SE QUEIMAR e coloque em outra forma fria pra ajudar a diminuir a temperatura.</div><div><br /></div><div><i>Dica pra vida, se distraidamente usar o pano que você encharcou ou umedeceu pra pegar a forma no forno provavelmente a cozinha vai precisar de um novo Jimmy e você de uns dias com as mãos enfaixadas depois de uma visita no hospital. Além de estragar o pão e emporcalhar a cozinha.</i></div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div><br /></div><div>Parece deliciosa e com a base crocante, entretanto espere esfriar, até porque esfriar faz parte do processo, ou vai queimar a boca dolorosamente. Mas se mesmo assim quiser ignorar o conselho e fizer: filme e poste na rede social mais perto de você.</div><div><br /></div><div>Eu adoro focaccia com sopa, porque é um pão firme.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div><br /></div><div>Torno a dizer, passe direito o azeite embaixo. Eu não fiz isso e não li meu próprio aviso. Por causa disso essa focaccia da foto quase se transformou em uma focaccia desconstruída do MasterChef Brasil.</div><div><br /></div><div>Mas se quiser comer pura a foccacia é sua e ninguém tem nada a ver com isso, pode até assar em formato de disco e arremessar em algum parente ou vizinho, só não recomendo... Exceto se você cozinhou com a supervisão de um adulto, aí tem que dividir.</div><div><br /></div><div>Tem quem goste pura, com Nutella, com maconERRRROR e até tem quem erre o ponto da massa porque não teve a já mais do que mencionada supervisão de um adulto e ficou com algo molenga ou verdadeiramente um escudo do Capitão América em Guerra Infinita.</div><div><br /></div><div>Mas e então, como ficou a sua?</div><div> </div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizgfDCFVOGtz0ZJnEjmjLo8iyDit2na61aElPzm2bi4AlmmIs9njFxfuyu0sURnK8kacgN0ntplzUZp08ctDICpMfn2BXgz4Sgw_c6lriHYQ0MQvTJpPsrrbTqc3rcBY79-qWR/s1600/1634527487802244-0.png" width="400" />
</a>
</div><br /></div><div>A minha ficou uma DELÍCIA.</div><div><br /></div><div>Agora os ingredientes.</div><div> </div><div style="text-align: center;"><b>Focaccia</b> <br /></div><div> </div><div> <b>Esponja</b><br />100 g (¾ xícaras) de farinha de trigo<br />100 g (½ xícara) de água<br />5 g (½ sachê) de fermento biológico seco.</div><div></div><div></div><div></div><div> </div><div>A esponja é basicamente misturar tudo isso num pote a parte e esperar meia hora. Nesse meio tempo você vai arrumando a cozinha e os demais ingredientes pra agilizar. Ou não, vai no modo caótico mesmo e seja o que sua divindade quiser.<br /><b><br />Massa final</b><br />205 g de esponja<br />400 g (3 ⅓ xícaras) de farinha de trigo<br />280 g (1 ⅓ xícara) de água<br />20 g (2 colheres de sopa) de azeite de oliva<br />10 g (½ colher de sopa) de sal de cozinha</div><div></div><div></div><div> </div><div>Falei como faz aí em cima, né?<br /><br /><b>Cobertura</b><br />4 a 6 ramos de alecrim fresco<br />Sal grosso para polvilhar sobre a focaccia<br />Azeite a gosto para untar e cobrir a superfície</div><div> </div><div>Pode usar o que quiser, é só sugestão mesmo. Fica bem com manjericão e tomate cereja. <br /></div><div> </div><div> <br /></div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-65995002966270614522021-10-17T02:16:00.007-03:002021-10-23T18:49:14.803-03:00Um novo tempo vem aí!<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMj_SjmMwi14atWqHZWH1jhwthPHaa3tUHP_QOScY7_QmcnQySuS1ETcNl5476bW1frXWS1XrDa8XU6MB6C8zIjSGVtJoHtDyvIBtPL1jdgZZhZ41-y-v55jbS-EiZTHeBXqBl/s273/diploma.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="273" data-original-width="273" height="273" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMj_SjmMwi14atWqHZWH1jhwthPHaa3tUHP_QOScY7_QmcnQySuS1ETcNl5476bW1frXWS1XrDa8XU6MB6C8zIjSGVtJoHtDyvIBtPL1jdgZZhZ41-y-v55jbS-EiZTHeBXqBl/s0/diploma.jpg" width="273" /></a></div><div style="text-align: justify;">Dando prosseguimento a reformulação do Pensamentos Equivocados fiz uma enorme limpeza no portal.</div><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;">Contos de minha autoria continuaram, postagens que não representam mais minha visão de mundo não produzem outro efeito senão me lembrar de que evoluí, não as apaguei, apenas as converti em um modo que apenas possa acessá-las sem interferir com o conteúdo. <br /></p><p style="text-align: justify;">O visual voltei ao básico, até porque o visual antigo estava de certa forma defasado e muito pesado, melhor um visual básico que priorize aquilo que tem de melhor.</p><p style="text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;">Para essa nova fase começarei a atualizar pelo menos uma vez por semana, preferencialmente as sextas, com informações sobre o andamento de meu processo de visto e um pouco de como foi meu processo de seleção no mestrado além de informações sobre minhas pesquisas e adaptação a Portugal, considerando, obviamente que tudo aconteça conforme esperado e até o início do ano que vem esteja de malas prontas para mudar fisicamente e, porque não, internamente.</p><p style="text-align: justify;">Se minha criatividade colaborar espero também colocar aos poucos contos e histórias novas aqui. <br /></p><p style="text-align: justify;"> Nos vemos na semana que vem!</p><br /><br /><p></p>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-18035442538923713292012-12-07T10:53:00.005-02:002021-10-16T18:09:22.724-03:00Carlos Boneca<div>Era normal.<br /> <br /> Todo dia pela manhã bem cedo se levantava e
comprava seu jornal. Dava bom dia ao jornaleiro, ria de alguma piada
sobre futebol. Seguia sua rotina voltando para casa passando pela
padaria. Como no jornaleiro, dava bom dia a todos os funcionários,
comprava seus pães, presunto e queijo (sempre prato, nunca muçarela).<br /> <br />
Por volta das nove horas da manhã pegava sua bicicleta e descia pela
Teodoro Sampaio até a Brigadeiro Faria Lima em direção ao trabalho, uma
das muitas agências de publicidade de São Paulo. Era redator, ao menos
era isso que os vizinhos sabiam. Trabalhava até as dezoito horas, quando
voltava para casa.<br /> <br /> Por sinal, morava em uma pequena vila,
daquelas que ainda sobrevivem a especulação imobiáliaria e habitada em
sua maioria por imigrantes italianos ou seus descendentes. Gente idosa
em sua maioria. Carlos não era nem uma coisa nem outra.<br /> <br /> A noite
as luzes da casa se acendiam. Mas sem nenhum som. Apenas o brilho
inconstante da televisão. Uma vez escutaram o som aumentar e diminuir
repentinamente, em seguida Carlos saiu de casa e voltou horas depois com
um novo fone de ouvido sem fio como viram os vizinhos.<br /> <br /> Tudo era normal.<br /> </div><p><br /></p><span><a name='more'></a></span><p><br />
Até dezembro de 2011. Um dia Carlos saiu a noite, voltou na madrugada.
No dia seguinte idem. As pessoas imaginaram que tivesse namorando, pois
todos os dias ele voltava com uma menina no veículo. Mas as pessoas não
sabiam.<br /> <br /> Em janeiro de 2011 surgiram as primeiras notícias nos
jornais. Mulheres desapareciam pela noite paulista. Primeiro eram
prostitutas, depois pessoas normais. Não tardou e vizinhos começaram a
associar os estranhos hábitos de Carlos com o possível assassino.<br /> <br />
O que era burburinho tornou-se medo. Carlos continuava com seu hábito
noturno, e agora os vizinhos monitoravam esse hábito. Até que em maio de
2011 ocorreu o primeiro assassinato misterioso na região.<br /> <br />
Carlos foi denunciado. A polícia civil invadiu sua casa e não encontrou
qualquer evidência de crime, nenhuma mulher viva ou morta. Mas
encontraram algo, algo que mudou tudo.<br /> <br /> Uma coleção de bonecas
infláveis. Enorme. Mas não aquelas do tipo comum, mas tão fiéis ao corpo
feminino que assemelhavam-se a mulheres de verdade, com cabelos reais. E
Carlos admitiu que sentia-se tão só que levava as bonecas infláveis no
carro durante a noite e voltava com elas infladas apenas para evitar
julgamentos dos vizinhos sobre sua virilidade.<br /> <br /> Carlos, de excêntrico para assassino e no final uma pessoa depressiva. Ganhou o apelido de Carlos Boneca.<br /> <br /> A polícia pede desculpas e parte.<br /> <br />
Carlos acena para os vizinhos e volta para sua casa. Para sua vida.
Abre o armário onde guarda suas bonecas, com um portão escondido no
fundo que leva para um porão escondido em sua residência. Onde toda
noite levava suas vítimas, mulheres solitárias ou sofridas como ele, e
as libertava do sofrimento, da agonia. <br /> <br /> Em homenagem a elas, arrancava-lhes o cabelo e as imortalizava na forma de bonecas infláveis.<br /> <br /> Esse era Carlos Boneca.<br /> <br /> Um cara normal.</p><div style="text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPhZriX9lqG-t3k7rGcPcR9BWREPnaCLxK_Nqjhd5j-B7xPNcCME9UIWsHJakxQBORiJBEWVO1F42YocK_VJOsKejoATm1DK5a9DLK_ZCNjhpWwLfDFKBxiB9R88aTmSwRuM7R/s320/boneca.jpg" /></a><br /></div><div>
<br />
<br />
</div><span><!--more--></span>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-59308545414747653902012-11-24T17:04:00.001-02:002021-10-16T18:10:11.467-03:00A Fã<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijyjvQItxb3YLGWUC3ZsHC194KsIP_mKm6ty9hhlcEJTCzLBYHmop-0UrFi0lfjukC1ECPIMcG6g_PDM1HfeNT3yBG3J6KV-zJ83Z_IeYqQB5gEtRsqf7YjvFYFCuoKNJvRN_I/s1600/noite.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijyjvQItxb3YLGWUC3ZsHC194KsIP_mKm6ty9hhlcEJTCzLBYHmop-0UrFi0lfjukC1ECPIMcG6g_PDM1HfeNT3yBG3J6KV-zJ83Z_IeYqQB5gEtRsqf7YjvFYFCuoKNJvRN_I/s320/noite.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Ana Clara adorava livros de vampiro. Desde os quinze anos, quando assistira pela primeira vez nos cinemas a segunda parte de Crepúsculo ela tinha certeza que nascera para ser uma nova Bella Swan. <br />
<br />
Tinha todos os livros lançados em português, com e sem as capas do filme, canetas, cadernos, capas para celular, enfim, se algo tinha a foto de Bella ou do vampiro Edward ela implorava a seus pais para comprarem.<br />
- Mas e daquele lobisomem, o Jacó? – Perguntava a mãe na papelaria, uma pergunta que sempre fazia.<br />
- Jacob, mãe.<br />
- Isso, isso... Caderno dele não pode?<br />
- Jacob não é vampiro, é lobisomem e fedem como cachorro.<br />
</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"></div><span><a name='more'></a></span><div style="text-align: justify;"><br />
Seus amigos mais próximos, homens principalmente, inicialmente caçoavam de Ana Clara. Caçoavam a história de romance entre vampiro e humana rotulando quando não de afeminada demais, no mínimo como fraca. Ana Clara era superior a todos e não se deixava abalar.<br />
<br />
Os anos passaram e com eles a paixão ao invés de diminuir, amadureceu. Enquanto pessoas normais com o passar dos anos diminuem o culto a suas celebridades, ou substituem por outra, Ana Clara manteve-se fiel a saga. Finalmente a saga acaba em 2012, quando Ana Clara no início de seus 18 anos.<br />
<br />
Sentindo-se órfã, Ana Clara busca outros livros e aventuras de vampiros, mas nenhum deles parece saciar seu apetite pelo amor platônico que adquirira com o belo vampiro Edward. Eram demasiadamente velhos como o Drácula de Bram Stocker, complexos e demasiadamente reais em Vampiro a Máscara, ou cruéis e sádicos como os de Anne Rice.<br />
<br />
Por fim seu corpo aquietou-se e dedicou-se aos estudos. Como gostava de ler, prestou vestibular para biblioteconomia na Universidade Federal Fluminense. No segundo período ficou encantada com os belos olhos marrom claro de Roberto Mendonça, professor de história do registro no turno da noite.<br />
<br />
Roberto Mendonça tinha o corpo malhado, cabelos negros lisos, pele morena de sol e a uma barba bem cuidada, fisionomia que lembrava os tempos áureos de Fábio Júnior. Ele era viciado em história medieval, e sempre que podia trazia para as aulas elementos que permitiam ao aluno praticamente imergir na aula. Mas as meninas, principalmente Ana Clara, estavam flutuando em outros pensamentos.<br />
- ...Eu sempre defendo que não existe leitura ruim, o que existe é leitura e não leitura. Por exemplo, aquele livro que foi moda anos atrás, Crepúsculo.<br />
- Não vai criticar não. – Já pragueja Ana Clara, voltando a realidade invocada pelo termo favorito.<br />
- Nem de longe, acredito que muitos só estejam fazendo esse curso porque esse livro despertou de alguma forma o interesse em leitura em alguns de vocês, como J. K. Rowling, Agatha Christie, Tolkien, Charles Dickens, Gregório de Mattos, e tantos outros autores populares fizeram em suas respectivas fases e épocas. Esse interesse pela leitura, levou ao amor pelo livros, pela leitura, que vejo como o sangue de nós, atuais e futuros bibliotecários.<br />
- Verdade. – Concorda Ana Clara, voltando a reparar no professor.<br />
<br />
Ana Clara, com reforçadas segundas intenções, passou a se aproximar da mesa do professor. Colocou em prática as táticas de conquista que aprendera nos livros de Crepúsculo. Com o passar das aulas se enturmara mais e mais com o professor. Ficava para depois da aula e o ajudava a levar o material até o carro, até que um dia o que parecia impossível aconteceu.<br />
- Sabe professor, eu adoro suas aulas. É muito bom. Pena <br />
- Que bom Ana Clara. – Falou Roberto, abrindo o carro, um Vectra.<br />
- Bem, vou para casa, beijo.<br />
- Ana Clara? – Roberto estica a mão e toca os dedos de Ana Clara, que sente um calafrio percorrer a espinha.<br />
- Sim, prof.?<br />
- Não quer uma carona para casa?<br />
<br />
Ana aceita a carona. Senta-se no carona e ambos partem. Conversa vai e vem, por fim o carro atravessa a ponte Rio-Niterói e segue direto para o apartamento do professor no bairro do Flamengo. Transam a noite inteira.<br />
<br />
No dia seguinte ao acordar Ana não encontra os braços de Roberto. O professor desaparecera, deixando apenas sobre o criado mudo um café da manhã farto e um recado escrito “a noite foi ótima. Precisei resolver um problema, quando sair bata a porta. R.”. A moça sente um incomodo na virilha e vai ao banheiro. Próxima a sua intimidade tem o que parecem ser duas feridas causadas por algum pelo encravado. Uma distante dois dedos da outra. <br />
<br />
“Nossa, ainda bem que fizemos tudo no escuro.”, pensa enquanto prepara-se para tomar banho. Depois do banho toma do café da manhã e vai até a janela. Nota que as cortinas têm quatro camadas de blecaute além do forro e dos babados, ao fechá-las percebe o quarto mais escuro que a noite. E algo mais. <br />
<br />
Atrás de uma penteadeira um pequeno facho de luz azul surge por uma fresta. Curiosa Ana vai até essa fresta e tateia. Encontra um quadro na parede com uma caricatura do professor ao lado de Santos Dumont. Tenta tirar o quadro e escuta um sonoro clique. A parede atrás do quadro recua, revelando um quarto secreto.<br />
<br />
A parede desse quadro é repleta de diversos quadros com a figura de Roberto sempre posando ao lado de algumas celebridades históricas, ela identifica entre elas figuras como Dom Pedro II, Antonio Conselheiro e Machado de Assis. E no centro do quarto, um bloco de granito coberto de hieróglifos.<br />
<br />
Toca o bloco e percebe que o tampo se arrasta com facilidade, em um mecanismo muito bem conservado que permite abri-lo. Dentro dele repousa Roberto Mendonça, com o rosto estático como o de um cadáver. <br />
<br />
Pessoas normais correriam desesperadas, mas Ana Clara vê em Roberto Mendonça muito mais. Ela vê Edward. Anos de leitura de vampiros, anos de dedicação ao tema, anos de sonho. E ela agora fora premiada. Toca as duas marcas na virilha e lembra-se finalmente da noite anterior, do enorme prazer que sentira. E senta no chão, ansiosa e repleta de felicidade.<br />
<br />
Na mesma noite Roberto volta a faculdade e leciona normalmente. Ana Clara nunca mais seria vista no curso.<br />
<br />
Semanas depois encontram seu corpo em avançado estado de decomposição boiando na praia de Icaraí. <br />
<br />
Roberto lambeu os beiços quando leu as notícias do caso na internet.<br />
<br />
Quem mandou acreditar em vampiros bonzinhos?</div>
Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-53291718911411793732011-01-06T14:12:00.006-02:002021-10-16T18:12:28.960-03:00Cuma?<p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOsRNAFuk_jEn_p7SyAAWk2OAPiyacZNwlBMvsL0uo_Ley1cpxaK6FX_HpyATe1BWNQXk10UYwUIthS0ellMdnkfrXpsi1bha9L-iIBXYgfoYXiTaZ9Rju5my7cCCYSZvLVren/s1600/Poodle.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5559110481972918194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOsRNAFuk_jEn_p7SyAAWk2OAPiyacZNwlBMvsL0uo_Ley1cpxaK6FX_HpyATe1BWNQXk10UYwUIthS0ellMdnkfrXpsi1bha9L-iIBXYgfoYXiTaZ9Rju5my7cCCYSZvLVren/s320/Poodle.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 302px;" /></a>
- Vamos, você consegue.
Os olhos reviraram e procuraram uma saída. Não havia. Atrás dele cinco pessoas fortes, daquelas que o bíceps de um deles era seu torax. Do outro um pequeno muro, uma plaquinha simpática com a foto de um cachorro nadando em uma piscina de sangue.</p><p> <span></span></p><a name='more'></a><p></p><div style="text-align: center;">"REZE A EXTREMA UNÇÃO AO ENTRAR" </div><div style="text-align: center;"> </div><p style="text-align: justify;">
Por sorte suas calças eram escuras, se fossem claras o circulo negro estaria visível a todos. "Porque aceitei?", imaginava quando pensava que sempre via esses caras jogando futebol e justo naquele dia teve coragem de pedir pra jogar com eles.<br />- Anda, você chutou a bola aqui. Você pega. <br />- Falava outro dos brutamontes.<br />- Mas... <br />- Deixa de ser covarde, anda logo! </p><p style="text-align: justify;">Um empurrão e ele quase não precisa pular o muro. Por sorte, ou azar. Pernas tremem.
- Olha, ele se mijou!
Pronto. A última dignidade que ele possuía estava escorrendo pelas calças e fazendo uma poça dourada no chão. Era preciso recuperá-la.</p><p style="text-align: justify;"> E voltou com a bola. Inteiro e sorridente. </p><p style="text-align: justify;">Os cinco não entenderam. </p><p style="text-align: justify;">Precisavam checar. </p><p style="text-align: justify;">De dentro do jardim um pequeno poodle encarava dois enormes e ameaçadores pitbulls. Seus olhos sedentos por sangue e baba faminta escorria por suas bocas enquanto viam cinco enormes nacos de carne pularem o muro. </p><p style="text-align: justify;">Foi um plano perfeito. </p><p style="text-align: justify;">Quem reparasse notaria um largo sorriso no pequeno poodle.</p>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-20428101151768654202010-11-11T00:42:00.007-02:002021-10-17T12:01:10.939-03:00Apenas um cafézinho.<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4O5G0YCgSRPVhfyZwQB7Pw0HUbTfZoqDbTzeuBvDptVxG-z87P1r2zf2LiHRAg-L2qASp7zoobnf2MBWRBBL_PPaP9DLOjsx1eEejDyB2qG-mCV1ppi3g5QBJrdfUYzJ9nF09/s1600/cafe.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5538121133076381778" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4O5G0YCgSRPVhfyZwQB7Pw0HUbTfZoqDbTzeuBvDptVxG-z87P1r2zf2LiHRAg-L2qASp7zoobnf2MBWRBBL_PPaP9DLOjsx1eEejDyB2qG-mCV1ppi3g5QBJrdfUYzJ9nF09/s320/cafe.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 212px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a>Olhou para o copo de café sobre a mesa.<br /><br />Não
conseguia tocá-lo. Seu corpo implorava por aquelas gotas de energia e
em algum lugar tenebroso em sua mente o café parecia transmutar-se em
uma lata de espinafre e a voz de Olívia Palito ecoava em sua mente
pedindo socorro.<br /><br />Não queria tomar o café. Não era certo em sua
mente que toda sua produtividade naquele dia oneroso de trabalho estive
ligada intimamente àquele coquetel de cafeína proveniente da sempre
amiga cafeteira automática. Aliás, olhava para a máquina de café
colocada estrategicamente a dez passos de sua mesa e se indagava quando
ela chegara.<br /> <span></span></p><a name='more'></a><p></p><p>Naqueles tempos árduos a máquina de café tinha uma
participação em sua vida maior que sua própria cama. Conseguia perder a
conta de quantos copos tomara, mas sabia exatamente quantas horas
dormira. Uma proporção inversa de sono e litros. Tão pouco dormia que as
mãos de quatro dedos do Popeye conseguiriam contar em uma apenas. E
sobrariam dedos.<br /><br />Popeye. Café. Espinafre. Forças.<br /><br />Voltara a
pensar no Popeye. Seu lábio sentia o cachimbo do velho marinheiro e o
copo do café estava mais verde do que nunca. Tinha que se manter forte,
resistir. Ele era mais forte que o café. Era.<br /><br />Sempre mais forte.<br /><br />Sempre.<br /><br />Sempre bebendo café.<br /><br />Café era vida e morte, severina e matutina. Mais que tudo, mais que si próprio. E menos. E...<br /><br />Opa!<br /><br />Que
tolice invadira sua mente? Onde imaginara que cederia? É o décimo
primeiro mandamento: café antes do cigarro. Se deixasse de tomar café,
deixaria de fumar. "Já não trepo por causa do trabalho, se largo o vício
para que vivo?", questiona-se em voz tão alta que alguém duas baias
distante pergunta se é com ele. E é ignorado.<br /><br />Ele reluta, um
pouco de sobriedade sobrepõe-se ao vício. Ele fecha os olhos e respira
fundo. Quando os abre o copo desaparecera. Mágica. E desespero. Apenas
escuta o som de alguém sugando a última gota na baia ao lado.<br /><br />"O que foi? Vi que não queria e eu não ia desperdiçar o último café... A máquina quebrou há pouco. Soube?"<br /><br />O que aconteceu depois?<span></span></p>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-37459097154089792932010-06-30T11:50:00.000-03:002021-10-17T11:51:13.032-03:00Procuro mas não acho, ou acho que procuro.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFMlkfYLUjkFnz1XKGdcGlJInKeZyXqeJPFeZjmfaJ_VEBAoQPjOh7_SIPuMUaZdzq2Nk8mb-jPEBHqJzzViJTmEIu0qU5nxiaf7362DxIIt0vfMiUUZp9aj3iSgWKiZmHIeJ3/s1600-h/PontodeInterroga%C3%A7%C3%A3o.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5444113275242898610" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFMlkfYLUjkFnz1XKGdcGlJInKeZyXqeJPFeZjmfaJ_VEBAoQPjOh7_SIPuMUaZdzq2Nk8mb-jPEBHqJzzViJTmEIu0qU5nxiaf7362DxIIt0vfMiUUZp9aj3iSgWKiZmHIeJ3/s320/PontodeInterroga%C3%A7%C3%A3o.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 304px;" /></a>
<div style="text-align: justify;">Primeiro procurei na meia.
Não estava lá, eu procurei, fucei, sacudi mas não te encontrei. Eu tinha certeza que estava ao lado daquela nota de cem reais que reservo na meia direita e que por ventura coloco na esquerda. Nem em uma nem em outra.
Mas como todo bom brasileiro, se não sou insistente sou também teimoso como uma mula, logo, continuo a te procurar. Minha esposa dorme profundamente, mas mula não tem sentimentos, e a cutuco.
<span><a name='more'></a></span>- Amor.
<br />- O que é? Estou dormindo.
<br />- Você sabe onde coloquei?
<br />- O que?
<br />- Aquilo.
<br />- Aquilo? Mas...
<br />- É, aquilo que perdi faz um tempo...
<br />- Ahhhhh... Aquilo, não sei, tenta ver se está no seu armário. Deixa Zzzzz... eu dormir... Zzzzzz...
<br /><br />Claro, só poderia ser no meu armário.
Mas sabem o significado de caos? É, quem inventou esse termo obviamente foi no meu armário. Blusas, calças, camisas, camisetas, camisinhas, blocos de papel, ferramentas, pelos de gato (quando não os donos dos pelos)... Todos vivendo juntos, amontoados e na mais completa, profunda e estridente desarmonia e predispostos a cair sobre minha cabeça. Sempre que vou ali sinto a revolta de minhas coisas, como se milhares de olhos me encarassem alguns com revolta, muitos com medo.
<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;"><br />- Olha, é o gordo. <br />- Reclama uma cueca.<br /></span><span style="font-style: italic;">- Lá vem ele de novo, dessa vez eu vou cair no pé dele. - Avisa uma chave de fenda.</span> <br /><span style="font-style: italic;">- Lembra do martelo? - Interrompe uma blusa preta que de tão velha está branca.</span> <br /><span style="font-style: italic;">- Lembro.</span> <br /><span style="font-style: italic;">- Ele caiu no pé dele no verão de 1998... </span> <br /><span style="font-style: italic;">- E?</span> <br /><span style="font-style: italic;">- Você o viu mais alguma vez?</span>
</div>
<br />Só uma vez caiu algo em mim dessa minha desorganização. Um martelo. Por sorte não atingi ninguém quando o arremessei de casa. Nunca mais o vi, e espero continuar assim.
Como de se esperar depois de cinco minutos de procura a pilha de coisas bagunçadas do armário se transformou na pilha de coisas bagunçadas do chão, dos móveis e da cama, criando um belo cenário que faria os cavaleiros do apocalipse baterem em casa para perguntar por João.
Ainda assim, mesmo transformando o quarto em armário, nada foi encontrado.
<br />- Opa, uma edição antiga de X-Men que tinha perdido! <br />- Comemoro.
<br />- Amor, não consigo respirar, guarda isso e me salva... Sua camisa de escola está me sufocando!!!!
<br /><br />Recoloco as coisas dentro do armário, em uma nova posição e salvo minha esposa. Quando termino a revista que tinha achado volta pro desconhecido. Penso em procurar novamente, mas tenho a certeza de escutar cliques como os de armas do lado de dentro.
<br />- Melhor fazer isso depois.
<br /><br />
Onde mais procurar?
<br /><br />
No banheiro encontro apenas os quilos que perdi com a dieta. Na cozinha encontro os novos quilos que virão. Na sala apenas o sofá, e embaixo dele também não. Penso no armário da minha esposa, mas tenho medo do que posso encontrar ali ou pior, de ser engolido e transformado em participante do BBB.
<br /><br />É.
<br /><br />Não foi dessa vez.
<br /><br />Desisto, abro o blogger e faço qualquer coisa, menos te encontrar.
<br /><br />
Onde estará você, inspiração?
</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-49650492886441339162010-03-30T10:08:00.004-03:002021-10-16T12:50:20.500-03:00Ocaso do interior. (Tonho)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiusJLF_U2A6CfvUFlKNzROA6G8Dp_Lko7pEC3nbtbqST1glvC-G9DjpgY5uU_X96yQ2ho0QgOAOOWekBIbuyS51NzgFpCGnXl45N0nYnmffAq5xPChBON_PObbjVBeXdh5dciq/s1600/pra%C3%A7a.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiusJLF_U2A6CfvUFlKNzROA6G8Dp_Lko7pEC3nbtbqST1glvC-G9DjpgY5uU_X96yQ2ho0QgOAOOWekBIbuyS51NzgFpCGnXl45N0nYnmffAq5xPChBON_PObbjVBeXdh5dciq/s320/pra%C3%A7a.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5454414519187841218" border="0" /></a><br />Um banco, uma praça e duas senhoras, ambas tricotando casacos.<br /><br />- Sabe o Tonho?<br />- Que Tonho?<br />- O Tonho, filho de Maria, que casou com José, lá da mercearia?<br />- Ah, o Tonho. O que tem o Tonho?<br />- Que Tonho?<br />- O Tonho, filho de Maria, que casou com José, lá da mercearia.<br />- Ah sim, o Tonho.<br />- E então?<br />- O que foi?<br />- Você falou do Tonho, filho de Maria, que casou com José, lá da mercearia.<br />- Ah... Falei?<br />- Falou.<br />- Sabe que esqueci?<br />- Do quê?<br />- Do Tonho?<br />- Que Tonho?<br />- Tonho, filho de Maria, que casou com José, lá da mercearia.<br />- Ah sim, ele se casou.<br />- O Tonho.<br />- Não, José.<br />- José casou com quem?<br />- Tonho.<br />- Tonho ou José?<br />- Os dois, fugiram depois da missa. Foram para a cidade.<br />- Que horror.<br />- Tem linha pra continuar o casaco?<br />- Tenho.<br /><br />Trocam linhas, casacos antes um azul e outro amarelo agora são azul-amarelo e amarelo-azul.<br />- Acho que as crianças vão gostar.<br />- Eu também acho.<br />- Mas do que falávamos?<br />- Tonho?<br />- Que Tonho?<br /><br />E o ciclo recomeça.Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-35756239037473681632009-08-27T11:57:00.000-03:002021-10-16T12:50:11.893-03:00O encontro de dois mundos.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXM_Cp8pP-SUSGmxKW7JibLUOm0T55AjvufWuJcQFzq5reWKc4tdtk3viiWaDBGhIACKCNhht0ZKP6dW5vmIBJB1r2Aerju3j4nbqjJT5RDdqmvr1iEdehnpCIneWyIapJA9iwLg/s1600-h/evolucao.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXM_Cp8pP-SUSGmxKW7JibLUOm0T55AjvufWuJcQFzq5reWKc4tdtk3viiWaDBGhIACKCNhht0ZKP6dW5vmIBJB1r2Aerju3j4nbqjJT5RDdqmvr1iEdehnpCIneWyIapJA9iwLg/s320/evolucao.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5374297640861789426" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">No estúdio estavam os dois. Face a face, corpo a corpo.<br /><br />De um lado, no auge de seus vinte anos, com apenas dois dentes na boca e as roupas velhas doadas por seu senhor feudal. Ele era a Idade Média. Ao seu lado estava sua esposa de quinze anos e na segunda tentativa de gerar um filho, já que o primeiro morrera de tifo. Ele observava com curiosidade o sofá e a textura do tecido, melhor que as acomodações de palha cobertas com couro da casa onde morava.<br /><br />Do outro lado, no âmago de sua forma física um executivo do século XXI, o representante da Idade Contemporânea. Ele vestia um belo terno Giovani, acessava freneticamente seus e-mails corporativos de seu blackbarry e ao seu lado esta sua esposa, com quarenta anos e sem filhos.<br /><br />- Boa tarde senhores. - Diz o cientista, que inventou a máquina que permitia tal situação.<br />- Tarde. - Responde a Idade Média.<br />- Boa tarde, meu senhor. - Diz a Idade Contemporânea.<br />- Hoje vamos apenas conversar, saber o que cada um pensa. Por quem podemos começar?<br />- Deixe o caipira começar. - Disse a Idade Contemporânea.<br />- Bem, vamos então...<br />- Eu sou a idade média. - Explica. - Vivemos muito bem em minha época, apesar de meu primeiro filho ter morrido de tifo...<br />- E o segundo morrerá de que? Peste bubônica? - Provoca a Idade Contemporânea, segurando o riso.<br />- Pelo menos meus porcos não espirram e me matam de medo.<br />- Medo? Com dinheiro eu compro o remédio.<br />- Eu não preciso de remédio, a fé funciona e é de graça. - Comemora a Idade Média, apalpando o bolso. - Aliás, nem de dinheiro preciso.<br />- Tenho carro e você não.<br />- Tenho cavalo. - Responde de imediato. - E não pago IPVA por ele.<br />- Temos saúde, chegamos até os cem anos com facilidade. - Gaba-se a Idade Contemporânea.<br />- Ah sim, apoiados em muletas e bancando filhos sangue-sugas.<br />- Vocês nem chegam aos quarenta.<br />- Pelo menos não temos crise de meia idade.<br />- Vocês pagam tributo ao seu senhor, que em geral é abusivo.<br />- Mas é apenas um tributo. - Diz a Idade Média, dessa vez se gabando. - Você tem mais siglas de impostos do que letras no seu nome, e para piorar, falam que é para saúde, segurança e educação. Não recebem nenhuma das três. E mais, se eu desconfiar de meu senhor posso simplesmente desafiá-lo para uma luta homem a homem e se vencer minha vontade prevalece porque há a lei da espada.<br />- Eu posso entrar na justiça! - Berra a Idade Contemporânea. - Temos advogados e leis claras!<br />- E esperar por anos para descobrir que nada mudou... Aliás, que você está errado e vai ter que pagar por estar certo.<br />- Como se fosse fácil brigar com seu senhor.<br />- Mais fácil que saber que é liderado por um crustáceo com um tentáculo a menos e que antes dele foi liderado por uma múmia e que nenhum deles jamais se importou com quem o escolheu. Essa tal de democracia. Pelo menos na idade média sabemos exatamente quem são nossos vilões.<br />- Como se seus reis e senhores fossem melhores que nossos políticos, com suas visões distorcidas da realidade e o clero que os subjuga e distorce a verdade.<br />- Quanto a isso me vieram siglas em resposta: IURD e Globo. - Responde a Idade Média. - Em nosso tempo apenas temos a Inquisição... Ah sim, concordo, políticos são um mal, digo mais.<br />- Você é banguela! - Provoca a Idade Contemporânea.<br />- Você está gordo de tanto fast food! - Responde de imediato a Idade Média. - Pessoas que nem Sarney seriam decapitadas ou tiradas por poder!<br />- Mentira, outro igual assumiria o poder. - Discorda a Idade Contemporânea.<br />- Ao menos se daria ao trabalho de fingir ser nobre. - Desdenha mais uma vez a Idade Média, cuspindo no sapato da Idade Contemporânea, que se revolta.<br />- Isso é um legítimo Mr. Cat! Tem idéia do preço! - Seu animal!<br />- Feio!<br />- Cara de mamão!<br />- Vou te mostrar quem é...<br /><br />O cientista separa as duas idades antes que briguem como crianças imaturas.<br /><br />Apesar de serem muito distantes, ainda assim eram muito próximas e parecidas demais.<br /></div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-26300775962837263662009-06-23T10:09:00.008-03:002022-05-11T14:59:01.792-03:00O Sorriso de Joana.<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5350512380725064354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiePz3NsXZwX7qWSzhdH6e7XXqBINUD8fe-7sZr6XsY7Zz9WI1uxDz8LVCR_wRXRUzG7BHfdE8M9pKHQ1rATD_NWGU2Z7Kt8HjDcprovyfM74Ly_j8k4KMb6DnMzoftr6m58xnkbg/s320/sorriso.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 213px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /><p></p><div style="text-align: justify;"> Joana é uma menina especial. Daquelas que dizem que Deus jogou a forma fora ou esqueceu a receita.<br /><br />Cabelos ruivos, tom de mel. Rosto moreno da raça e um sorriso que torna qualquer sorriso tradicional de todo brasileiro apenas algo fútil. É feliz apenas por despertar e ver no horizonte um pouco de esperança. Caminha satisfeita pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Pasta com documentos debaixo do braço esquerdo e um copo de café na mão direita.<br /><br />Tem pressa. Como sempre, dormiu demais e não vai chegar ao trabalho na hora certa se enrolar mais. Ela conseguiu um belo emprego na Petrobrás. Trabalhava desde o início do ano no prédio da Petrobrás da Av. Chile.<br /><br />Agora bate com orgulho no peito, afinal de contas, estudava desde pequena para seguir a carreira de engenharia química e aos vinte e cinco, recém formada, tudo se encaixava conforme o planejado.<br /><br />Nada estragaria seu dia.<br /><br />Consegue chegar na hora. O trabalho segue seu rumo tradicional, começando pelo tédio do começo da rotina, ao ritmo frenético sempre perto da hora do almoço e fechando com tranqüilidade nos últimos minutos. Pelo menos era dessa forma que Joana via o trabalho. Para muitos, no entanto, era um inferno da manhã até a hora de chegar na cama. Joana não era assim.<br /><br />Ao sair da empresa seu celular toca.<br />- Marcos? - Atende Joana.<br />- Oi amor. - Responde a voz do outro lado.<br />- Tudo certo pra hoje?<br />- Claro, Joana. Comprei os ingressos para o cinema... Trouxe até o da pipoca. - Responde Marcos, com empolgação na voz. - Estou no centro já, me espera aí na empresa que te busco.<br />- Tá bom, de amo.<br />- Também te amo.<br /><br />Joana desliga o celular e respira. Está radiante. Nada parece estragar seu dia. Em cinco minutos Marcos chegaria. Ela retorna para o prédio e entra no banheiro para se maquiar. Quatro minutos depois seu celular toca. Marcos já chegara. Ela corre para o lado de fora e vê do outro lado da rua o pálio de Marcos a aguardando. Ela acena para o amado e atravessa a rua.<br /><br />Marcos buzina. Ela não entende e de repente seu mundo gira e escurece.<br /><br />Marcos sai desesperado do carro e vai até ela. Um filete de sangue escorre de seu rosto enquanto um Honda Civic desaparece na avenida com o farol esquerdo quebrado. Marcos pega o celular e liga desesperadamente para uma ambulância. Amigos do trabalho e do prédio cercam-na, consternados com o que acontecera. Joana torna a abrir os olhos e sua mão trêmula procura o rosto de Marcos.<br /><br />Ela não chora. Ela não lamenta. Apenas continua sorrindo.<br /><br />Nada estragaria seu dia.<br /><br />Nem a morte.<br /><br />Nesse dia Joana partiu, mas sem perder o sorriso. <br /></div><p></p>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-72635486558731793082009-06-04T09:24:00.007-03:002021-10-16T12:52:11.372-03:00Cachaça e Paixão.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgotPHan15aAFwcXUIfhbAFlpthSaLSdB8Om5hcaygOdVuf2FHd70zUQ7JJe_Msl5OVvuTXrSuVyKuKA6wKmDgD0jGtpmhCMFokR3FfmFasxqmN79wTmdM5O9Bn25D0lOHTWsJXzA/s1600-h/barreiro.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 262px; height: 262px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgotPHan15aAFwcXUIfhbAFlpthSaLSdB8Om5hcaygOdVuf2FHd70zUQ7JJe_Msl5OVvuTXrSuVyKuKA6wKmDgD0jGtpmhCMFokR3FfmFasxqmN79wTmdM5O9Bn25D0lOHTWsJXzA/s320/barreiro.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5343452738162400850" border="0" /></a><div style="text-align: justify;">Ele apenas tinha um copo vazio e um olhar torto. Não fixava a visão em lugar algum e sequer conseguia fixar a mente para se importar. Estava em seu mundo particular e nem mesmo percebera quando o dono do bar o guiara por duas quadras e o abandonou solene em um banco de praça.
Seu corpo ardia, mas menos que seu peito. "Marta", era a única coisa que conseguia balbuciar. Não faziam nem cinco horas que encontrara Marta e menos de três horas que ela queimara suas coisas e o expulsara de casa. Uma áspera discussão, ápice de um casamento torpe e que há muitos anos já dera mais do que podia.
Mas ele ainda a amava, no fundo mais profundo de seu coração ainda ardia a mesma paixão de dez anos atrás. E ele precisava tentar mais uma vez, apenas uma.
Levantou-se trôpego, com o copo na mão esquerda e a garrafa vazia de Velho Barreiro na outra. Arrastou-se pelas quadras em busca de seu antigo lar, movido apenas pela vontade de rever Marta. Pouco a pouco conseguia juntar letras e formar palavras, e quando estava na porta de seu condomínio já conseguia até mesmo falar com o porteiro noturno.
- Diaslslaskls, Marta! - Falou.
- Boa noite pro senhor também. - Respondeu o perteiro, alheio ao idioma da cachaça.
Pegou o elevador até o sétimo andar e após cinco tentativas frustradas conseguiu finalmente encontrar a porta de casa. Adentrou sorrateiramente, pelo menos achava, e caminhou pela sala. Não notou a presença de um capacete azul escuro e um estranho casaco de couro marrom sobre a mesa de jantar, mesmo esbarrando em ambos.
Chegou até o quarto e viu Marta, dormindo nua sob os lençois. Ela tinha um sorriso satisfeito e nada lembrava a mulher que horas antes o expulsara de casa. Menos entorpecido escuta a voz de alguém cantando no banheiro. É uma voz familiar, mas que não reconhece mesclada ao som da água.
Entra no banheiro e vê um homem tomando banho. Tomado de ciúme e cego de ódio ele abre subitamente a porta, ergue sua garrafa e golpeia o homem com a garrafa de Velho Barreiro. Uma. Duas. Cinco pancadas. O sangue escorre pelo chuveiro. Sangue, vidro e ossos do homem que agora está caído no banheiro com um rombo na nuca do tamanho de uma palma e o rosto completamente desfigurado pelos cacos do vidro da garrafa que se despedaçara na primeira pancada.
Ainda tomado pela raiva cambaleia até o quarto de sua esposa e a acaricia. Ela blabucia seu nome, o que apenas aumenta ainda mais sua raiva. Marta desperta e a última visão que tem é a de seu amado. Em seguida tudo escurece enquanto as mãos fortes e raivosas agarram seu pescoço e a estrangulam.
Sem mais nada a pensar e a fazer ele se ergue. As mãos maculadas pelo ódio tocam seu rosto e o sujam de sangue. Agora está completamente sóbrio, trazido do mundo da bebida pelo ardor da fúria. Caminha até a sala e finalmente nota o casaco marrom e o capacete.
Uma carta cai do casaco. Ele a lê, e lágrimas escorrem de seu rosto. Em seguida pula do sétimo andar para a morte. A libertação.
No dia seguinte jornais noticiam:
- Matou esposa e filho, depois se suicidou.
E caída no chão, estava um singelo pedaço de papel...
<blockquote>
<span style="font-style: italic;">Pai,</span>
<span style="font-style: italic;">Como você não chegou a tempo, eu decidi escrever essa carta mesmo. Provavelmente quando acordar de manhã já terei pego minha moto e partido.</span>
<span style="font-style: italic;">Consegui finalmente me curar daquela terrível doença. O médico informou que não precisarei mais comparecer as sessões de quimioterapia e que se as coisas continuarem desse jeito me dará alta completa até o final da semana.</span>
<span style="font-style: italic;">Mamãe me contou da briga que tiveram, mas relaxe. Ela o ama, e conversei com ela a respeito. Amanhã espero que estejam bem melhor, não quero pensar que minha doença tenha acabado com o casamento de vocês. Não vai ser uma briguinha que vai acabar com um casamento de anos, ainda mais agora.</span>
<span style="font-style: italic;">Te amo, pai. Cuide bem da mãe.</span></blockquote>
Inserido a pedidos do <a href="http://www.textaculos.com.br/">Lestat</a>.</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-44084915437734676762009-03-12T13:05:00.008-03:002021-10-16T12:52:16.502-03:00O Parque Sombrio - 5<div style="text-align: justify;">- Me dá mais uma da boa! - Berra Abreu, com o copo vazio de cerveja.
Sentado em uma mesa do Bar do Zeca, um boteco local, o médico e legista Abreu não parece se incomodar muito em esperar dias na Ilha de Paquetá pelos resultados de testes de amostras retiradas das vítimas do Parque Darke. Ele está completamente embriagado e aos beijos com uma mulher que aparenta idade para ser sua mãe (sendo que ele tem quase cinqüenta anos).
Naquele momento em específico ele faz aquilo que sabe fazer melhor: torrar dinheiro público. Não que Abreu seja corrupto, mas ele conta nos dedos quantos não se aproveitaram de esvaziar cofres públicos em diligências optando em comer em locais baratos ao invés de só usufruir do bom e do melhor. "Considerando nossas condições de trabalho, é nada mais que justo", respondia quando questionado sobre suas práticas onerosas dando a entender que o estado precário do IML era justificativa para seus atos.
Quando chega quase uma hora da manhã Zeca, o dono do bar, de forma educada convida todos a se retirarem. Abreu, ainda abraçado da mulher, se levanta e pede apenas mais uma cerveja pra viagem, sendo atendido prontamente. Zeca preferia se livrar do bêbado do que manter um casco de vidro - pelo qual cobrou. Abreu retoma caminhada com sua parceira e caminham até a Praia da Guarda.
Excitados pela bebedeira os dois se sentam um banco a beira da praia e começam carícias mais ardentes. Beijos e gemidos se manifestam e um seio já está a mostra quando escutam o som baixo da viatura de polícia. Imediatamente os dois se recompõe e se levantam ao mesmo tempo que a polícia passa e os ilumina com a lanterna. Um dos policiais reconhece o médico.
- Vai São Jorge! - Berra o policial, gargalhando com o amigo.
- Vamos para algum lugar mais íntimo? - Propõe a mulher, lambendo a orelha de Abreu.
- O que sugere? - Pergunta, tomando em seguida um gole de cerveja.
- Vamos pro Darke? - Fala a mulher, apontando para o Parque, completamente escurecido.
- Mas...
- To vendo que vai brochar, não é?
- Nem pensar! Os únicos mortos que Abreu manipula são os do IML! Eu sou muito vivo! Vamos para lá... Você nunca vai se esquecer dessa noite!
O casal cambaleia pela noite em direção ao Darke. Uma caminhada que levaria apenas cinco minutos de onde estavam leva quase quinze por seus estados físicos e mentais. No caminho Abreu propõe que se agarrem na praia, mas a rampeira insiste em fazerem tudo no parque. "Lá é mais gostoso porque é proibido.", provoca enquanto coloca a mão dentro da calça do legista.
Com rapidez e experiência a moça pula o muro seguida por Abreu. Caminham pela área livre do parque até que chegam ao local onde o corpo de Isabela foi encontrado. Um pouco de náusea tomou Abreu enquanto continuavam e avançavam rumo a trilha que levava ao mirante. A trilha foi percorrida em menos de sete minutos, entre tropeços e gargalhadas bêbadas. Mal chegaram ao Mirante a blusa da rampeira foi tirada e Abreu já passeava entre seus seios.
Foi um sexo selvagem e sem muita preocupação. Estavam completamente sós e as únicas testemunhas do ato eram animais e o céu estrelado daquela noite. De repente Abreu tem a impressão de escutar um galho se partindo. Retira a boca do ventre da mulher e olha para os lados.
- Você escutou? - Pergunta o médico.
- Escutei o que? - Responde, ofegante de prazer.
- Um galho se partindo.
- Está maluco doutor? Vamos continuar!
Abreu retoma os afazeres e novamente escuta o som, dessa vez mais perto. Se levanta e procura por alguma arma entre suas coisas. "Merda! Esqueci o 38 no hotel!", pensa enquanto sua parceira se levante contrariada. "Tá chapado?", pergunta revoltada enquanto veste a calcinha.
- Cala a boca e escuta! - Bronqueia Abreu, agarrando o braço dela e olhando nos olhos dela. - Escuta!
Nenhum som. Nada. A mulher se afasta de Abreu e veste o resto da roupa. "Você é um filho da puta! E maluco! Tinha que ser doutor de defunto mesmo...", reclama a moça quando finalmente escuta o terceiro galho se partir.
- Abreu?
- Agora escutou sua puta! - Fala o médico, armando-se com a garrafa vazia de cerveja. - Eu disse que esse lugar era ruim, mas você me escutou? Claro que não. Me agarrou pelo pau e me trouxe aqui. Feliz agora?
- O que é?
- Sei lá o que é, mas está nos observando... Vamos sair daqui com cuidado, sem correr.
Abreu começa a caminhar, seguido pela mulher. Atento e com o sangue frio de quem lida com o que há de mais bizarro na raça humana há anos ele parece tranquilo. A garrafa lhe dá uma falsa segurança, que reforça pegando no chão um galho grosso de alguma árvore. A rampeira o acompanha e quase o abraça enquanto descem a trilha com cuidado. Um novo som se escuta próximo deles e uma fruta atinge a mulher, que desesperada desvencilha-se de Abreu e corre pela trilha, desaparecendo aos bwerros.
- Merda! - Reclama o legista, ficando só.
O legista caminha atento, em parte nervoso pelo abandono e no fundo mais calmo por não ter nenhum empecilho ao lado. Ele não é incomodado por toda a descida. Apenas se dá conta que está completamente nu quando chega no fim da trilha. "Merda! No susto deixei as roupas lá em cima!", pensa enquanto decide se retorna ou não para buscar ao menos as calças.
- Abreu! - Berra uma voz conhecida se aproximando.
- Fred! - Reconhece Abreu, escondendo as partes íntimas com a garrafa semi-transparente, o que não é exatamente a melhor solução.
- O que houve com você? - Pergunta o policial.
- Estava comendo e escutei um barulho, fui conferir.
- Comendo pelado?
- O que se come pelado, Fred? E você, também veio comer?
- Estava procurando evidências com o Almeida. Escutei um eco estranho vindo do Mirante e vim para cá, o Almeida ficou do outro lado, ele só precisa de uma ligação minha pra vir.
- Aquela vadia berrava muito alto, parecia uma vaca no cio... - Responde o médico. - Eu estava comendo lá em cima. Pode me acompanhar até lá? Preciso pegar minhas coisas.
O médico segue o caminho de volta acompanhado dessa vez de Fred. A presença do amigo transmite um pouco de segurança. Caminham silenciosos, até porque Abreu está completamente envergonhado por sua situação ridícula. Ele chega até o Mirante e suas roupas continuam no mesmo local, intocadas. Veste a cueca e as calças e se sente menos mal, Fred o tempo todo observa atentamente.
- Pelo visto foi uma senhora noite. - Comenta Fred, sentindo o cheiro forte de cerveja e do alcóol.
- Era uma boa mulher.
- Pena que não a vi.
- Como assim? Ela saiu correndo na minha frente... Você com certeza a viu correndo pelo parque até a saída.
- Não vi mulher alguma sair da trilha.
Por um instante Abreu gelou por dentro.
Continua...
Outras Partes de "O Parque Sombrio":
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- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/02/conto-o-parque-sombrio-2.html">Parte 2</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/03/conto-o-parque-sombrio-3.html">Parte 3</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/03/contos-o-parque-sombrio-4.html">Parte 4</a>;
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</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-89854034296311569392009-03-10T11:47:00.010-03:002021-10-16T12:52:21.160-03:00O Parque Sombrio - 4<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBuctVWiFM0UcZfrsrnw2d6P9GXsollZFZ4tBipli3X40v0PTPni9nB9k-yp9A9zaQTEztMqQRc0jAbeakfeQmlCThS_tDzz756ZUpGl5CWenS9AKLR45DkDVogaqXiuczkk8cmg/s1600-h/DSC06074.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 180px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBuctVWiFM0UcZfrsrnw2d6P9GXsollZFZ4tBipli3X40v0PTPni9nB9k-yp9A9zaQTEztMqQRc0jAbeakfeQmlCThS_tDzz756ZUpGl5CWenS9AKLR45DkDVogaqXiuczkk8cmg/s320/DSC06074.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5311615670874179074" border="0" /></a>
<div style="text-align: justify;">Dois corpos.
Fred e Almeida observavam com espanto o segundo corpo no necrotério improvisado no hospital de Paquetá. Era um jovem de pele clara, cabelos negros lisos aparentando dezesseis anos. Nele tinha as mesmas marcas de hematomas da primeira vítima. O legista Abreu observa os amigos com o costume mórbido de quem há anos faz esse serviço, enquanto em paralelo termina com seu sanduíche.
- Porque não nos falou dele antes? - Pergunta Almeida a Dr. Abreu.
- Porque foi encontrado quando estavam na barca. - Responde. - Em uma hora e vinte muita coisa acontece.
- Percebo. - Fala Fred. - Qual o nome dele?
- Marcelo. - Responde Almeida, com lágrimas nos olhos. - Ele é meu amigo de infância.
- Deus! - Brada Fred, assombrado.
- Eu vou pegar esse filho da puta, parceiro... Vou lhe arrancar os bagos pela boca, eu prometo.
Almeida afasta-se do corpo de Marcelo e apoia-se em uma pilastra. Fred o ampara, preocupado com o envolvimento de Almeida no caso. "Espero que consiga manter as estribeiras", pensa enquanto observa Dr. Abreu cobrir novamente o corpo.
- Só existe uma diferença entre esse corpo e o outro. - Diz Abreu.
- Qual? - Pergunta Fred.
- Ele não tem a marca nas costas. E pelo que vi, Marcelo sofreu violência sexual...
- Um assassino gay? - Pergunta Fred.
- Não tenho certeza, encontrei marcas de... bem... ferrugem. - Fala o médico, sem jeito de como falar do estado do amigo de Almeida. - Provavelmente o dano foi causado por um objeto irregular e enferrujado, um cano velho ou sei lá qual objeto, pois não tinha nenhum no local onde o encontramos.
- E onde o encontraram?
- No Darke, como disse há pouco, na trilha para o outro mirante. Estou esperando alguns testes chegarem do continente para confirmar algumas suspeitas minhas.
- Quais seriam? - Questiona Almeida, quase recuperado.
- Que temos dois assassinos, e não apenas um.
- Uma ilhota de merda e dois assassinos? Deve ser coincidência, Abreu. Não tem como ser...
- Fica calmo, ainda é apenas uma suspeita. Só saberei quando os resultados chegarem, até lá vou curtir uns dias em Paquetá às custas do estado.
- Curtir? Você vai é se afogar em cachaça...
- Isso também!
Sem mais o que conversarem com Abreu eles saem da sala. Almeida e Fred fazem anotações em seus blocos e decidem juntos ir até o Darke de Mattos procurarem pistas. Almeida nesse momento se tornava um trunfo no caso, por ser antigo morador, e com a morte de um amigo de infância o crime deixara de ser apenas mais um caso e se tornara pessoal.
O parque já estava fechado desde as dezessete horas, e chegando as dezoito horas não conseguiriam nem encontrar um funcionário no portão. "Não se preocupe, é só pular o muro.", comenta Almeida, enquanto caminha pelo entorno da entrada e encontra rapidamente uma parte do muro possível de pular. Fred reluta um pouco, mas acaba cedendo a curiosidade. Em poucos minutos os dois policiais invadem o parque e caminham com calma pela escuridão que a cada minuto fica mais forte.
- Isso vai dar merda. - Sussurra Fred.
- Porque? - Questiona Almeida. - Faço isso desde pirralho, e pelo menos metade dessa ilha foi fabricada aqui. O Darke a noite é um verdadeiro motel!
- Mas nós somos policiais! Deveríamos ao menos ter pedido autorização ao administrador daqui.
- Você o viu?
- Não.
- Nem eu, então vamos até a segunda trilha logo, procuramos pelo tal cano de ferro e vamos embora daqui. Trouxe lanterna?
- Só celular.
- Eu trouxe, então não atrapalhe, ok? - Almeida saca uma pequena lanterna de bolso e ilumina o rosto de forma sinistra. - Eu sou o assassino do Darke! Buuuuuuu!
- Qual a sua idade Almeida? Dez anos?
- Em cada perna. - Responde Almeida. - Fred, já te falei que você é muito babaca?
- Hoje ainda não.
Os policiais chegam sem serem pertubados rapidamente ao início da trilha do segundo mirante. Menos fanfarrão Almeida passa a utilizar a lanterna do jeito tradicional e segue a trilha deixada pelos policiais militares quando recolheram o corpo. Depois de alguns metros subindo chegam ao mirante e encontram a marca de giz no chão feita pelos primeiros peritos.
- Consegue ver aqui no escuro? - Pergunta Almeida, sem saber se o ângulo da lanterna é bom para o amigo.
- Consigo, além da lanterna a noite está clara por causa da lua.
- É verdade... - Balbucia Almeida, observando a lua cheia sem dar muita importância. - Fred, onde você colocaria uma arma de crime?
- Porque me pergunta isso? Eu não sou o assassino...
- Mas você tem TOC, e loucura por loucura serve a sua...
Depois de quase uma hora de procura minuciosa nada é encontrado. Nenhuma pista foi deixada pelo assassino, nenhum galho quebrado significativo e nem mesmo uma pegada existe que não as das botas policiais. "A pior merda que tem aqui nesse país é ser investigador! Proteger a cena do crime e nada são sinônimos...", reclama Fred enquanto sobe o mirante e observa o parque do alto.
- O que seus olhos policiais podem ver?
- Eu vejo... nada!
- Eu...
A frase de Almeida é interrompida pelo eco de uma gargalha sinistra.
Os dois não estão sozinhos.
Continua...
Outras Partes de "O Parque Sombrio":
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/02/conto-o-parque-sombrio-1.html">Parte 1</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/02/conto-o-parque-sombrio-2.html">Parte 2</a>;
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</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-21449176643249242412009-02-08T23:54:00.005-02:002021-10-16T12:52:44.109-03:00O Parque Sombrio - 2<div style="text-align: justify;">O sol ardia as quinze horas da tarde daquele dia. Como sempre o trânsito do centro do Rio de Janeiro estava caótico e buzinas soavam famintas aumentando ainda mais a sensação de calor em todos os motoristas infelizes que tinham que passar por aquela região. Não haviam pessoas satisfeitas, não havia o sorriso lendário do rosto carioca. Apenas um ou outro conseguia sorrir, mas esses com certeza não eram motoristas...
- Odeio essa cidade. - Comenta Almeida, enquanto dirige seu santana preto de placa branca pela Av. 1° de Março.
- Mas adora as putas. - Responde Frederico, ou apenas Fred, seu companheiro.
- O que tem as putas a ver com isso? - Brada o homem.
- Nada, mas achei engraçado falar isso... Você tem menos de vinte e três anos e reclama como uma velha rabugenta! Já pensou o que vai fazer quando chegar aos trinta?
- Com certeza não vou dirigir aqui nessa merda de cidade...
- Sabe onde você deveria morar?
- Onde?
- Em Paquetá!
- Paquetá é meu ovo esquerdo Fred! - Grita Almeida, socando o volante. - Deus me livre voltar para àquele lugar! Onde já se viu? Aquilo fede a bosta de cavalo...
- Mas era lá que morava antes de entrarmos na Civil...
- Isso mesmo! Antes! E nunca mais ponho os pés ali!
Cinco horas da tarde Almeida e Fred estão em Paquetá. Saltam da Barca Charitas, que surpreendentemente fizera a viagem em uma hora acompanhados por repórteres e os mais diferentes tipos que se movimentam em busca de alguns minutos de fama. Fred sorria irônico para Almeida, lembrando do rádio dos superiores lhes mandando para Paquetá. Os dois saíram da barca de maneira discreta, subiram em um eco-táxi* e metros depois saltaram no hospital local, que ficava a menos de uma quadra da estação de Barcas.
- Porque me fez gastar dinheiro a toa, Almeida? - Reclama Fred, pagando ao eco-táxi pela viagem inútil.
- Foi divertido... Precisava reaver meu bom humor. Seis reais nem é tão caro assim.
- Vai te a...
A frase não se completou. Foram recebidos com fervor pelo Doutor Abreu, um legista de fora e conhecido dos dois policiais. Era um senhor de aparentemente quarenta anos mas cabelos grisalhos quase brancos. Vestia um avental branco com algumas gotas de sangue espalhada e no peito tinha um crachá com o logotipo do Instituto Médico Legal. Pela situação rara e inconveniente, para evitar mais disse-me-disse da Imprensa o próprio IML optou por fazer tudo em Paquetã.
- Que bom que vieram. - Comentou Dr. Abreu, estendendo a mão para Almeida, sem notar que ainda estava com a luva cirúrgica.
- Abreu, a luva. - Indicou Almeida, causando certo constrangimento a Dr. Abreu, que imediatamente se livrou da luva com os dentes e a descartou no chão do hospital sob olhares de reprovação de pessoas no local.
- Para que servem serventes? - Comentou, sem maldade. - Vieram ver a menina?
- Claro Abreu.. - Diz Frederico. - Porque mais estaríamos aqui a essa hora?
- Almeida não é daqui? - Pergunta Dr. Abreu.
- Pelo amor de deus! Eu saí daqui fazem dois anos! Agora moro em Copacabana! Co-pa-ca-ba-na! - Soletrou Almeida.
- Que seja! Venham comigo...
O hospital Manoel Artur Villaboim era um hospital simples. Possuia três entradas. A da emergência pela esquerda, a central que dava nos quartos e uma na direita levava aos consultórios. Abreu guiou os policiais pela entrada da emergência, que ficava um pouco mais para dentro do terreno do hospital. A ala de espera tinha apenas os familiares da vítima - que os policiais reconheceram pela tradicional face da perda, expressão já velha conhecida. - e uma mãe que parecia esperar um filho. Não havia ainda sinal da imprensa, por sorte.
No final e a esquerda da sala de espera estava a porta dupla que dava acesso ao interior do hospital. Dr. Abreu abriu a porta com já certa intimidade e avançou pelos corredores azulejados de azul até uma ou porta de madeira pintada de branco - mas mal conservada. - identificada como "CTI" ou algo parecido. Abreu fez o sinal da cruz em seu peito e entrou, sendo acompanhado pelos homens da lei.
- Desculpem a bagunça. - Comentou Dr. Abreu, enquanto cobria o cadáver de Isabela com um lençol, mas não antes que Almeida e Fred a vissem ainda com as víceras expostas.
A sala parecia bagunçada como Dr. Abreu comentou, mas era uma bagunça anterior a sua passagem e ainda assim mais arrumado do que a área do necrotério onde ele habitualmente estava. A primeira coisa que Almeida e Fred deram falta, e não lamentaram, foi do tradicional cheiro de pobre do IML, ausente naquele quarto. A única bagunça de Dr. Abreu podia ser constatada por uma mesa de instrumentos cirúrgicos ensopados de sangue e um pequeno coração acomodado em uma bacia de alumínio.
- Demoraram a chegar. - Comentou o médico, pegando um pequeno gravador.
- Soubemos depois da barca de 13:30, só pudemos vir na de 16:00. - Responde Almeida.
- Ainda bem que vim cedo e tirei fotos do lugar! A essa hora já deve ter se transformado em ponto turístico desse povo sádico. - Comenta o médico, enquanto coça a cabeça sem perceber que estava com a mão suja de sangue e sem luva. - Querem as fotos agora?
- Não. - Disse Fred, agradecendo com um gesto. - Manda por e-mail... Já era, espero apenas que a trilha esteja interditada.
- Ah, isso está sim. - Afirma Dr. Abreu, com veemência.- s pessoas podem conseguir pular muros, mas com apenas três entradas para a trilha do mirante sudoeste protegidas pelos GMs nada passa.
- Exiistem dois mirantes no Parque Darke. - Explica Almeida ao colega.
- Mas e o que sabe? - Questiona Fred, satisfeito com a curta explicação de Almeida.
- Bem, vamos começar pelos hematomas... Ela não apanhou, as marcas foram resultado de outros fatores. O suspeito provavelmente a arrastou pelo parque sem muido cuidado e a trouxe para o trono, enquanto a despia pelo caminho. Também não houve abuso sexual e ela morreu de afogamento.
- Afogamento?
- Sim, os pulmões dela estavam cheios do próprio sangue... - Falou Dr. Abreu, retirando o lençol de sobre a vítima e virando-a de costas. - Sangue que entrou por aqui!
Havia uma perfuração nas costas da menina exatamente na altura do pulmão esquerdo. Era um corte horizontal e profundo. Dr. Abreu fez questão de mostrar a perfeição do ato, que parecia possível apenas com aço cirúrgico ou algo muito afiado. Almeida e Fred observaram intrigados o ferimento, que parecia dizer muito mais do que apenas trasmitir a forma de assassinato. Dr. Abreu percebeu o espanto dos amigos policiais, cobriu novamente o corpo e com sarcasmo voltou a falar:
- Eu acho que ela foi a primeira. - Comenta o médico.
- Por que seria? - Questiona Almeida, temendo o ponto de vista do médico e amigo.
- Porque acharam mais um corpo... No outro mirante!
Continua...
* Bicicleta de turismo com três rodas, pilotada por um jovem de pernas fortes e que possui uma pequena área estofada na parte traseira onde duas pessoas se acomodam.
Outras Partes de "O Parque Sombrio":
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/02/conto-o-parque-sombrio-1.html">Parte 1</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/02/conto-o-parque-sombrio-2.html">Parte 2</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/03/conto-o-parque-sombrio-3.html">Parte 3</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/03/contos-o-parque-sombrio-4.html">Parte 4</a>;
- <a href="http://pensamentosequivocados.blogspot.com/2009/03/conto-o-parque-sombrio-5.html">Parte 5</a> (novo);
</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-45850939980582532282009-02-05T23:46:00.005-02:002021-10-16T12:52:48.104-03:00O Parque Sombrio - 1<div style="text-align: justify;">A Ilha de Paquetá é uma pequena ilha localizada no centro da Baía de Guanabara, estado do Rio de Janeiro, e ligada à cidade apenas através de barcas pegas na Praça XV de Novembro, na cidade do Rio de Janeiro. Um local bucólico e ao mesmo tempo belo, palco de ilustres visitantes como Dom João VI. Uma de suas principais atrações turísticas é o Parque Darke de Matos, um recanto de beleza sem igual situado ao sul da Ilha.
O dia estava ensolarado naquela tarde de Janeiro em Paquetá. Pássaros cantavam e crianças brincavam no gramado do parque. Isabela completara dezesseis anos dois dias antes, e passeava exuberante no vestido de renda que ganhara da mãe. Religiosa e responsável costumava estudar nas tardes livres em um dos mirantes do Parque. "Ali me sinto mais perto de Jesus", dizia quando questionada.
Carregando seus livros de português perdeu a noção do tempo e não notou que os risos das crianças cessaram e que aos poucos os pássaros sumiam. Apenas percebeu o avançar da noite quando ficara difícil ler e voltou a realidade. Olhou seu celular e viu que já passavam das seis da tarde, e em muito pouco tempo escureceria. Assustada e com medo de ser encontrada por algum guarda municipal (não queria levar bronca), pegou suas coisas e desceu pela trilha que subira horas antes.
Enquanto corria sua respiração pesava mais e mais e sentia um nervosismo maior na medida em que escurecia cada vez mais rápido. Sem prestar atenção acabou tropeçando em um galho solto e caiu com as nádegas no chão. Riu consigo mesma pelo medo que sentia e levantou-se rápido, limpando com rapidez a terra de sua saia. "Estou em Paquetá! Deixa de ser nervosa... Rasguei o vestido...", diz para si mesma percebendo um pequeno furo na ponta da saia.
CRAC!
O som interrompe sua mente e a deixa preocupada. Não é algo normal para a hora. Seria um galho quebrado? Um lagarto? A dúvida assombra a mente de Isabela, que começa a caminhar mais rápido. Deixa para trás seu material de escola, com a mente ocupada pelo som.
<span style="font-size:130%;">CRAC!
</span>
Não foi um acidente. Foi proposital. Isabela retoma a corrida, agora mais assustada ainda. Não se dá conta do cenário a sua volta e nem se preocupa com mais nada além de correr. Novamente se desequilibra, mas consegue retomar o passo até que chega a uma bifurcação. Se estivesse em condições normais lembraria que o caminho da esquerda era o que a levaria para o final da trilha, o da direita a guiaria para uma parte dos túneis do Darke de Matos. Sua mente pensa em...
<span style="font-size:180%;">CRAC!
</span>
Escolher? Com o som mais proximo? Ela segue seu rumo natural (é destra) e chega até uma pequena clareira com três túneis parcialmente obstruídos pelo tempo. Lendas e causos Paquetaenses dão conta que eram antigos depósitos de corpos de escravos. Isabela está nervosa demais para se lembrar desses detalhes. Vira-se para tentar fugir quando algo lhe atinge a cabeça.
A última coisa que vê é a luz do luar quando seus olhos procuram o céu e a salvação por Cristo...
No dia seguinte seu corpo é encontrado no parque. Isabela foi abandonada em um pequeno palco que existe na parte central do Darke.. Está sentada em uma cadeira escavada na pedra. Completamente nua e com diversos hematomas que deixam claro que foi violentada, mas suas mãos estão encostadas e fechadas em formato de concha, com um pequeno papel mantido firme entre elas. Os policiais não se arriscam a tocá-la antes da chegada dos legistas, apenas se ocupando em manter curiosos distantes.
Os pais dela chegam e choram. Tentam tocá-la mas são impedidos pelas autoridades. Lágrimas escorrem, pois Isabela era querida por todos na Ilha, e agora nunca mais poderia realizar seu sonho: ser professora.
E Isabela não seria a última...
Continua.
Outras Partes de "O Parque Sombrio":
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</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-22289922328497030842008-12-24T01:14:00.005-02:002021-10-16T12:52:51.847-03:00Vinho e Corpos Ardentes.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSd8YJHy99nO-2tBqoOyqRKSMEAe9ZvQH2l_MESe5C9Coa1BugrDKlU9s4ra8vZEvR4dzpgveN5NECdRMrDSmDa-M1gRU7-U1fEqL3Hc6USCotsaUUTdFmmLJsUy0xjY0yTDoy4w/s1600-h/vinho.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 322px; height: 196px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSd8YJHy99nO-2tBqoOyqRKSMEAe9ZvQH2l_MESe5C9Coa1BugrDKlU9s4ra8vZEvR4dzpgveN5NECdRMrDSmDa-M1gRU7-U1fEqL3Hc6USCotsaUUTdFmmLJsUy0xjY0yTDoy4w/s400/vinho.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5283200321242750434" border="0" /></a>
Ela caminhava sem pensar no dia seguinte com algumas compras de natal. Seu corpo exaltava a beleza de seus vinte anos incompletos e seus longos cabelos bem cuidados ressaltavam ainda mais a rigidez de seus seios cobertos apenas por um vestido vermelho. Não havia rubor em seu rosto ou mesmo pensamentos maldosos em sua mente, na sua cabeça era apenas um vestido simples, vermelho liso que chegava até seus joelhos. Nos olhos de quem a observava era algo um pouco mais complexo.
<div style="text-align: justify;">
Chegou em casa apressada. Não demoraria muito e sua novela favorita começaria. Eram apenas duas da tarde, a novela começava as nove da noite. Preencheria esse tempo dedicando-se a algumas conversas no computador e um pouco de cochilo. Jaqueline, ou simplesmente "Quel" como era chamada pelas amigas, curtia as primeiras férias em dois anos de trabalho duro em uma firma de administração de imóveis no centro de sua cidade.
Quel caminhou perene até seu quarto e sentou-se na cama. Com calma despiu-se do vestido vermelho e olhou-se no espelho, como sempre fazia. Tocou seus seios ainda rijos da idade e sorriu marota para si mesma. Ela sentia o desejo querer escorrer por suas pernas, mas não tinha nada ou ninguém que lhe fizesse companhia. E nem teria.
Era dia 24 de dezembro, sua família morava toda em outro estado e esse ano, devido a escala de seu trabalho só viajaria no ano novo. Seria um natal solitário, ao menos por enquanto. Apenas vestida de calcinha caminhou até a sala e sacou da geladeira uma garrafa de vinho tinto. Não era a melhor marca do mercado, e particularmente lixava-se para valores sociais em casa. Se fosse Don Perignon ou apenas um Sangue de Boi beberia daquele que estivesse mais de acordo com seu humor.
Essa era a noite do "Boá". Pegou um copo de vidro sem requinte, encheu-o até a borda e tomou de um gole só. "Delícia!", comemorou enquanto sentia algumas gotas escorrerem por seu corpo. Tornou a encher o copo e foi para o computador. Não havia ninguém online, ao menos não interessante, apenas os mesmos colegas nerds incapazes de largar o computador pra se socializarem, mas nenhum eventual pretendente. A webcam lhe parecia cada vez mais ousada a cada gole.
O tempo passou rápido demais.
Já era noite quando saiu do computador sem conseguir mais do que conversar e bloquear em definitivo um qualquer que usava o nick "$$WARCRAFT É O PODER$$". Foi até a janela e observava de sua janela o vai e vem dos últimos carros transportando os atrasados do natal. Respirou fundo e lamentou que essa noite não teria nenhuma ave no natal. Caminhou até sua cama e deitou-se. Foi quando notou que não estava sozinha.
<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://lh3.google.com.br/dragus/R0MURLW3HCI/AAAAAAAAAxg/O6TD8XT8GCk/s400/Foto-3.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 200px;" src="http://lh3.google.com.br/dragus/R0MURLW3HCI/AAAAAAAAAxg/O6TD8XT8GCk/s400/Foto-3.jpg" alt="" border="0" /></a>Sentiu uma estranha vibração nos pés parecida com dedos tocarem seus pés. Sentiu-se aflita, pois poderia estar muito mal. De repente os dedos continuaram a subir e um estranho vulto enegrecido formou-se diante de si. O vulto possuía braços com contornos femininos e uma leveza e suavidade no toque que transformavam o medo de Quel em prazer. Deixou-se dominar pela estranha força e não ofereceu resistência quando a sombra arrancou-lhe a única peça de roupa que vestia e transformava sua calcinha em meros fiapos espalhados pelo quarto.
Sentiu-se finalmente penetrada pelo vulto e seus olhos reviraram. Seus seios eram mordiscados com perfeição e cada espasmo a levava para mais alto. Seus olhos se reviravam, queria se contorcer ou berrar, mas o vulto a impedia de fazer qualquer movimento. E essa imobilidade apenas aumentava seu prazer.
De repente Quel sentiu-se extasiada e deu um berro de prazer. De repente tudo parou. Sua cama estava completamente encharcada por seu suor e seus fluidos. Não havia sinal algum da presença misteriosa, apenas via a garrafa abandonada de vinho no chão e os primeiros raios do sol penetrando por sua janela, iluminando seu corpo ainda rígido dos tórridos momentos.
Levantou-se decepcionada. Era bom demais para ser verdade. Ergueu-se nua e caminhou para o banheiro. Enquanto andava notou alguns sinais estranhos.
Sua calcinha estava realmente despedaçada no chão, ao seu lado na cama havia a silhueta de outra pessoa, que lembrava-se uma outra mulher. E seu maior susto ocorreu quando foi ao banheiro. Havia um forte vapor nele, como se alguém tivesse acabado de sair de um banho fervente. Sobre a mesa do banheiro flores brancas jaziam abandonadas e desenhado no vidro do espelho uma única mensagem:
"Foi ótimo."
E abaixo da mensagem nenhuma identificação, apenas um traço. E mais nenhum vestígio da presença de uma segunda pessoa, nenhuma pegada, nenhuma marca, nenhum sinal de arrombamento na porta. Nada. Apenas uma estranha sensação em Quel de que a observavam.
Quel dormiu fora de casa nas noites seguintes ao que foi seu melhor natal
<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt3DZolExgpgaYQ6ZTlADPIIes-hd9Z1p5zTosUR1wlZ2HW2PLaI3HJicZcAJWlfL9uEU3lClHVlMoPNjMhXY_jIkmWzlyzQxVWwIpMDhoGHA3RK77ub4MT88k543-WOAMevoTXg/s1600-h/seios.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 282px; height: 278px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt3DZolExgpgaYQ6ZTlADPIIes-hd9Z1p5zTosUR1wlZ2HW2PLaI3HJicZcAJWlfL9uEU3lClHVlMoPNjMhXY_jIkmWzlyzQxVWwIpMDhoGHA3RK77ub4MT88k543-WOAMevoTXg/s400/seios.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5283200319192900674" border="0" /></a>
</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-76817576705151765752007-06-13T00:25:00.026-03:002021-10-17T02:06:59.631-03:00Revelações de Jonas: Sétima Fase da Viagem<div style="text-align: left;"><br /><div style="text-align: center;"><b>Revelações de Jonas<br />Sétima </b><b><b>Fase </b>da Viagem<br />Epílogo</b><br /></div></div><div><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;">Jonas despertou sabe-se quanto tempo depois naquele mesmo desfiladeiro. Como da primeira vez, estava nu. Sua cabeça doía muito e lembrava vagamente de seus últimos momentos na Terra. Lembrava do anjo chamado Sônia e de Albano matá-lo pela traição. Mas uma coisa ainda martelava em sua cabeça, se sua visão tinha se tornado realidade. A forma carnal de Fernando o abandonara por completo, deixando apenas a forma de Jonas.<br /><br />Com a destreza de quem passeara por aquele ambiente diversas vezes, Jonas literalmente voou pelo desfiladeiro em direção a enorme montanha vermelha onde nela ficavam acampadas as tropas de Dragon. Ao chegar nada encontrou que senão os restos do enorme acampamento. “Droga, eu falhei...”, balbuciou Jonas preparando-se para procurar pela prisão do Devorador de Almas. Quando alça os céus, vê um homem vindo do enorme deserto caminhar em sua direção. O homem tem o corpo completamente coberto por um manto cinza escuro, e uma estranha aura pálida e fria cobre uma área de pelo menos dois metros em torno dele, gerando uma tênue, mas visível, névoa. Jonas sente uma estranha familiaridade no homem, mas não consegue imaginar de onde o conheça, e pousa para obter informações. Antes que o jovem possa dizer algo, o homem dá início a conversa:<br />– Então você é o espírito de luz chamado de SanoDji? – Pergunta o homem.<br />– Sim, e quem é você? – Pergunta Jonas, intrigado.<br />– Trago informações... Da Terra. – Falou o homem, ignorando a pergunta.<br />– Eu perguntei seu nome, não o que faz... – Interrompeu Jonas, áspero.<br />– Você quer saber o que aconteceu ou quer saber meu nome? – Falou o homem, elevando o tom de sua voz de forma tal que refletiu no frio, tornando-o mais intenso.<br />– Então me diga.<br />– Seu amigo não explodiu a usina, todos estão bem... Se é o que lhe preocupa. Você não falhou em sua missão.<br />– Como assim não falhei? Eu morri!<br />– E era exatamente essa sua missão... Servir de alvo.<br />– Como assim?<br />– Simplesmente desse jeito que falei, você serviria de alvo enquanto o verdadeiro agente agiria.<br />– Então quer dizer que a Sombra me usou?<br />– Exato, o tempo todo... Mas pense, foi por uma boa causa... Pelo menos a causa que interessava a ela.<br />– E porque você veio me dizer tanta coisa?<br /><br />“Porque ele é intrometido”, interrompeu a Sombra, surgindo no meio dos dois como por mágica. O homem de manto cinza escuro reagiu ríspido a presença da entidade, fazendo com que o frio no local aumentasse tanto que um espírito comum teria sofrido sua morte final naquele momento. A Sombra apenas exibiu seu enorme sorriso pálido e se enroscou em Jonas.<br />– Você sabe que existe um contrato, Archeron. – Comentou a Sombra, deixando propositalmente o nome escapar. – Você ainda não aceitou muito bem o que aconteceu... Sabe muito bem que não é minha responsabilidade tudo que aconteceu.<br />– Quem é “Archeron”? – Pergunta Jonas.<br />– Amigo do Devorador, de antes dele reassumir seu lugar na ordem natural das coisas... Ficou triste porque quando tudo aconteceu seu nome e o de sua família foram usados pelas pessoas envolvidas. – Explicou a Sombra, sem dar em detalhes.<br />– Pessoas com que se associou, pelo que vi. – Respondeu Archeron, que mesmo com seu nome revelado, não retirava o capuz.<br />– Negócios, apenas negócios... Admita, até mesmo você e seus semelhantes saíram ganhando... Todos saíram ganhando.<br />– Não todos. – Balbuciou Archeron.<br />– E quem se importa com o gado? Pobres almas que somente servem para alimentar o ego tanto das borboletas quanto das lagartas! Tanto o lado que se diz bom quanto o que afirma ser ruim, todos no fundo só querem saber disso... De inflar seus lindos egos. Eu, ao contrário, não vejo os comuns como gado, vês Jonas? Chegou um mero bezerro em meus domínios, e agora se tornou um minotauro...<br />– Minotauros vivem presos em labirintos sem saída... – Interrompeu Archeron.<br />– Bem fortuita sua interrupção. – Respondeu a Sombra, mas sem dar importância. – Agora, já fez das suas e já falou o que queria. Agora suma daqui... Já está incomodando meu pupilo.<br />– E se eu quiser ficar?<br />– Serei obrigado a falar mais coisas a ouvidos não treinados, deseja criar mais problemas a seu lado?<br /><br />Archeron cessou seu diálogo. Era demais escutar tal ameaça proveniente de alguém que era incapaz de admitir seus erros. Mesmo que no momento o erro fosse a arrogância. Deixou-se cobrir por uma densa nuvem esbranquiçada e abriu seus dois pares de asas azuladas. Jonas tentou ver o rosto por destras da névoa, se esforçou, mas apenas conseguiu distinguir dentre a neblina uma máscara de prata que cobria grande parte do rosto, tornando-o completamente irreconhecível, isso se Jonas o conhecesse. Quando a figura alada desapareceu nos céus enevoados, Jonas contou alguns segundos e voltou-se para a Sombra:<br />– Um dia você vai me contar tudo sobre essa sua linhagem. – Afirmou Jonas.<br />– Um dia que não é hoje, é outra história para outra época. – Respondeu a Sombra. – No momento vou me restringir a dizer algumas coisas que aconteceram nos últimos seis meses.<br />– Seis meses?<br />– Sim, foi o tempo que levei para resgatar sua alma dos abutres que estavam cercando a Usina... Você não se lembra, mas quando Albano te matou, você passou pelo choque da morte violenta e por muito pouco um dos chacais do inferno não o devorou. Para sua sorte Sônia chegou alguns segundos depois e foi uma refeição muito mais saborosa, diga-se de passagem... Garanto-te que ela se debateu muito.<br />– E porque Albano não destruiu tudo? O tal do Archeron disse que ele era agente deu... É verdade?<br />– Completamente. Lembra que eu te disse que tinha mais dois agentes? Bem, eu disse que havia falhado, ao criá-los, mas não disse tudo... Albano foi a matriz. Depois dele tentei gerar mais dois, fracassei, então criei você e tive sucesso.<br />– Sucesso? Mas eu morri?<br />– E era essa mesma a intenção. Eu e meu aliado sabíamos que se Albano fosse sozinho ele seria descoberto mais cedo ou mais tarde, ele era bom demais. Então Dragon aconselhou que usássemos a velha tática do Boi-de-Piranha. Albano foi informado que quando o momento certo chegasse, ele veria o sinal de que deveria executar suas verdadeiras ordens.<br />– E que sinal era esse?<br />– A tatuagem em seu braço. Sônia foi estúpida em destruir suas roupas, mas sabíamos que cedo ou tarde Albano as veria. E as viu. Sabendo o que tinha que fazer ele matou Sônia e foi para a Sede da Organização na Av. Presidente Vargas.<br />– E?<br />– Explodiu tudo. Matou todos, fez o que sabia fazer de melhor. Foi o mais rápido que podia a sede e matou todo mundo. Agora ele está viajando para a Índia.<br />– Índia?<br />– Sim, vai se afastar da civilização enquanto for necessário. Até a poeira baixar, depois ele volta de novo, quando precisarmos dele.<br />– E quando seria?<br />– Quando tiverem novamente a idéia idiota de iniciarem o Apocalipse.<br />– Como assim?<br />– Entenda... Tanto as borboletas com asas quanto as sem asas desejam que isso aconteça. Cada uma das duas categorias possui um livro que diz o que cada uma ganhará e perderá quando o Apocalipse acontecer. Eles acreditam, cada uma das forças, que podem vencer as adversidades previstas. Aliás, ambas crêem na vitória de seu respectivo lado, mas...<br />– Mas?<br />– Existem seres dentro da existência que ganharam status demais para de repente uma guerra qualquer colocar tudo que conquistaram durante milhões de anos em xeque. Eu já passei por isso uma vez, não desejo ver todo o status quo de eras ser transformado em cinzas só porque duas entidades bestas decidiram chocar suas opiniões e desafetos. E assim como eu existem muitos outros que ganham muito mais com as coisas como estão do que com as coisas como serão. Inadvertidamente a guerra vai acontecer, mas, falando dos seus termos, enquanto der pra comer caviar porque optarei pela sardinha?<br />– Você me disse isso a respeito quando trouxeram o Devorador de volta de seu exílio.<br />– Sim, tentaram soltar essa besta antiga no mundo, mas impedi o pior. E esse ato vil foi praticado pelos representantes das borboletas. O ato ao qual você participou foi organizado pelo Inferno e com ajuda de algumas borboletas que também desejam a guerra. E por causa disso me aliei a um velho inimigo para juntos darmos ao planeta terra mais alguns anos de purgatório... Anos que aproveitei para me cercar do que existe de melhor no universo.<br />– Então quer dizer que tudo isso aconteceu por causa de Ego?<br />– Sim, só por causa de ego... Ego ferido de milhões de seres que se sentem na berlinda de suas próprias existências porcas. Que esperam que a filtragem que o Pai Celestial fará durante a guerra os coloque em posições melhores, criaturas mesquinhas, que sempre ficaram a margem da criação. E...<br />– E poder esse que outras criaturas mesquinhas não querem perder? – Interrompeu Jonas. – Da maneira como diz parece que a própria Organização ou seus caciques não queriam perder seu status e meio que se deixaram derrotar... Depois de tudo que me falou me parece que foi exatamente isso que aconteceu. A Organização se deixou derrotar.<br />– Não a Organização, mas um de seus líderes. Seu nome é Niamaran, deve ter ouvido falar, se não ouviu, ainda o conhecerá. Sem a ajuda dele jamais teríamos conseguido impedir isso... Bom ver que você ficou esperto esses meses que passaram... E sim, esses “mesquinhos” não querem perder. Mesmo que para isso a Terra seja sacrificada por si própria e tudo tenha que recomeçar em outro lugar.<br />– Quer dizer que existe como a Terra se destruir sem nenhum apocalipse acontecer?<br />– Sim, ou se trata a podridão ou ela consome tudo... Existem pessoas boas, más e idiotas. E os idiotas são o gado que tudo destrói... Que obedecem sem pensar... Que mesmo com todo um mundo de informações se recusam a pensar nas ordens que recebem, que nunca questionam nem a si mesmas. E se a Terra tiver que perecer imersa em seu próprio excremento moral, que seja feita a vontade dos que se interessam pela continuidade.<br />– Filosófico você... Albano era obcecado em obedecer ordens, isso o torna gado?<br />– Ele era um caso especial. Um dia irá entender porque ele usava esse chavão... Mas agora chega de falar, temos outras coisas a fazer e mais coisas a organizar. Para a próxima vez...<br />– Organizar? Vamos dominar o mundo?<br />– Sim, tal qual aquele desenho animado dos ratos de laboratório, precisamos volta a caverna e planejar...<br />– Se refere REALMENTE a dominar o mundo?<br />– Não, mas a impedir que tentem...<br /><br />E os dois riem do ridículo da piada.<br /><br />FIM<br /></div><br /></div><br />Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-27232713216664410132007-05-20T03:00:00.041-03:002021-10-17T02:07:02.681-03:00Revelações de Jonas, Missão: Sétima Fase da Missão<div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>Revelações de Jonas: Missão<br />Sétima </b><b><b>Fase </b>da Missão<br />Clímax</b><br /></div><div><br /><br /></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i>Uma névoa densa cercava Jonas. Ele via quatorze pessoas, dentre homens e mulheres envoltos por essa mesma névoa. Estavam todos parados observando para além do campo de visão de Jonas. Dentre elas conseguia reconhecer claramente as figuras de Albano e Fernando. E tal como as demais estavam completamente imóveis. A névoa diminuiu gradativamente na medida em que Jonas escutava um zumbido irritante aumentar. Procurou sem muita demora pela fonte do som e viu finalmente que cada uma das pessoas carregava consigo uma caixa com um display vermelho dando contagem regressiva. <br />E faltava um minuto para o contador chegar a zero.<br /><br /><br />Uma certa inquietação tomou o peito de Jonas que instintivamente tomou a caixa das mãos de Fernando e a jogou em direção ao infinito. “Pronto, está terminado.”,comemorou antes de olhar novamente para Fernando e ver que a caixa continuava no mesmo lugar. Novamente jogou a caixa distante e como da primeira vez seu retorno se repetiu. Um certo desespero começou a tomar conta de seu peito a medida que o display mais e mais se aproximava do zero. De repente as quatorze pessoas começaram a olhar para o horizonte e Jonas acompanhou-as com o olhar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />Eram os fogos de fim de ano que começavam. As pessoas se abraçaram felizes enquanto largavam as caixas no chão. Jonas escutou uma espécie de estalo e viu os contadores de todas as caixas zerarem. E de repente uma luz branca tomou conta de tudo. Ao invés de sentir a dor que esperava Jonas, apareceu novamente em Santa Tereza, no mesmo lugar onde morrera. As pessoas todas estavam trajadas de branco, sorriam. Pelo que podia ver no relógio de rua faziam cinco minutos que 2007 havia começado. Sentiu-se mais calmo e sentou-se em um dos bancos do largo dos Guimarães e escutou o bater de asas dos pássaros. </i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />“Pássaros? A meia noite?”, espantou-se Jonas olhando pro céu e vendo uma imensa nuvem negra se aproximar de Santa Tereza vinda do sul. Com um olhar mais apurado viu que não era uma simples nuvem, mas sim uma imensa horda de criaturas tão horripilantes quanto os Vermes do Vazio, mas aparentemente muito mais fortes. As pessoas eram incapazes de ver o que estava por acontecer. Jonas viu aquela velha senhora negra de nome Glória correndo pelas ruas pedindo ajuda pelas almas. Ela tentava em vão tocar nelas e afastá-las de algum perigo iminente.<br />– Assassino! A culpa é sua! – Berrou Glória, vendo Jonas.<br />– Minha culpa? – Questionou Jonas, sem entender o que acontecia.<br />– Sim, você e aquelas pessoas cheias de ódio no coração fizeram isso...<br />– Isso o quê?<br />– Isso!<br /><br />Glória apontou para o lado oposto da nuvem negra e viu uma imensa horda de seres da Luz indo de encontro com os seres enegrecidos. Ambos tocaram enormes cornetas, mas um dos seres de luz se destacava. Era um anjo de vestes completamente brancas portando uma corneta de ouro que brilhava tão forte que de onde Jonas estava podia-lhe ofuscar a vista. Um dos demônios da horda oposta se destacou. Era uma criatura enorme, de forma que lembrava um canino. Ele observava as pessoas caminhando na rua alheias a toda essa tempestade que se formava nos céus. Com uma voz assombrosa, a criatura bradou.<br />– Ande cria de Deus! Dê a ordem! Que comecem os jogos! – Berrou a criatura.<br />– Que seja feita a vontade de Deus! Que o apocalipse de João se inicie!<br /><br />A voz soberba do anjo ecoa por todos os lados, parecendo cruzar os mares e os oceanos, em seguida a figura imponente toca a corneta. Segundo depois um grunhido agudo é escutado e Jonas vê uma enorme figura montada em um cavalo negro passar voando rápido vindo do sul. Era uma mulher de roupas rasgadas coberta por trapos negros. Por onde ela passava uma fumaça verde dilacerava tanto pessoas quanto almas. A mulher passa por ele e um ar completamente carregado invadiu o que seriam os pulmões da alma de Jonas. Se isso acontecesse antes do treinamento, com certeza teria morrido. Mas ainda assim isso não evita a dor lacerante de sentir-se praticamente virado do avesso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />Glória, vendo a cena e a mulher se aproximar, é tomada por um desespero sem igual e corre levando consigo todas as almas que consegue carregar. Infelizmente apenas ganha alguns segundos a mais de existência, a mulher a alcança e com um simples toque nas costas faz Glória desaparecer como purpurina ao vento. Jonas permanece parado querendo assistir a tudo. As pessoas, ainda vivas, começam a cair uma a uma nitidamente sufocas por algo que Jonas não vê, mas sabe o que é. É radiação. Não muito longe, uma televisão ainda ligada anuncia que em outras seis grandes potências do mundo ocorreram tragédias iguais. Além do Eixo Rio e Sampa, os EUA, Suíça, África do Sul, Rússia, Austrália e China também tiveram ataques iguais.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> <br />Mas antes do repórter tenta completar a matéria, o sinal é bruscamente interrompido quando um machado de guerra coberto de sangue brilhante acerta a televisão. As hordas demoníacas estão materializadas, é o que vê Jonas. Um demônio voa em direção de Jonas e ergue enorme sua espada ameaçadora e violentamente. Não há tempo de desviar, apenas de lamentar não ter percebido a tempo. Com um arco perfeito a lâmina transpassa a cabeça de Jonas, dividindo-a em duas metades brilhantes. Jonas sente cada segundo de dor como se fossem horas. Tudo começa a ficar escuro. Completamente escuro...</i><br /><br /><br /><br />Fernando desperta de seu transe poucos segundos antes de ativar o dispositivo. Graças aos efeitos das festas fim de ano toda a Usina relaxava a vigilância e associado a seu tom de pele e a noite que caíra, ficara fácil chegar até o prédio da refrigeração. Era uma enorme estrutura cônica de alumínio completamente isolada termicamente e sempre ligada, por onde enormes dutos levavam o ar gélido para dentro dos reatores em um processo de resfriamento absolutamente necessário para manter todos os dispositivos da Usina funcionando em perfeita ordem. A bomba seria instalada em um canto escuro próximo ao painel de controle do sistema de refrigeração. Se acaso encontrassem a bomba no reator, essa bomba aqui dificilmente seria encontrada a tempo.</div><div style="text-align: justify;"><br />Porém, a visão que tivera foi bem clara, e ele não podia simplesmente negá-la naquele momento. Foi como Albano dissera minutos antes, os planos da Organização iam muito além de um simples ataque terrorista. Lembrou-se de quando perguntou a Albano se iam ficar com as motocicletas e ele nem entrou no assunto. As motocicletas não seriam necessárias no mundo dos mortos. Pra sanar suas dúvidas, aciona o dispositivo e vê que tinham menos tempo do que Albano dissera, ou sabia. A bomba não explodiria quando estivessem em segurança, mas exatamente no primeiro minuto de 2007 e em diversos pontos do mundo. Nesse momento estariam perto o suficiente pra morrer.</div><div style="text-align: justify;"><br />Sem hesitar Fernando corre até a praia e arremessa o dispositivo o mais longe que pode para dentro do enorme oceano. Mesmo que exploda, o próprio oceano protegerá a Usina de seus efeitos. Mais calmo pelo que fez, Fernando respira fundo e se dá conta que terá uma missão difícil pela frente, convencer Albano a desistir. Enquanto caminha em direção ao prédio da Administração da Usina, Fernando se deixa levar por uma curiosidade quase mórbida e olha para as nuvens do céu. Sorri maliciosamente ergue seu braço direito e coloca seu dedo médio em riste, numa chacota clara a quem quer que esteja observando tudo aquilo. Se seus olhos humanos pudessem ver, teriam visto uma enorme fera rosnar de raiva pela insolência.</div><div style="text-align: justify;"><br />Enquanto isso os ecos traziam sons de tiros.<br /><br /><br /><br />Marta estava sentada em sua mesa da recepção de Angra I. Ela se preparava para comemorar mais um final de ano naquele prédio deserto, mas dessa vez providenciara tudo para que estourasse fogos durante os fogos. Um dos seguranças da Usina, o Armando, estaria lhe esperando no segundo andar para comemorarem juntos o romper dos anos. E fariam jus ao trocadilho infame. Ela e Armando curtiam um caso desde que o enorme e másculo segurança negro de vinte e oito anos aparecera para prestar serviços pela sua firma de segurança. Marta, uma mulher bem vivida, funcionária pública, casada há vinte anos e no auge de seus quarenta anos bem conservados com muita malhação e um pouco de muito tratamento hormonal. Era um “tesão”, como diziam seus companheiros de trabalho. Ninguém desconfiava do caso dos dois, que havia começado dentro do carro de Marta logo no primeiro dia de trabalho de Armando, na garagem da Usina.</div><div style="text-align: justify;"><br />De repente seus afazeres extremamente importantes envolvendo maquiagem foram interrompidos pelo súbito som de pancadas do lado de fora do prédio. Pareciam estampidos de fogos contidos por alguma coisa. Marta estranhou e passou um rádio para a equipe de segurança externa. Não obteve resposta. Um calafrio percorreu sua espinha e ela imediatamente pegou o telefone para chamar pela polícia. Completamente mudo. Mais apavorada ainda tentou pegar seu celular apenas pra sentir-se pior ao constatar que o bloqueio de sinal funcionava perfeitamente bem. Estava completamente isolada de tudo.<br />De repente um dos seguranças externos invadiu o prédio dando disparos a esmo para o lado de fora. Marta jogou-se desesperada no chão, colocou a mão sobre a cabeça. Escutou mais tiros, gritos do segurança, e de repente um baque forte contra sua mesa. E mais nada, apenas um silêncio profundo. Não ousou se mexer, mas então sentiu um líquido pingar em sua nuca e escorrer por seu pescoço e entre os cabelos até chegar a sua boca. Instintivamente tenta ver o que é, mas antes que possa perceber ou confirmar do que se trata, uma mão a agarra pelos cabelos e a ergue violentamente de seu esconderijo até um enorme homem loiro de olhar cruel.<br />– Por favor... Não me mata! – Implora Marta, com o corpo todo banhado do sangue do segurança, que jaz morto no balcão.<br /><br />Tirolez olha a mulher nos olhos e diz “Ula Ta'lan L’nis’yuna.”, em seguida aponta sua FiveSeven munida de silenciador na cabeça de Marta. Uma lágrima escorre de seu rosto quando de repente ela escuta um tiro e um zumbido passa próximo dela. Tirolez se esquiva quase que instintivamente, mas deixa os cabelos da mulher escaparem de sua mão. Com uma procurada rápida com o olhar vê um enorme segurança negro apontando uma arma para ele. “Esse negro é bom...”, pensa Tirolez, dando conta que o tiro passou raspando pela proteção do ombro de seu sobretudo. Se fosse mais para a esquerda estaria morto.<br />– Largue a arma e erga as mãos. – Disse Armando, enquanto Marta corria até ele toda banhada do sangue de seu parceiro.<br />– Com prazer. – Responde Albano.<br /><br />O assassino solta a arma com certa violência contra o chão e de modo tal que assim que cai dispara aleatoriamente e diversas vezes, e ao mesmo tempo se joga na direção do balcão. Armando leva um susto e se coloca diante de Marta, para protegê-la de eventuais disparos. Esses milésimos de segundo dão tempo suficiente a Tirolez de sacar uma granada de fragmentação e a arremessar contra o casal enquanto salta para trás do balcão que agora serviria de trincheira. Pra aumentar a proteção puxa o corpo do segurança morto e cobre-se com ele, levando um banho de sangue.</div><div style="text-align: justify;"><br />Armando não pensa duas vezes quando vê a granada e só pensa na segurança de Marta. Ela tem uma família, e ele? Apenas é um enorme consolo que as mulheres utilizam pra satisfazer fantasias. E no fundo, ele realmente ama Marta e quer salvá-la de qualquer jeito. Por isso, sem hesitar salta sobre a granada e a cobre com seu corpo. Marta tenta algo, mas apenas escuta o som abafado da explosão destruindo Armando e o corpo de seu amante sacudindo por causa do impacto contido. “Corre”, diz Armando um segundo antes de tocar o chão. </div><div style="text-align: justify;"><br />Marta hesita por um instante querendo abraçá-lo e beijá-lo uma última vez, mas precisa correr como nunca. Deixa seus sapatos de salto alto para trás e corre em direção a saída, mas antes de passar pela porta é atingida por algo nas pernas e rola pelo chão. Ainda grogue vê uma cadeira da recepção ao seu lado, coberta de sangue, e sente uma dor enorme na canela direita. Ao olhar para a perna vê o osso exposto, fraturado pela violenta pancada. O louco arremessara a cadeira da recepção contra ela e agora caminhava friamente em sua direção.</div><div style="text-align: justify;"><br />“Amem!”, fala Albano, sacando sua segunda pistola e disparando contra o rosto de Marta, que tomba no chão, ainda viva. Obviamente Albano percebe, mas pra não desperdiçar mais balas, ele ergue a cadeira que arremessou segundos atrás e golpeia Marta diversas vezes até que de sua cabeça apenas restem fragmentos dos ossos do crânio espalhados pelo chão cobertos de sangue. Satisfeito com o resultado, joga o que sobrou da cadeira sobre o cadáver e vai até o elevador da Administração. Falta muito pouco para concluir a missão, e quando estiver na porta da área restrita ele e Fernando cumprem a missão e partem o mais rápido que podem. Apesar de não estar incluída nas ordens sua sobrevivência, Albano não deseja morrer ali. “Morte é a falha da missão do soldado.”, pensa.<br />No caminho Albano ainda mata mais dois seguranças e vai para o local de encontro.<br /><br /><br /><br />Ele aguarda solenemente o momento em que deve aparecer. Está sentado em uma cadeira na ante-sala do objetivo de todos. Ajeita seu terno impecável e penteia seus longos cabelos loiros. Precisa estar perfeito para o grande momento. São nove horas da noite, ainda faltam três horas para tudo acontecer. E vai acontecer. O insolente pode ter feito o que fez, mas ainda restava um dispositivo. Malditos anjos caídos, sabia que não podia confiar neles jamais, mas as circunstâncias tornaram isso obrigatório. Naquele momento era a única maneira. E tudo isso por causa daquela zombeteira que atrasou o plano dos planos.<br /><br /><br /><br />Fernando chega correndo ao saguão de entrada precisamente as nove e meia da noite. Demorou a chegar porque no caminho teve que espantar dois drogados que vieram assistir o tiroteio. Por sorte não precisou matar os dois, mas evitaria falar disso a Albano porque ele odiava testemunhas. Por sinal, o rastro de Albano era nem um pouco delicado. Até chegar a entrada viu pelo menos dez seguranças mortos, e quando coloca os pés no interior do prédio principal a primeira coisa que vê é uma mulher de aparentemente quarenta anos com a cabeça esmigalhada e espalhada pelo chão. </div><div style="text-align: justify;"><br />Não muito longe desse cadáver vê um outro segurança deitado no chão com uma poça de sangue debaixo dele. O cheiro recente de queimado e alguns fragmentos de granada dão a Fernando a noção exata do que ocorrera e desiste de virar o corpo pra ver o que acontecera. No final do saguão vê um corpo jogado no chão e um rastro de sangue leva até um dos elevadores. É fácil para Fernando saber para qual andar Albano foi, o botão do subsolo está marcado de sangue. Por um instante Fernando mostra-se preocupado com a quantidade de sangue.</div><div style="text-align: justify;"><br />Nove e quarenta da noite ele finalmente encontra Albano sentado diante da porta de acesso aos níveis restritos. Sua cadeira é formada por dois corpos dos seguranças amontoados um sobre o outro, formando uma espécie de cadeira mórbida. Seu parceiro está completamente coberto de sangue, mas aparentemente inteiro. E pra variar, está fumando apesar dos avisos do perigo de se fumar naquele ambiente. “Pra que se importar com avisos, se isso vai explodir mesmo?”, fala Albano notando o espanto de Fernando. O jovem negro pensa em avisar a Albano do perigo que correm naquele momento, mas é melhor fazer isso quando virem o timer se ativar. “Talvez o susto da proximidade da morte o torne mais sensato e menos obcecado.”, pensa Fernando, com muita esperança disso.<br />– Você chegou vinte minutos mais cedo. – Comentou Albano. – Nem comecei direito a fumar meu primeiro cigarro... Vamos logo, fez tudo direito?<br />– Sim. – Mentiu Fernando, descaradamente. – Estava pensando, quantos meses passamos juntos?<br />– Acho que quase seis meses, meio ano. – Disse Albano.<br />– Gostaria de dizer que foi muito bom ter você como amigo.<br />– Já vai começar com seus trejeitos? – Comentou Albano, rindo. – Te mato aqui mesmo... <br />– Bem, tem algo que quero lhe dar, pois estou com um pressentimento ruim. – Disse Fernando, sentindo-se estranhamente confuso.<br />– O que?<br /><br />Fernando salta sobre Albano e o beija apaixonado. Inicialmente, e provavelmente completamente chocado, Albano fica estático por muito segundos que nem uma estátua. De repente se dá conta do que está acontecendo e joga Fernando contra a parede. A primeira coisa que faz é puxar sua faca de caça e imprensá-la contra o pescoço de Fernando, quase degolando-o. Entretanto, pela primeira vez em sua carreira toda ele hesita. Não vai matá-lo naquele momento, apesar de Fernando ser completamente descartável, ainda mais depois dessa ousadia, ele surpreendentemente não quer vê-lo morto.<br />– Nunca mais faça isso. – Diz Albano, com o olhar cheio de ódio e ao mesmo tempo completamente chocado por dentro.<br /><br />Albano limpa sua boca com o sangue espalhado em suas roupas e pega um dos cartões de identificação dos soldados mortos. Digita a senha que obteve enquanto mentia dizendo que pouparia a vida deles se a fornecessem, e depois passa pela identificação de retina arrancando o olho de um deles. Um apito rápido e uma luz verde se acendem, dando aos dois a autorização necessária para avançar. Uma névoa branca e muito fria se espalha pelo corredor, cobrindo ambos até um metro de altura. Nesse momento ambos agradecem por terem lembrado de colocar sobretudo.</div><div style="text-align: justify;"><br />O assassino, munido de seu revólver, é o primeiro a entrar, seguido de Fernando. É uma sala branca, ampla, cheia de macacões brancos revestidos com chumbo. Um pouco mais a frente existe uma porta de vidro reforçada que dá em um outro ambiente que de lá podem ver que tem diversos chuveiros. Imediatamente os dois percebem que estão nas câmaras de descontaminação. Para evitarem problemas, ambos começam a se vestir adequadamente para o que têm que fazer juntos. E avançam para a sala seguinte.<br /><br /><br /><br />Os ímpios estão vestindo as roupas de proteção. O primeiro verme a entrar na sala de desintoxicação é o loiro oxigenado. Não gosto dele, ele fede a sangue e veste-se com o sangue dos inocentes. Mas ele é necessário. O insolente o segue como o pecador que é. Não importa, eu vou deixá-los darem passos largos em direção de minha humilde presença. Não quero que me percebam até que a porta esteja trancada. Providenciei névoa fria o suficiente para ocultar-me deles até julgar necessário. Eles precisam estar desse lado em que estou. Se quisesse os puniria de imediato, mas apenas Ele pode fazê-Lo e autorizar-me, mas darei a Ele a chance de escolha.<br /><br /><br /><br />Fernando e Albano caminham pelos chuveiros paramentados completamente para adentrarem no coração da Usina, o reator. Albano carrega consigo o dispositivo explosivo enquanto Fernando estuda formas de convencer Albano a desistir da missão. “Como convencer um homem a parar... Ainda mais um homem que usa corpos como cadeira?”, indaga Fernando perdido em pensamentos. Sempre de arma em punho, os dois evitam caminhar rapidamente e serem surpreendidos por algo desagradável saindo dessa névoa, que obviamente não é normal nesse ambiente. Está frio até demais para os padrões informados nos planos que estudaram nos últimos meses. Com cautela passam para a sala seguinte, faltando apenas mais uma para chegarem finalmente ao reator principal.<br />– Tome cuidado. – Falou Albano. – Não sabemos o que nos espera aq...<br /><br />Albano não consegue completar sua frase, uma força misteriosa o ergue no ar e o choca violentamente contra a parede. A arma de Albano é jogada do outro lado da sala e quando pára todas as balas da mesma se espalham pela sala saltando uma a uma do tambor do revólver. A caixa com os explosivos cai do mesmo jeito, desaparecendo na nevoa. Fernando até tenta fazer algo, mas a mesma força age sobre ele e o joga contra a parede diversas vezes. As pancadas são tão fortes que a roupa que usa se rasga, expondo-o a radiação. Uma dor terrível imediatamente percorre o corpo de Fernando, muito mais motivada pelo psicológico do que pela radiação em si, que é mínima. Os dois presos na parede por essa força misteriosa procuram pela origem do problema e vêem uma pessoa se aproximando vinda da sala seguinte.</div><div style="text-align: justify;"><br />É uma mulher de aparentemente vinte e poucos anos. Cabelos loiros e cacheados, olhos azuis e um semblante pacífico. Usa um batom levemente avermelhado e seu rosto está levemente corado. Veste um terno branco igual aos dos malandros da lapa, que deixa suas belas curvas ainda mais sensuais, com uma rosa vermelha na lapela. Sua mão direita segura o tradicional chapéu de palha, completando o visual. Fernando e até mesmo Albano ficam hipnotizados pela beleza pura e profunda da mulher de vestes pouco usuais. Mas algo na moça faz com que ambos sintam-se um tanto perturbados por sua presença.<br />– Ímpios... – Balbucia a mulher de voz doce e serena, sem aparentar nenhuma raiva. – Vieram até aqui para falhar?<br />– Falhar? – Estranhou Albano. – Como assim falhar?<br />– Exato, Albano. – Disse a mulher. – Existe uma mácula em seu plano.<br />– Se você sabe meu nome, acredito que mereça ao menos saber o seu...<br />– Sônia,... Ou arcanjo Bismaah, 15º das tropas de São Rafael... Só não sei que diferença faz saber meu nome...<br />– Faz, ao menos tenho o que colocar na lápide.<br />– Na situação em que se encontra, acreditas realmente que vai conseguir algo além de quicar na parede até eu me cansar?<br /><br />As palavras da mulher foram enfáticas e num piscar de olhos Albano quicou na parede diversas vezes. O som dos ossos de Albano estalando e sendo quase quebrados era escutado por todos na sala. E apesar de todos esses atos, o olhar de Sônia não mudava, ela continuava calma e serena. Fernando em paralelo se indagava em como ajudar seu parceiro a sair dessa situação, mas não conseguia pensar em nada.<br />– Satisfeito? – Afirmou Sônia, jogando o corpo dolorido de Albano no chão. – Agora pode me ouvir ou continuo de onde parei?<br />– Fale... – Balbuciou Albano. – Nada que disser vai me convencer a não te matar.<br />– E quanto a matar o negro ao seu lado?<br />– Ele?<br />– Sim, acredito que esse PC de bolso que carrega seja capaz de ver um vídeo interessante filmado pelas câmeras de segurança... Não?<br />– E onde está esse vídeo?<br />– Aqui.<br /><br />Sônia sacou do bolso um pequeno cartão de expansão de memória. Foi calmamente até Albano e o encaixou no PDA que seria utilizado para sincronizar os explosivos. Albano nada podia fazer a não ser assistir, pois estava completamente imóvel. Subitamente Fernando sentiu um calafrio ao ver o PDA ser ativado por Sônia e abrir o programa de executar arquivos de mídia. Propositalmente Sônia se colocou na frente de Fernando, impedindo-o de assistir ao vídeo. Fernando viu nitidamente o semblante de Albano mudar e seu olhar assassino assumir o comando novamente. Um novo calafrio percorreu sua espinha.<br /><br /><br />Sem demonstrar nenhuma emoção, Sônia se levantou e foi até a arma de Albano. Analisou-a, abriu o tambor vazio e uma a uma as balas que estavam espalhadas pelo chão voam e voltam para o lugar onde tinham saído. Albano e Fernando permaneceram calados o tempo todo, vendo a arma ser colocada de volta em atividade. Quando a última bala encaixa no tambor, Sônia deposita o revólver no chão e o chuta até Albano. Imediatamente o assassino se vê livre novamente e pega sua arma. Fernando se esforça pra se mexer, pressentindo que algo está errado, mas a única coisa que consegue é rasgar o que resta de suas roupas sendo novamente chocado diversas vezes contra a parede.<br />– Quer ver o vídeo, meu amigo? – Fala Albano, olhando fundo nos olhos de Fernando.<br />– Do que está falando que tem no vídeo? – Pergunta Fernando, nervoso, mas sem entender o teor do vídeo.<br />– Este vídeo...<br /><br />Albano pega o PDA e mostra o vídeo a Fernando. É uma gravação do sistema de segurança, mostrando exatamente o momento em que Fernando ergue o dispositivo em frente o cais e o arremessa no mar. Os olhos de Fernando não acreditam no que vêem e passa a ter a certeza de que tudo está perdido.<br />– Em uma guerra, sabe o que acontece com os soldados que traem a tropa?<br />– Albano, deixe-me explicar... Nós vamos morrer! Fomos traídos e sacrificados pela Organização! A bomba está programada pra nos levar junto! Espere!...<br /><br />Fernando não consegue completar a explicação. Albano dá seis tiros no peito dele, que tomba no chão já morto. Sônia finalmente sorri quando vê o corpo morto de Fernando no chão e comemora internamente. Ela vê no braço de Fernando a marca daquele que mais odeia, a assinatura da Sombra. Dessa vez a maldita Sombra não conseguiu adiar o inevitável. Dessa vez, ela foi derrotada. Dessa vez tudo vai acontecer do jeito que querem, mesmo que para isso tenham que ter ajudado os malditos anjos caídos. Albano abaixa a arma e algo em seu semblante parece mudar, mas que Sônia, imersa no próprio orgulho, não percebe.<br />– Parabéns soldado. – Falou Sônia, trazendo consigo o dispositivo explosivo e o entregando nas mãos de Albano. – Agora, a próxima sala é seu destino. Os técnicos lá dentro estão mortos... Seus corações pararam, sabe?<br />– Diga-me uma coisa, porque vocês fizeram isso? – Pergunta Albano, enquanto confere seu revólver.<br />– Porque há anos vemos a humanidade se degradar, se destruir uns aos outros... E nada podemos fazer a não ser pescar entre os ímpios poucos dignos de escapar da entropia humana. Se não fosse o Pacto das Águas, já teríamos dizimado sua civilização e eliminado esse câncer que tanto alimenta as hordas infernais... Tudo por causa do Livre Arbítrio.<br />– Estranho, não deveriam proteger a humanidade? Não foi esse o motivo da queda de tantos de vocês? Discordar disso?<br />– E é o que faremos... Protegeremos a humanidade dela mesma. Uma nova era, sob o nosso julgo, pois ganharemos dos cães do Inferno na guerra que eles querem começar. Assim está escrito.<br />– E todos os seus são partidários disso?<br />– Nem todos... Existem alguns que ainda acreditam na raça humana, cegos por um amor que não deveria existir.<br />– No final das contas vocês são bem parecidos com os sem asa...<br />– Encare como quiser, soldado... Faça o que sabe fazer de melhor, cumprir ordens.<br /><br />Albano ergue-se a caminha calmamente em direção a próxima porta. Sônia sorri discretamente, satisfeita por ter dado a vitória aos inferiores a ela. Sabe que cometeu pecados, mas Ele perdoará todos os seus irmãos que participaram disso. Ele perdoará quando assistir os frutos de seus atos. Todos os seus irmãos alados avessos a essa visão os perdoarão por isso, todos. E agora falta tão pouco para a primeira trombeta soar, que Sônia se deixa escutar ao longe o bater das asas das tropas ávidas pelo combate. E então escuta um som nada convidativo, o de uma arma sendo engatilhada.<br /><br />O assassino aproveita-se da distração da mulher e gira o corpo disparando os dois últimos tiros de seu revólver. As balas atravessam o peito de Sônia, que cai no chão completamente desconcentrada, e incapaz de manifestar seus poderes por causa da dor intensa no peito. “Malditas carcaças...”, lamenta Sônia por estar presa a carne e suas dores. Ainda caída no chão ela gira seu corpo e olha Albano nos olhos, ergue sua mão direita para invocar suas últimas forças. Albano saca sua faca de caça e decepa a mão de Sônia antes que possa fazer seu truque novamente. Sônia grita de dor e segura o coto de sua mão que solta muito sangue.<br />– Tem uma coisa que eu quero que você leve contigo para seus semelhantes... – Diz Albano.<br />– O que? – Pergunta S6onia, antevendo seu destino.<br />– Isso!<br /><br />Tirolez rasga a roupa de proteção e seu sobretudo com a faca. Expondo exatamente a mesma marca que há no corpo do recém-falecido Fernando. A marca da Sombra. Sônia observa estupefata a revelação de Albano e é tomada por uma fúria tamanha que seus poderes voltam a funcionar. Ela produz um vento misturado a chamas divinas, e joga Albano novamente contra a parede. O ataque é tão violento que pedaços do chão são carregados pela ventania, atingindo Albano diversas vezes como se fossem navalhas. Albano não demonstra sofrer, e apenas exibe um sorriso malicioso nos lábios, deixando bem clara sua mensagem. Os olhos de Sônia já estão pesados por causa da perda de sangue, mas ela está completamente disposta a levar Tirolez com ela.<br />– Sabe o que mais gosto nesse país? – Berra Albano, sentindo a pressão de ar querendo tomar-lhe a consciência.<br />– O que? – Berra Sônia, querendo prolongar o sofrimento de Albano.<br />– A eficácia de nosso serviço público.<br /><br />Sônia é atingida em cheio por um pedaço de reboco que solta do teto. Como seu próprio vento era violento por demais, o reboco joga a mulher contra Albano que a pega num abraço mortal. Sônia sente quando Albano encrava-lhe a faca na barriga e a gira. “Nos vemos no inferno.”, diz Albano, e sem tirar a faca do corpo de Sônia faz um arco para cima abrindo um enorme corte na mulher que começa em sua barriga e vai até seu ombro direito. Já sem nenhum esboço de vida Sônia cai no chão e toda a violência de seus ataques cessa. Albano, livre de tudo, pega novamente a caixa explosiva e caminha cambaleante em direção ao reator. Ele vê a hora, ainda são dez horas da noite, ainda há tempo de cumprir sua missão.<br />– Um soldado sempre cumpre sua missão.<br /><br /><br /><br />Em todo o mundo a rede da Organização entra em colapso. Não há resposta alguma dos dispositivos que deveriam ter sido instalados na Usina de Angra I. Regina recebe diversas ligações.de outros líderes, querendo respostas sobre a falha do núcleo do Rio de Janeiro. E falha significa morte na Organização. Ela tenta diversas vezes ligar para o celular de Albano e de Fernando, mas a única coisa que escuta é a mensagem da operadora avisando que os celulares estão fora da área de cobertura. Faltam apenas um minuto para a meia-noite e nada de obter resposta.<br /><br /><br />Regina naquele momento está dentro da sede da Organização, preparando seu helicóptero para fugir dos detritos nucleares que chegarão depois da explosão. Mas a falta de informações a respeito de seus assassinos a preocupa. Os satélites informavam que nada ocorrera, então não tinham morrido por causa de nenhuma explosão, e Albano era bom demais para falhar desse jeito. Já escutava de longe o eco dos fogos sendo disparados pelo Rio de Janeiro. As luzes de 2007 estavam à espreita e nada tinha acontecido. Faltavam menos de um minuto para explosão.<br /><br /><br />De repente Regina escuta o som de tiros, muitos tiros. E gritos. Ela rapidamente chama pela segurança pessoal e se lembra que enviou seu soldado principal para a morte. Por ordens do maldito Niamaran. Ela nunca sacrificaria seu melhor soldado e amante, nunca. O som de tiros cessa e alguém gira a maçaneta da sala de Regina. Ela sente a morte próxima, mas quem vê entrar na sala é Albano.<br /><br /><br />Suas roupas estão em frangalhos. Ele está coberto de sangue e seus olhos estão tomados por sua fúria assassina. Regina, ignorando o perigo corre até ele e o abraça. É um abraço sincero, ela realmente gosta dele. Abados se importa com Albano. A retribuição vem na forma de um chute violento na barriga que a joga contra a mesa. Regina tenta se levantar, mas não consegue. Dói muito e várias costelas quebraram com a pancada.<br />– Albano? O que aconteceu? – Pergunta Regina, assustada.<br /><br />Tirolez não responde e apenas mostra a ela o dispositivo explosivo restante. Ele aperta o botão azul do dispositivo e o display mostra que restam apenas três minutos. Regina desespera-se mais ainda, e se esforça em se levantar para correr. Albano saca sua pistola e atira nos joelhos de Regina, que cai no chão gritando de dor e chorando. “Eu te amava maldito... Eu te amava! Eu nunca quis te enviar para lá! Nunca!”, berra Regina, sofrendo mais pela traição súbita dos sentimentos de Albano do que pela dor física. Sem olhar para trás Albano abandona o dispositivo e parte, deixando apenas o dispositivo.<br />Regina se arrasta em vão pelos corredores da Organização tentando fugir.<br /><br /><br />É zero hora e três minutos do primeiro dia do ano que se inicia, 2007...<br /><br /><br />Os fogos tomam conta de Copacabana. É um espetáculo maravilhoso de luz e sombras. Como nos anos anteriores o investimento no espetáculo provoca maravilhas nas pessoas. De repente uma enorme explosão é escutada por todos e um clarão vem do centro da Cidade. Todos imaginam se tratar de parte da comemoração e aplaudem felizes pelo início de um novo ano. No centro da cidade os últimos andares do prédio 1056 da Avenida Presidente Vargas estão em chamas. Os bombeiros, ainda entorpecidos pelas comemorações demoram pelo menos cinco minutos para chegar e vêm um espetáculo de chamas e horror que muitos carregarão para sempre com eles. A explosão foi tamanha que havia chamas em pelo menos quatro prédios vizinhos, e até mesmo a pista central da Av. Presidente Vargas estava coberta de destroços. Se existia algum ser vivo naquele lugar, não teria o que se enterrar.<br /><br /><br /><br />Em um desfiladeiro vermelho, em algum lugar muito distante, duas taças de champagne chocam-se uma com a outra. São seres satisfeitos e felizes com o resultado de tudo. Bebem com louvor do líquido e tornam a encher os copos. Há muito que comemorar naquele início de ano. No último gole arremessam a garrafa e as taças na imensidão do Rio Cinzento.<br />– Eu falei que conseguiria... – Diz a Sombra.<br />– É, eu sabia, nunca duvidei de você. – Respondeu o outro ser, envolto por um manto cinza claro.<br />– E agora o que faremos?<br />– Curtir nossa vitória...<br /><br />E os dois seres gargalharam...<br /></div><br /></div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-33271826986960558602007-05-14T21:40:00.032-03:002021-10-17T02:07:05.685-03:00Revelações de Jonas, Missão: Sexta Fase da Missão<div style="text-align: center;"><div><b>Revelações de Jonas: Missão<br /></b></div><b>Sexta </b><b><b>Fase </b>da Missão<br />Execução</b></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Os corpos foram queimados nos minutos que se seguiram. Tirolez jamais perderia essa oportunidade, por mais que doesse sua perna em virtude do tiro que levara. Ainda tinha disposição suficiente para correr uma maratona se precisasse ou se ordenassem. Providenciou durante a queima que a Carne Moída ficasse em uma posição de destaque e deu-lhe um banho especial de gasolina para queimar melhor e por mais tempo.</div><div style="text-align: justify;"><br />Enquanto isso uma equipe da Organização providenciou uma substituição do carro queimado de Albano por um de seus outros dez carros. Como estavam próximos de uma das bases operacionais, a Ilha do Fundão, a substituição ocorreu em menos de dez minutos dando aos dois agentes tempo o suficiente para seguirem viagem rumo ao aeroporto ainda a tempo de acompanharem Amanda para Angra dos Reis. Fernando permaneceu o tempo todo calado, voltando a falar apenas quando entraram novamente no novo carro. <br />– Como você conseguiu sobreviver? - Perguntou Fernando, depois de muito tempo sem falar. <br />– Sorte e um pouco de habilidade. – Respondeu Albano. <br />– Habilidade? – Perguntou Jonas. <br />– Sim, treinei rolamento por muitos anos e fiz cursos de dublê de filmes de ação em Hollywood, com isso aprendi que tipo de roupa vestir e como preencher minhas roupas com química de escola. <br />– Roupas? Química de escola? <br />– Você realmente acha que eu vestiria um sobretudo num calor tropical só por causa de visual? <br />– Bem... <br />– Não, ele é preenchido com uma camada protetora que agüenta alguns tiros, e na camada superficial tem bolsas de plástico recheadas com sangue do diabo... Está vendo sangue em mim além do da perna? <br />– Não.<br />– É disso que eu falei... Sangue do Diabo é uma substância que se fazia em casa nos meus tempos de escola. Misturamos Lactopurga com amônia e temos um sangue falso muito convincente, mas que some depois de alguns minutos.<br />– Estranho...<br />– O que?<br />– Quem te vê com toda essa calma nem imagina que minutos atrás você estava queimando um monte de gente...<br />– É porque matei... Como te disse mais cedo, eu sou viciado em matar, e quando mato fico calmo demais.<br /><br />Fernando se calou novamente. Já tinha visto e ouvido demais para aquela noite, e só queria terminar aquele serviço o mais rápido que pudesse. Primeiro uma qualquer que se achava a rainha da cocada preta, depois um tiroteio. "Preciso dormir logo", pensava Fernando quase dando cabeçadas na janela do carro.<br /><br /><br /><br />Amanda aguardava impaciente pelo retorno dos agentes. Sua vontade era ter pego o jatinho assim que chegaram ao aeroporto. Mas não! Ela era obrigada a esperar por ordens expressas de Regina. Ao final de uma hora entediante os dois chegaram. Albano mancava e estava com uma das pernas coberta de sangue. O negro parecia estar bem. Amanda queria que o negro tivesse morrido. Ela odiava essa raça, e depois de iniciada continuava a odiar ainda mais.<br />– Saudades... – suspirou Amanda, diante dos outros agentes que a acompanhavam.<br />– Do que? – Perguntou o agente, estranhando a súbita mudança no tom de voz sempre arrogante de Amanda.<br />– De meu outro eu... Se fosse naqueles tempos não me sentiria suja. – Respondeu Amanda.<br />– O que você era antes? – Continuou o agente.<br />– Ku Klux Klan. – Afirmou Amanda, olhando com orgulho enquanto notava que Fernando escutara tal nome.<br /><br />Fernando bem pensou em responder Amanda a altura, mas foi contido por um puxão de Albano em sua camisa, fingindo pedir auxílio para andar. “Não... Deixe o dela pra depois... Primeiro as ordens! Sempre as ordens!”, sussurrou Albano no ouvido de Fernando. O jovem negro precisou realmente se controlar para ao menos não dar um sonoro bofetão naquela mulher irritante, mas pelo olhar de Albano sabia que nada de bom viria. E pra evitar problemas passou o restante do tempo cantarolando músicas em sua mente pra escapar das provocações que escutaria durante a viagem.<br /><br /><br /><br />Mesmo com todos os atrasos, os quatro agentes da Organização e Amanda ainda conseguiram chegar até o pequeno aeroporto de Angra por volta das quatro da manhã. Para evitar complicações nos ferimentos de Albano, o assassino foi direto para um hospital particular financiado pela Organização para tratar da perna. Fernando permaneceu na pousada onde se hospedaram o restante da madrugada e até o horário em que Albano retornou. Nitidamente aborrecido porque os médicos queriam que ficasse em repouso, mas Albano somente o faria após cumprir suas obrigações. Por volta das cinco horas da tarde do dia seguinte o telefone celular de Albano tocou. Ele e Fernando já estavam num táxi a caminho do aeroporto quando Regina fez sua ligação revoltada:<br />– O que diabos vocês estão indo fazer no aeroporto a essa hora?<br />– Bem, você disse para não sairmos de Angra... Ia te ligar do Aeroporto. – Respondeu Albano, relativamente ríspido.<br />– Pois então voltem para a pousada. Amanda irá encontrá-los dentro de meia hora. – Ordenou Regina, desligando o telefone em seguida.<br />– Droga. – Reclamou Albano, enquanto colocava o telefone no bolso.<br />– O que foi? – Perguntou Fernando, não gostando do tom de voz de Albano.<br />– Temos que voltar, aquela filha da puta da Amanda tem ordens da Regina para nós!<br />– Merda!<br /><br />Imediatamente Albano ordenou ao taxista que os levasse de volta a pousada e em menos de vinte minutos estavam novamente no saguão do local. Amanda estava sentada no bar do hotel, bebendo um whisky e tragando um charuto provavelmente de Havana. Como sempre, ela estava acompanhada de seus seguranças, pelo menos oito seguranças dessa vez. Era estranho ver uma mulher com tal fisionomia tragando um charuto com tamanha facilidade, mas era exatamente isso que ocorria. E o charuto fedia tanto que o gerente do hotel sentia-se incomodado, mas por ela ser quem era deixava passar direto e fingia ignorar.</div><div style="text-align: justify;"><br />Os dois agentes da Organização sentaram-se diante de Amanda, puxando um banco de madeira cada. Albano puxou um cigarro e começou a fumar, fazendo questão de soltar à fumaça em cima de Amanda. Fernando pensou em sorrir com isso, mas pra evitar maiores discussões optou por ficar calado enquanto pudesse.<br />– E então? Diz logo... – Falou Albano, deixando transparecer sua irritação.<br />– E perder a chance de saborear o momento? – Respondeu Amanda, dando uma longa tragada no charuto e retribuindo o banho de fumaça de Albano. – Falo quando quiser, o interesse é de vocês... Se quiser espero o dia todo só pelo prazer de tê-los submissos ao meu lado.<br />– Devo lembrá-la que posso ligar para Regina a qualquer momento? – Disse Albano, com um sorriso no rosto e pegando o celular em seu bolso e começando a ligar. – Se por acaso suas atitudes prejudicarem a Organização, estou autorizado a... Você deve lembrar, não?<br /><br />Amanda gelou e parou de fumar. Acenou aos seguranças que foram direto até o gerente e pediram a chave de um quarto. De chave entregue, um dos seguranças vai em direção aos quartos e os sete restantes foram Os três – Albano, Fernando e Amanda. – se levantaram e caminharam até esse quarto, acompanhados de perto pelos seguranças da mulher. No que chegaram, foram recepcionados pelo segurança que saiu na frente. Para entrar no quarto dois seguranças acompanharam Amanda e os cinco restantes ficaram no corredor em frente a porta do quarto. </div><div style="text-align: justify;"><br />Não que não quisessem entrar, mas o quarto era pequeno para tanta gente. Dentro do quarto ficaram então três dos seguranças de Amanda, a própria, Fernando e Albano. Era um quarto típico da região. Apenas um armário simples, uma cama de casal e a porta do banheiro da suíte. Ao menos tinha uma enorme janela que dava para ver a Praia do Retiro. Amanda sentou-se na enorme cama e tornou a acender o charuto, ordenando aos seguranças que trouxessem a encomenda. Imediatamente um dos seguranças que ficou do lado de fora foi correndo em direção ao carro dela.<br />– Deve demorar uns cinco minutos... Podemos conversar enquanto isso... – Balbuciou Amanda, sem retirar o charuto da boca. – Você, crioulo, como conseguiu entrar na organização? Ouvir dizer que é biba... Como consegue não agarrar esse deus romano ao seu lado?<br />– ...<br />– É preta e muda? – Disse Amanda, continuando a provocar. – Deve ser o sotaque de Paraíba dele que te irrita, não? Eu também odeio essas merdas... Pretas, paraíbas... Essas porras tinham todas que morrer! Mas eu? Sou uma mulher perfeita! Tenho o dinheiro de meu marido pra me sustentar e um monte de político querendo meu rabo... Vou ficar cheia da grana em pouco tempo! E vocês? Vão encher o rabo de chumbo mais cedo ou mais tarde... Pelo menos a pretinha vai curtir.<br /><br />Fernando fez menção de avançar e quebrar a cara de Amanda, mas ela foi salva pela chegada repentina do segurança que fôra até o carro. O rapaz trazia consigo uma pasta preta grande, no formato A2 e a colocou sobre a cama. Amanda a abriu e retirou dela algumas plantas avulsas. Fernando e Albano observaram os papéis com interesse e leram em diversos que se tratavam de material da EletroNuclear, a agência nuclear do Brasil. Eram todas as plantas da Usina Nuclear de Angra I. Sem entender do que se tratava, Albano e Fernando analisaram o material sem compreender a magnitude de tudo aquilo, até que Amanda recomeçou a falar:<br />– Bem, seus cérebros atrofiados não devem estar compreendendo... Essa é a missão de vocês.<br />– Missão? – Perguntou Albano, sem levar Amanda a sério.<br />– Sim, no dia 31 de dezembro desse ano, quando derem onze horas e cinqüenta e nove minutos, vocês deverão explodir todo o complexo nuclear de Angra I.<br />– Entendo. – Respondeu Albano, sem demonstrar muita preocupação.<br />– Dentro em breve as pessoas da organização entrarão em contato com os detalhes da missão, até lá serão felizes habitantes de Angra dos Reis.<br />– Essa era sua participação na missão? – Perguntou Albano.<br />– Sim, porque a pergunta? – Respondeu Amanda. – Eu deveria trazer e obter os planos e mapas de Angra I para vocês, depois estaria livre pra curtir a vida.<br />– Ótimo.<br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/#"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrHSZcLmbW8ejYiKBI6pQKcumi6ub_Xu6VWnBbFQvJiaiwNRxNQB6RvHgZ3PVl-jMOQdQr-w8xsPVIWuWEQn12u5D1jmLLk8Y1W1VqzyKi7rH1PO59pRTKH18444VhaDs_snlhDw/s320/angra1.jpg" /></a><br />Angra I, um belo lugar, não? </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Antes que Albano pudesse fazer o que queria, Fernando sacou sua arma FiveSeven e disparou duas vezes acertando o peito de Amanda, que voou pela cama em direção a parede do quarto. Os seguranças tentaram ensaiar algum movimento, mas foram mortos por Tirolez que foi mais rápido e deu um tiro certeiro no joelho de cada um. Os dois assassinos rapidamente trocaram olhares e Fernando caminhou até Amanda, que estava caída no chão chorando cheia de dor.<br />– Dói, não? – Perguntou Fernando, enquanto recarregava a arma e se aproximava mais.<br />– Preto desgraçado... Preto desgraçado... – Falava Amanda, com as mãos no peito.<br />– Sabe, até te conhecer eu pensava duas vezes antes de matar alguém... – Continuou Fernando, até se aproximar de Amanda e poder sussurrar em seu ouvido. – O legal é que vou te destruir em definitivo, vês a sombra? Diz a ela que a “preta biba” te aguarda...<br /><br />Os olhos de Amanda viram algo que não tinha percebido antes e ela tentou gritar por ajuda, mas era tarde demais. Fernando descarregou a arma na cabeça de Amanda, que no final dos disparos era apenas um enorme cadáver decapitado coberto de sangue e restos de crânio. Tirolez se aproximou de Fernando e colocou-lhe a mão direita sobre o ombro de Fernando. “Matar é viciante...”, disse Tirolez enquanto dava um último disparo sobre Amanda, cujo corpo ainda apresentava espasmos involuntários. Os seguranças foram poupados, não por piedade, mas porque eram membros da Organização, e conseguiram avisar Albano a tempo. Se tivessem demorado, com certeza teriam sido todos mortos. Minutos depois do assassinato, enquanto o corpo de Amanda estava sendo levado para o esquecimento, o telefone de Albano tocou, era Regina novamente:<br />– Você não consegue deixar de matar, não? – Perguntou Regina, com a voz carregada de ironia.<br />– Dessa vez não deu tempo... O calouro foi mais rápido que eu, quando vi já tinha dado dois tiros na vagabunda. – Respondeu Albano, fazendo questão que Fernando escutasse. – Qual a missão exatamente?<br />– Bem, vocês dois vão passar o restante do ano aí observando os hábitos de Angra dos Reis para na ultima noite do ano instalar um dispositivo que vai destruir a usina nuclear de Angra I.<br />– Posso saber o motivo?<br />– Não, apenas cumpra as ordens... Mas não se preocupe, o dispositivo tem um timer e ele vai explodir três horas depois que tiver partido, logo, terão tempo pra fugirem.<br />– Não me importo em fugir, apenas em cumprir a missão... A qualquer custo.<br /><br /><br />Os meses se passaram. De Maio a Junho de 2006 era tempo o suficiente para que conseguissem mapear toda a cidade e criar rotas de fugas que lhes permitissem fugir caso algo desse errado e para evitar atrasos se desse tudo certo. Fernando e Albano receberam informações o suficiente para saber que a explosão nessa área afetaria as duas usinas e que fatalmente todos numa área de pelo menos quinze quilômetros morreriam sem saber o que os atingira. Os demais, em um raio de pelo menos 100km, morreriam em conseqüência da nuvem de radiação.</div><div style="text-align: justify;"><br />Durante esse período os contatos entre Fernando e a Sombra cessaram. Jonas tentava todas as noites viajar até o desfiladeiro vermelho, mas não encontrava nem a Sombra quanto nenhum dos demais. Até mesmo as tropas de Dragon estavam ausentes. Em contrapartida, Albano todos os dias ligava para Regina e prestava relatórios sobre seus avanços na cultura local. Em diversas noites Fernando jurou ter escutado gemidos femininos e ter reconhecido a voz de Regina no quarto de Albano, mas desejando evitar problemas Fernando nem comentou a respeito.<br />E o tempo passou...<br /><br /><br />Dia 31 de Dezembro de 2006. Ao amanhecer o telefone de Albano tocou. Era Regina avisando que “os fogos chegariam a Angra por volta das duas horas da tarde”. O assassino avisou a Fernando do fato e precisamente às duas horas da tarde, um carro preto da organização chegou à pousada. De dentro dele saíram dois agentes carregando uma enorme mala de metal que deixaram aos cuidados de Fernando. O rapaz levou a mala, muito pesada, até o quarto de Albano e a abriram. Dentro dela tinham duas caixas cinzentas com um display negro apagado e um Pocket PC desligado. Sem entender o funcionamento do equipamento, Albano telefonou para Regina novamente, querendo entender o que faria.<br />– Estamos com os fogos... Mas como funcionam? – Perguntou Albano, direto e sem rodeios.<br />– Existe em cada dispositivo um botão azul. Esse botão ativa o contador de tempo dos explosivos e os deixarão em modo de espera aguardando uma confirmação à distância. Para essa confirmação, junto com os explosivos virá um PDA com dispositivo com comunicadores sem fim em diversas bandas, desde a Infra Vermelha a Wireless. O PDA é que vai fazer a sincronização entre os dois, ou seja, vocês ativam os dois explosivos, e o timer vai se iniciar, em seguida deve ativar a sincronização pelo PDA que vai fazer com que o contador de ambos se iguale tomando como base o dispositivo ativado primeiro. – Explicou Regina.<br />– E o que acontece se não ativarmos o PDA?<br />– O dispositivo ativado primeiro, explode primeiro... Simples assim. O contador funciona de modo independente, vocês apenas sincronizam a explosão com o PDA.<br />– Entendi, e qual o raio de explosão dessas coisas?<br />– De três quilômetros separadas, e de pelo menos 8km juntas... Sim, elas afetarão Angra II, se é essa sua dúvida... – concluiu Regina, desligando o telefone.<br />– Ordens são ordens. – Afirmou Albano, guardando o celular diante do olhar preocupado de Fernando. – E como soldados, as obedeceremos a qualquer custo. Qualquer custo.<br />– O que ela disse? – Perguntou Fernando?<br />– Desejou sorte, apenas. – Responde Albano, com sua franqueza tradicional.<br /><br />Fernando aceitou a falta de informações de Albano e continuou estudando os explosivos. A única coisa que Albano explicou a Fernando foi que o botão azul servia para iniciar o timer das bombas, do resto nada disse. “Não vale a pena dizer a ele, isso não é algo que lhe cabe...”, pensou Albano ao terminar de mostrar o que fazer. Com esses últimos detalhes, apenas faltava agora executar o plano. Curtiriam um almoço como se fosse a última refeição e depois dariam conta dos últimos detalhes antes de iniciarem efetivamente essa missão.<br /><br /><br />Os planos de invasão da Usina de Angra I eram bons o suficiente e dentro do esperado pelo que a Organização sempre fornecia. A única exigência era que os explosivos deveriam ser colocados nos pontos desejados até as onze e quarenta da noite, no máximo. Qualquer atraso significaria fracasso total e os dois agentes pagariam pela falha. Albano e Fernando passaram o restante do dia verificando o equipamento. Para sorte de ambos era um dia frio e movimentado. Era bom estar frio porque tornaria mais suportável utilizarem os sobretudos da Organização, e a movimentação era boa porque ninguém repararia em dois indivíduos de sobretudo passeando pela cidade em plena festa de ano novo.</div><div style="text-align: justify;"><br />Para evitar problemas com engarrafamentos, ambos optaram por utilizarem motos, que rapidamente foram cedidas por uma das concessionárias locais após duas ligações para a Organização. Eram duas belíssimas motos da Harley-Davidson de 1948, idênticas, que haviam pertencido antes a Marinha do Brasil e foram vendidas como sucata a uma das concessionárias. Fernando sentia-se um deus sobre a moto, e até mesmo o sempre sisudo Albano parecia maravilhado pela oportunidade de pilotar tal raridade.<br />– Penso seriamente em ficar com ela depois da missão. – Comentou Fernando.<br />– Que bom. – Respondeu Albano, sem dar muita importância a empolgação do jovem rapaz.<br /><br /><br /><i><br />Se olhos humanos pudessem ver seriam tomados por um completo horror. Além das nuvens, onde o céu é mais azul uma enorme massa negra sobrevoava a cidade de Angra dos Reis. Uma horda absurda de feras das sombras urrava ansiosa pelo primeiro badalar dando a elas total liberdade. A liberdade de se alimentarem de todas as pobres almas da face da Terra. Dentre elas uma se destacava. Sua forma era bestial, assemelhava-se com um imenso cachorro de olhos vermelhos e chifres enormes semelhantes ao de um bode. Sua boca tinha enormes presas de trinta centímetros de comprimento em média. Ele era inteligente como um predador observando sua caça e desejava muito saborear o espírito humano.<br />– Mestre... Mestre... Quando poderemos descer? – Perguntava um demônio de asas pequenas e corpo ainda menor, mas com olhos famintos.<br />– Em breve... Apenas devemos aguardar que as carniças cumpram sua missão, e então... Poderemos nos alimentar. – Respondeu o enorme ser, sem sequer dirigir o olhar à criatura inferior.<br /><br />Não muito longe dali, em um pequeno hospital psiquiátrico do governo, a maioria dos pacientes berrava incessantemente. Dentre eles destacava-se um senhor de aproximadamente oitenta anos, chamado entre os seus de “Profeta”. Ele debatia-se violentamente contra as janelas de seu quarto, tentando fugir de algo que os médicos julgavam ser a loucura causada pelos fogos de fim de ano. Se os médicos pudessem ver o que o “Profeta” via, com certeza se juntariam a ele como os demais “loucos” fizeram.<br />– Eles estão a espreita! O capeta quer nossas cabeças! – Berrava o “profeta”. – Jesus! Tende dó de nós! Jesus!</i><br /><br /><br />Finalmente Albano e Fernando chegaram a porta das instalações da Usina Nuclear de Angra I. Devido aos problemas típicos de ano novo, os infernais engarrafamentos que ocorriam sempre e os muitos quebra-molas pelo caminho, mesmo indo de moto apenas chegaram no local por volta de oito horas da noite. Albano sacou de seu bolso dois relógios de pulso e os sincronizou, entregando-os a Fernando. Fernando pegou o relógio, o colocou no pulso e notou que não havia sincronização de horários, mas apenas um timer digital marcando o tempo que ainda tinham para ativar os explosivos. </div><div style="text-align: justify;"><br />Os dois tinham todo o mapeamento da área na cabeça. Diversas vezes se passaram por estudantes para conhecer pelo menos os corredores da administração do prédio principal. Nada poderia dar errado, estava tudo contabilizado. Fernando seria responsável por colocar os explosivos no sistema de refrigeração do Reator, que ficava em um prédio anexo ao principal, e Albano invadiria o prédio principal e tentaria chegar até o reator para instalar o último explosivo. Se por acaso desativassem o explosivo principal, o acidente nuclear ocorreria por falta de resfriamento e se o inverso ocorresse, não precisariam interromper nenhum resfriamento, pois a explosão resolveria tudo. Se ambos explodissem, a missão estava perfeita e nenhum ajuste seria necessário, mas prudência nunca era demais. Albano até lamentava não ter mais explosivos.</div><div style="text-align: justify;"><br />Como o serviço de Fernando era dos mais simples, estava tudo calculado que quando faltassem duas horas para a ativação total do sistema, ou seja, apertar o último botão, Fernando estaria encontrando Albano no prédio da administração, exatamente na porta de acesso para a área de acesso restrito. Até aquele momento provavelmente Albano já teria feito a maior parte do serviço sujo e matado a maior parte das pessoas do prédio.<br />– É agora? – Perguntou Fernando, observando pela última vez as motos e toda a cidade de Angra dos Reis. – Se conseguirmos esse lugar nunca mais será o mesmo.<br />– Então devia ter tirado uma foto... Essa é a última vez que vemos a civilização. – Respondeu Albano, enquanto subia em uma árvore para cortar os fios de telefone da Usina.<br />– Por quê? – Perguntou Fernando, sentindo-se intrigado.<br />– Se destruirmos isso aqui, destruímos a civilização, pelo menos a Brasileira... E sendo a Organização do jeito que nós sabemos, acredito que não seja um objetivo apenas e meramente “terrorista”... <br />– Como assim?<br />– Pense, você é capaz de chegar a uma conclusão...<br /><br />Fernando pensou, calado, alguns minutos. Minutos que Albano utilizou cortando todos os fios de telefonia que podia ver. Não interessava se cortasse o fio certo ou errado, mas sim que cortasse todos. Era fim de ano, e mesmo que a operadora local de telefonia fosse chamada para consertar algo, só atenderia no ano seguinte. Com os cabos cortados e a certeza eu tecnologia celular não funcionava naquela área por causa de espionagem industrial (Albano havia testado todas as operadoras de telefonia móvel antes, pra confirmar), o isolamento de Angra I era completo. Agora apenas faltava-lhe iniciar a invasão.</div><div style="text-align: justify;"><br />Albano procurou nos muros cercados de arame farpado uma parte que estivesse mais danificada pela maresia e nem demorou muito a encontrar. Nessas horas era ótimo poder contar com a incapacidade do Governo Brasileiro na gestão de segurança. Havia literalmente um buraco no muro, provavelmente feito para invadirem os bosques dentro dos limites das instalações. Era o tipo de sorte que lhes fariam ganhar pelo menos alguns minutos preciosos para cumprir a missão. Quando Albano começou a invadir o terreno, Fernando finalmente voltou a falar:<br />– Se for o que estou pensando... Será terrível!<br /><br />Albano apenas consentiu com a cabeça e sorriu.<br /></div><div><br /></div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-17909663569364482202007-04-27T02:00:00.031-03:002021-10-17T01:46:32.509-03:00Revelações de Jonas, Missão: Quinta Fase da Missão<div style="text-align: center;"><b>Revelações de Jonas: Missão</b><br /><b>Quinta Fase da Missão</b><br /><b>Chumbo Grosso</b><br /></div><div> <br /></div><div style="text-align: justify;">Fernando não entendeu nada. Em um segundo estava relaxando dentro do carro ao som dos Cantos Gregorianos e no seguinte deu com a cabeça no porta-luvas e em seguida viu Albano disparar um único tiro com sua pistola. Enquanto se recuperava do susto, Albano pegou o rádio e passou ordens tão rápido que a mente ainda dormente de Fernando não captou metade delas, mas nitidamente ele escutou “cuidado.” e “bandidos de merda.” entre essas palavras. Em seguida Albano deu um cavalo de pau e começou a voltar pela contramão da Linha Amarela, para o espanto de Fernando.<br /><br /><br />Amanda estava completamente relaxada dentro do carro. Sentia-se plena, apesar de ter perdido a família dias atrás. Na verdade esse pedaço de carne loiro havia perdido. Seu atual dono, um ser pertencente a segunda fileira das hordas de Lúcifer, e de nome Ab’Sylth, não se importava com tais coisas mundanas. Tanto é que no momento saboreava com total prazer um charuto cubano que comprara antes de sair do hospital. “Foda-se a carne...”, respondeu a um dos agentes, preocupado com a integridade da carcaça. De repente, quando estavam passando pelo viaduto da Linha amarela sobre a Avenida Brasil, ela escutou uma freada brusca e o eco de um disparo. </div><div style="text-align: justify;"><br />Sua mente gelou por um instante, por traumas ainda frescos na mente do hospedeiro, e em seguida o agente que dirigia atendeu o celular e apenas concordou com uma voz que berrava do outro lado, mas Amanda nada conseguia entender. Imediatamente a velocidade da Mercedes diminuiu e o veículo foi ultrapassado de modo absurdo pelo Chevette pilotado por Albano. Os agentes então ordenaram a Amanda que prendesse o cinto de segurança e que se preparasse para um grande baque.Amanda obedeceu, preocupada, e em segundos deu o aviso que estava pronta.</div><div style="text-align: justify;"><br />“Lá vamos nós!”, berrou o agente, dando um cavalo de pau enquanto o agente no banco do carona jogava contra a mureta de proteção um pequeno artefato que ao tocar o objetivo explodiu destruindo a mureta. Amanda berrou de susto e levantou-se pra ver o que ocorria e viu o carro acelerando em direção ao rombo aberto na mureta. “Vamos morrer”, gritou Amanda enquanto o carro voava pra fora do viaduto em direção a avenida. A queda durou poucos segundos, o que para a mulher ocupante do carro pareceram dias de tortura. </div><div style="text-align: justify;"><br />E então tudo terminou com um baque seco e muita vibração do carro atingindo o chão e levantando muita poeira. Ele ainda seguiu rasgando o asfalto com o forro da traseira do veículo por pelo menos dez metros. Por isso, antes de recuperar o controle da direção, o motorista ainda amargou mais alguns segundos até que o sistema de suspensão do veículo voltasse a funcionar pelo menos para tirá-los dali. Quando tudo terminou, guiados muito mais pela sorte do que pela habilidade, o mercedes deixou de ser um touro indomável e eles seguiram viagem para o Aeroporto Internacional, deixando para trás Albano e Fernando. </div><div style="text-align: justify;"><br />Finalmente o motorista entendera porque o veículo fora adaptado para tração traseira e não dianteira. Se fosse tração dianteira teriam todos mergulhado para a morte, mas sendo traseira o próprio peso do veículo manteve o carro relativamente equilibrado durante a queda evitando que o mesmo desabasse de bico e todos morressem. Um pouco de fator “Hollywood” contou naquele momento, pois a única vez que o motorista vira algo assim ser feito foi em filmes da década de 80, no século passado. Era estranho fazer parte de um filme real naquele momento. Obviamente Amanda assombrou-se quando o motorista gargalhou depois que acalmou, ela não tinha idéia dos pensamentos dele.<br /><br /><br /><br />Fernando estava puto e assustado.<br />– Que merda é essa? – Bradou Fernando ainda sem entender o que acontecia e porque Albano voltava depois de dar um tiro.<br />– Eu vi um olheiro em cima da passarela e matei ele... – Respondeu Albano.<br />– Como? Você tem olho de águia por acaso?<br />– Veja por si só.<br /><br />O chevette estacionou diante de um corpo espatifado logo abaixo de uma passarela perto da saída da Linha Amarela para Bonsucesso. Era um rapaz mestiço de idade aparentando uns dezessete anos e vestia roupas de grife, que em virtude do sangue valiam menos que colchão de mendigo no momento. O rapaz tinha perto da mão um rádio Nextel que ainda funcionava. Albano se aproximou do corpo e pegou o rádio ainda a tempo de escutar quando Carne Moída chamava pelo comparsa. Fernando, finalmente se deu conta do problema e sentiu um frio na barriga. Albano finalmente sorria, ia enfrentar alvos que reagiam, esperava apenas que o novato não desse algum mole na execução. De repente eles escutam o eco de uma explosão.<br />– É o sinal... Agora se segura que nós vamos correr muito... – Disse Albano, sacando suas pistolas. – Pega suas armas e vamos embora.<br /><br />Fernando não teve tempo nem de colocar o cinto, quanto mais as mãos nos bolsos. Albano ativou de imediato o sistema nitro do chevette e o carro acelerou tão rápido que Fernando teve a impressão de que seria esmagado contra o banco do carona. Tirolez naquele momento sorria, e muito. A adrenalina tomava conta de cada parte de seu ser, e esperava que fossem muitos, e todos corajosos ou burros o suficiente para não fugirem. Em menos de cinco minutos a uma velocidade absurda começaram a ver as kombis os aguardando para o pretenso assalto. “Como a sensação é boa...”, deliciava-se Tirolez com tudo aquilo.<br /><br /><br /><br />Ancelmo aguardava novas instruções de Mozart quando escutou a explosão. Assim como todos os comparsas, rapidamente sacaram suas armas e ficaram de olho nos rádios. “As ordens sempre foram pra esperar o aviso de Mozart... A não ser que desse tudo errado.”, e no momento não era esse o caso. Nem Mozart nem seu primo que estava servindo de olheiro haviam se comunicado. Todos começaram a relaxar novamente quando um chevette preto foi avistado chegando em altíssima velocidade. A hora da felicidade havia chegado.<br />– Caralho! É bebum! Não vai frear! – Berrou Ancelmo.<br /><br />Todos correram pra se proteger, mas Ancelmo estava imóvel. Por mais que quisesse não conseguia se mexer. Ele tentou fechar os olhos mas não conseguiu fazê-lo antes de ver o chevette se chocar violentamente contra uma das kombis e de dentro dele voar um homem enorme de sobretudo que estraçalhou o pára-brisa do chevette e rolou pelo chão até parar imóvel uns dez metros completamente ensangüentado. Ancelmo e os demais deram o homem por morto, ainda mais depois de uma cena dessa, e caminharam sorridentes para o chevette, onde viram um rapaz negro se recuperando da porrada.<br /><br /><br /><br />De repente, quando Fernando pensou que Albano frearia pra se digladiar com os bandidos, viu Albano fazer o contrário. O assassinou acelerou o chevette o mais que podia e antes que Fernando pudesse processar a informação o chevette deu uma porrada absurda contra uma das kombis. A força da pancada foi tão violenta que Albano atravessou o pára-brisa do automóvel e caiu a dez metros do acidente, aparentemente morto. Fernando nem conseguira recuperar a consciência quando um dos meliantes bateu no que restava do vidro do carona.<br />– Quer ajudar, irmão? – Falou o meliante, com sarcasmo. – Foi uma puta porrada... E quem vai pagar meu prejú?<br />– Heim... Prejú?<br />– É, meu irmão! – Falou o homem, puxando Fernando pela camisa e o tirando do chevette até ficarem cara a cara. – Dinheiro! Tá ligado?<br />– Ligadíssimo!<br /><br />Fernando não pensou duas vezes e deu dois tiros com sua pistola na barriga do idiota, que caiu no chão berrando pros comparsas. Os demais rapidamente sacaram suas armas e começaram a atirar. Demonstrando alguma habilidade que nem mesmo sabia possuir, Fernando saltou para a traseira do carro e se aproveitou da carroceria reforça pra se proteger da primeira rajada. “Merda, porque você foi morrer agora Albano...”, pensou Fernando, sentado no asfalto e verificando se tinha como abrir o porta-malas. E tinha, com a batida a trava abrira e pra melhorar, até mesmo o porta-trecos do carro estava aberto e tinham diversas granadas espalhadas pelo compartimento. Fernando escolheu uma qualquer e a arremessou, rezando para não acontecer nada de errado.</div><div style="text-align: justify;"><br />Assim que a granada tocou o chão começou a soltar muita, mas muita fumaça. Fernando julgou ser uma granada de gás lacrimogêneo, mas notando que nenhum bandido gritara de dor concluiu que se tratava de apenas uma granada de fumaça, provavelmente do mesmo tipo que Albano usara quando atacara o Mac Donald’s, dias antes. Aproveitando o momento, que não duraria mais que cinco minutos ou até o primeiro deles se aproximar, Fernando pegou outras duas granadas e se esgueirou pra dentro da fumaça. <br /><br /><br /><br />Ancelmo levou um susto quando escutou os tiros e seu comparsa Felipe caiu no chão gritando de dor depois de arrancar o jovem negro de dentro do chevette. Imediatamente sacou seu fuzil e disparou furioso contra o rapaz que se refugiou atrás da lataria do carro. “Babaca, só em filme carro serve de barricada!”, pensou enquanto continuava disparando até que sentiu uma dor perto da orelha. Tocou discretamente e viu em sua mão um filete pequeno de sangue e escutou um som estranho, de balas ricocheteando. “Sujou! O carro é blindado e agüenta até bala de fuzil!”, avisou Ancelmo, mas não alto o suficiente para que o rapaz ouvisse. </div><div style="text-align: justify;"><br />Imediatamente todos pararam de atirar e começaram a cercar o carro com todo cuidado, mas de repente o porta malas de abre e eles vêem uma mão negra arremessar um objeto na direção deles. Antes do objeto tocar o chão todos já tinham identificado a granada e começaram a se afastar quando ela começou a solta fumaça. Sem demonstrar ser uma granada tóxica, apenas uma bomba de fumaça, os bandidos um a um se embrenham na fumaça para buscar sua vítima antes que fuja oculto pelo seu artifício. Exceto Ancelmo, que fica mais afastado e pega seu Nextel, precisava entrar em contato com seu primo pra saber se tinha algum “meganha” vindo por causa dos tiros. </div><div style="text-align: justify;"><br />Estranhamente Ancelmo escuta o som do rádio de seu primo tocar próximo dele, e sente de leve a vibração do aparelho. “Como assim?”, indaga Ancelmo enquanto faz uma nova chamada e encontra a origem do som próxima do enorme cadáver que voou do chevette segundos atrás. Chama o rádio mais uma vez, e escuta o som vindo exatamente de um dos bolsos do sobretudo do enorme homem. Desconfiado do pior, ele chuta o homem violentamente, que rola pelo asfalto espalhando sangue pela pista e cai de braços abertos no chão. “Filha da puta... Se matou meu primo...”, balbucia enquanto prepara seu fuzil para destruir aquele desgraçado.</div><div style="text-align: justify;"><br />Passo a passo, e se arma em punho, Ancelmo aproxima-se do cadáver e deseja dar uma última olhadela no maldito antes de destruir seu rosto a bala. O homem aparentemente já está morto, e Ancelmo chuta o coturno do cadáver e analisa suas roupas. “Ao menos vou ganhar uns trocados com suas roupas.”, diz Ancelmo observando a qualidade das calças do homem e todo mais. Enfim se dá conta de que tem alguma coisa errada com esse homem, mas é tarde demais. Num movimento súbito o homem saca uma submetralhadora P90 e dá uma rajada certeira na cabeça de Ancelmo, que morre sem entender nada do que acontecera.<br />– Matei seu primo sim, encontre-o no inferno! – Diz Tirolez, enquanto o corpo de Ancelmo voa até o chão por causa da pressão de ar dos tiros à queima roupa.<br /><br /><br /><br />Fernando está desesperado. Quando está quase saindo da fumaça vê o vulto de um dos bandidos próximo dele e volta para onde estava. Vendo que a granada que levou consigo também é de fumaça, arrebenta o pino e aumenta mais ainda a nuvem de fumaça.<br />– O que foi, tem medo agora? – Berra um dos bandidos, dando uma rajada de metralhadora pro alto.<br />– É! O crioulo foi macho de fuzilar o Felipe a queima roupa, quero ver se é homem de encarar a gente...- Berra um segundo bandido, sem dar tiro.<br />– Vamos te dar uma chance, se entrega e a gente estoura seus miolos, senão vamos te entregar pro Carne Moída! – Berra o primeiro bandido, dando outro disparo.<br /><br />O jovem agente escuta então mais duas rajadas de metralhadora, quase seguidas, mas produzindo um som diferente das que escutara, completamente familiar. Era um estrondo idêntico ao da submetralhadora de Albano. Depois do que escutara no Mac Donald’s há menos de uma semana era impossível confundir com outra parecida. “Mas Albano está morto! Não é ele... De quem será essa arma? Será deles?”, indaga Fernando, enquanto os bandidos continuam suas ameaças.<br />– To falando preto safado... Se entrega logo, porque quando a fumaça baixar vamos estourar suas pernas e deixar o resto pro nosso chefe... – Berra o primeiro bandido.<br />– Faz o que ele ta falando! – Berra um terceiro bandido, com certo pavor na voz. – Nosso chefe é o cão na terra...<br /><br /><br /><br />Tirolez está satisfeito em como a farsa funcionou. Se os idiotas tivessem se dado o trabalho de conferir direito, teria morrido com certeza. Mas esse tipo de gente não é que nem Tirolez. Vê logo que não são soldados, não soldados como Tirolez. A primeira coisa que faz, ainda antes de se levantar, é terminar o serviço de Fernando, acertando um tiro certeiro na cabeça do bandido chamado Felipe, que ainda estava em condições de avisar aos comparsas do novo perigo. Para sorte de Fernando, esse bandido morre sem fazer um barulho sequer. E os demais bandidos estão escondidos dentro da fumaça procurando seu parceiro, satisfeitos demais em gritar e dar tiros aleatórios para perceberem o som da arma de Tirolez. “Vão morrer fácil demais...”, lamenta Tirolez desejando mais adrenalina e sangue nessa noite.</div><div style="text-align: justify;"><br />Com total frieza se levanta e limpa seu sobretudo da poeira que grudou nele. Olha para os lados e confirma que ainda falta alguém naquele lugar, provavelmente o chefe. Pelos cálculos de Albano e por comparar o número do Nextel de Ancelmo com o que pegara antes, ainda faltava um bandido pelo menos. Esperava que fosse mais. Sem se importar se Fernando está ou não vivo, pega um cigarro amassado em seu sobretudo, verifica suas armas, e dá uma longa tragada pra em seguida se livrar do cigarro. Com o semblante inalterado, apesar da empolgação, começa a caminhar pra dentro da fumaça enquanto se prepara pra mais um massacre.</div><div style="text-align: justify;"><br />“Abun D’bashmaya.”, balbucia Tirolez enquanto avista o primeiro bandido e lhe dá uma coronhada violenta na cabeça, mas antes do bandido tombar no chão inconsciente saca sua faca e a encrava no olho do meliante e a arranca com força fazendo um arco no ar abrindo a cabeça como se fosse um coco espalhando sangue pra todos os lados. “Nitkadash Shmakh.”, profere com o mesmo tom de voz calmo e alterado, quando avista a alguns metros de distância outro dos bandidos. Dada a distância aponta sua pistola e dá um tiro certeiro no meio dos olhos do meliante, que desaba no chão sem sequer perceber do que morrera. </div><div style="text-align: justify;"><br />“Tete Malkutakh.”, continua Tirolez quando dá mais um tiro em cada joelho de dois bandidos, que caem no chão gritando. Obviamente os demais correm pra fora da fumaça assustados com tudo aquilo. Mas nada vem e apenas escutam mais duas rajadas vindas de dentro da fumaça. Os bandidos haviam sido decapitados pela faca de caça de Tirolez. O assassino com sua calma tradicional vê Fernando ajoelhado no chão, travado de medo e passa por tranqüilamente indo em direção do porta-malas de seu carro. “Nihue Tzibyanakh”, fala enquanto de dentro do carro retira quatro granadas de fragmentação e quatro e fumaça e volta até Fernando. Sem se preocupar com o estado de seu parceiro, o arrasta até atrás de seu carro e o abandona ali novamente.</div><div style="text-align: justify;"><br />“Aykana D’bashmaya Aph B’ar’a.”, diz enquanto arremessa todas as granadas de fumaça na direção dos bandidos, de forma que não consigam escapar do desconhecido. “Hab’lan Lakhma D’sunkanan Yaumana.”, fala Tirolez enquanto se agacha atrás de seu carro e uma a uma arremessa as granadas de fragmentação e sorri com os gritos de dor dos bandidos ao serem surpreendidos pela dor lacerante dos fragmentos rompendo pele, músculos e até mesmo ossos. Um dele, provavelmente o mais sortudo, é atingido na cabeça por uma das granadas e morre sem sentir qualquer dor.</div><div style="text-align: justify;"><br />Com as explosões a fumaça se dispersa e Tirolez se levanta para conferir o resultado de seus ataques. Sucesso total, dos pelo menos onze bandidos que estavam na fumaça, apenas quatro davam alguns sinais de vida. Os seguintes ou tinham morrido realmente ou estavam inconsciente. E Tirolez não estava contando com os bandidos que matara ao se levantar. Satisfeito, novamente sorriu e caminhou em direção dos sobreviventes.</div><div style="text-align: justify;"><br />“Uashbuk’lan Khau’bayn.”, balbuciou enquanto matava o mais próximo com um tiro certeiro na nuca. O cadáver ainda assim demonstrava espasmos involuntários de algum resquício de vida e pra garantir que não faria mais nada deu mais cinco tiros na cabeça do bandido, que virou um horroroso amontoado de carne. “Aykana D’aph Kh’nan Shbakin L’khayabayn”, falou quando enfiou sua faca na barriga de um dos bandidos e arrancou-lhe as tripas para em seguida decapitá-lo como fizera com outros. “Ula Ta'lan L’nis’yuna.”, disse Tirolez enquanto descarregava o restante das balas de sua submetralhadora em um dos bandidos. “Ila Patzan Min Bisha.”, proferiu quando matou o último bandido a coronhadas de sua pistola, pois estava sem balas. Pra certificar-se de que matara a todos, foi até os aparentemente mortos e degolou-os um a um. “Amen”, falou enquanto limpava as mãos do sangue.</div><div style="text-align: justify;"><br />Em seguida foi até seu carro e tirou de um galão de gasolina e começou a jogar gasolina nos corpos. Planejava fazer um imenso churrasco com tudo aquilo, e lamentava não ter consigo nenhum naco de carne pra assar e comer enquanto assistiria a tudo. De repente escutou um disparo e sua perna fraquejou. “Fui atingido...”, pensou enquanto se virava e via um rapaz de aproximadamente vinte e poucos anos se aproximar portando uma pistola 9mm acompanhado de dois enormes seguranças também armados, só que de fuzil, mas que pareciam estar cansados demais pra ser algum perigo no momento. “Estou com problemas...”, pensou Albano.<br /><br /><br />Carne Moída escutou diversas explosões. Em quantidade suficiente para se precaver e saltar do seu carro junto com seus comparsas poucos metros antes de avistar o ponto onde as kombis estavam. “Tem alguma coisa errada...”, pensou enquanto saltava a mureta da Linha Amarela e iria seguir pela via expressa por fora, sem que fosse visto por quem estivesse dentro. Pra poder correr melhor abandonou seu fuzil no mato e correu rapidamente obrigando os demais a sofrer muito pra acompanhá-lo. Assim que chegou viu uma figura enorme de sobretudo caminhando entre os destroços das duas kombis e sentiu um cheiro forte de fumaça. O homem estava dando uma facada no pescoço de Felipe e começava a caminhar em direção do tal chevette preto.</div><div style="text-align: justify;"><br />O ódio tomava conta do peito de Mozart. Muitos desses cadáveres eram realmente seus amigos, provavelmente mais amigos dele até do que ele imaginava. E morreram por ele, por ordens dele e ele não tivera tempo de ajudá-los a trucidar esse playboy de sobretudo. “Foda-se se ele parece ser sinistro”, pensava Carne Moída enquanto conferia sua pistola 9mm. “Vai morrer hoje e vou dar ele de alimento pros mendigos!”, pensou quando viu o homem retornar aos cadáveres com um galão de gasolina e começou a espalhá-la pelo asfalto. Era audácia demais para agüentar. Carne Moída mirou, aguardou o momento certo e atirou. Ele acertou o playboy bem na perna, perto do joelho.</div><div style="text-align: justify;"><br />Ansioso por dar cabo dele correu até pra evitar que o homem reagisse. O desgraçado se virou diretamente pra Carne Moída e por um instante seus olhares se cruzaram, Pela primeira vez na vida Carne Moída sentia medo, o olhar do homem era pior que o seu. Mas isso não faria diferença, arrancaria os olhos do homem primeiro. Agora esse maldito estava nas mãos de Carne Moída e ele o queria vivo. Assim que seus servos chegaram ofegantes os ordenou que segurassem o homem antes que fizesse qualquer coisa. Os dois obedeceram de imediato e agarraram Albano pelos braços. Albano era muito mais alto que Mozart. E Mozart não gostava de pessoas mais altas que ele sempre mandava serrar as pernas de quem “tirava onda“ com ele a esse respeito, mas nesse caso faria por prazer mesmo.<br />– E aí, babaca... Qual seu nome? – Perguntou Carne Moída.<br />– ...<br />– Não sabe falar? – Berrou Carne Moída, dando uma coronhada no saco de Albano, que se encolheu todo, mas sequer gritou. – Olha pessoal, o cara é resistente... Será que ele topa tiro no saco?<br />– Meu nome é Albano... – Respondeu Albano, sorrindo.<br />– Cala a boca! – Berrou Carne Moída, dando um tapa na cara de Albano, que mesmo assim continuava a sorrir.<br />– Porque está sorrindo cuzão? Quer um tiro na boca pra arrancar esses dentes?<br />– Porque você vai morrer...<br /><br />De repente Carne Moída escutou dois estampidos pequenos, e seus dois seguranças caíram no chão, cada um com um tiro na cabeça, liberando Albano, que simplesmente caiu no chão e chutou longe a arma de Carne Moída, enquanto esse girava para ver o autor dos disparos. Não percebeu a arma voar de sua mão e mesmo assim não teve mais tempo. Tudo ficou escuro por alguns segundos. E então Mozart viu surgir diante de si uma enorme luz que crescia e crescia... Escutou o som de farfalhar de asas diante de si e uma mão tentou tocá-lo, mas antes que isso acontecesse uma espécie de sombra cobriu seus olhos e ele se viu em um enorme desfiladeiro vermelho. Então uma voz nada benigna ecoou por todo o lugar:<br />– Bem vindo ao Inferno... MEU inferno.... Jonas está vindo terminar o serviço... – Disse a Sombra, gargalhando muito em seguida.<br /></div><div><br /></div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-32931640.post-30460801215128689692007-04-19T20:10:00.022-03:002021-10-17T01:36:46.264-03:00Revelações de Jonas, Missão: Quarta Fase da Missão<div style="text-align: center;"><b>Revelações de Jonas: Missão<br />Quarta Fase da Missão<br />Viajando</b><br /></div><div> <br /><br /></div><div style="text-align: justify;">O sol brilha para todos, menos para Mozart. No auge de seus vinte e dois anos Mozart já comeu o pão que o diabo amassou no lugar onde mora. Mora? Não, Mozart se esconde dentro do imenso complexo da Maré, nos arredores do Rio de Janeiro. Morador da Comunidade do Tinguá, Mozart sempre foi um rapaz violento. Dizem seus avós que aos quatro anos de idade cegou o cachorro da família porque este não havia lhe dado atenção. Aos seis anos de idade foi expulso do colégio onde estudava porque quase matara um de seus coleguinhas de sala com estocadas de lápis após discussão envolvendo um pedaço de madeira das carteiras. <br /><br />Aos quinze anos de idade matou a pauladas sua namorada, porque essa fizera-lhe o favor de dizer que estava grávida. Com dezesseis anos foi convocado para o exército do tráfico. Com dezessete matou o pai por querer que estudasse ao invés de roubar. Horas depois deu tranqüilizantes a sua própria mãe e a matou enforcada com as entranhas do pai. Com dezoito matou o líder da boca de fumo e tornou-se conhecido por toda a região com o apelido de Carne Moída. O apelido surgiu justamente porque depois de matar o chefe da boca de fumo, ele o moeu e vendeu a carne para bares do centro do Rio de Janeiro em vésperas de carnaval. Desnecessário dizer que ele era uma pessoa temida na região. Seus servos o admiravam pela frieza, mas todos os demais o odiavam por sua monstruosidade. <br /><br />Mas toda sua monstruosidade teve um preço. Dada a grandiosidade de seus crimes, no pior sentido de “grandiosidade”, os policiais recusavam-se a receber propinas de sua quadrilha. No início até dava para conviver com alguns prejuízos, mas com o passar dos anos Carne Moída e seus comparsas foram obrigados a variar no mercado de trabalho. Ainda eram traficantes, mas agora também praticavam assaltos na Avenida Brasil pra complementar a renda da firma. <br /><br />Aquele dia de maio prometia para o bando de Mozart. Graças às contatos na comunidade, conseguiram descobrir que na noite desse mesmo dia dois veículos passariam pela Av. Brasil com destino a Angra dos Reis. Dentro dos carros, uma ambulância, estaria a esposa de um vereador da cidade, ferida durante um tiroteio em Copacabana. O plano era simples, matariam todos nos veículos, exceto a mulher, e a seqüestrariam. Dada a comoção por causa do tiroteio, pediriam um enorme resgate que seria pago rápido ou Carne Moída empalaria a mulher em algum poste e chamaria os jornais pra tirar fotos. Tudo seria perfeito naquela noite.<br /><br /><br /><br /><br /><br /> <br /><br /> <br /><br />Fernando acordara cedo e seguira todas as instruções de Albano com o melhor de si desde que chegara a seu novo emprego no horário estabelecido. Recebera da Organização duas pistolas e uma submetralhadora, todas do mesmo modelo que as de Albano. Albano, por sua vez, começava a aceitar a idéia de ter que treinar alguém, e explicou a Fernando todas as funcionalidades de seu Chevette. Fernando, como de se esperar, ficou assustado com todas as modificações que o velho possante recebera, e ficou muito mais impressionado quando Albano lhe revelou que existiam pelo menos mais dez carros iguais. Ainda naquele dia, antes da hora do almoço. Fernando recebeu algumas aulas de tiro e no final da tarde ele e Albano vestiram os uniformes de seguranças (ternos pretos simples, mas Albano jamais abandonava seu sobretudo) e partiram para o hospital Barra D’or no Chevette negro. A única coisa estranha naquele dia foi que Fernando não vira Regina em nenhum lugar do escritório. <br /><br />Graças ao tradicional engarrafamento da Auto-estrada Lagoa-Barra, conseguiram chegar ao hospital Barra D’or precisamente as sete horas da noite. Para sorte deles, tinham chegado meia hora mais cedo que o combinado. Albano e Fernando mostraram suas credenciais a uma das recepcionistas do hospital e subiram de elevador até o andar onde a esposa do vereador estava internada. O andar era um dos andares mais caros de todo o hospital, com ambiente climatizado e ao invés de bebedouros, instalaram máquinas de café da Nestlê, oferecidas gratuitamente aos visitantes. Albano consultou seu relógio e viu que sobravam ainda alguns minutos para chegar. O combinado era entrarem no quarto exatamente às dezenove horas e trinta minutos. E combinação era uma ordem, ordens seriam cumpridas. “Vamos tomar um café e aguardar meu sinal.”, disse Albano se dirigindo para a máquina de café e programando-a em café forte sem açúcar. <br /><br />– Nervoso? – Perguntou Albano, enquanto apoiava o copo de café em uma mesa ao lado da máquina e acendia um cigarro. – Se quiser fumar... <br /><br />– Não fumo. – Disse Fernando, sentindo até alguma vontade, mas optando apenas em acompanhar Albano no café. <br /><br />– Ao menos não negou estar nervoso... Você possui fibra, e admitir nervosismo é uma qualidade que poucos têm. – Falou Albano, apontando o dedo indicador para Fernando. <br /><br />– Não concordo... Todos ficam nervosos. – Argumentou Fernando. <br /><br />– Sim, uns não admitem, outros dizem logo de uma vez e arregam... Esses eu mato na hora... <br /><br />– Pensei que... <br /><br />– “Estivesse tudo bem?”, vai nessa! – Interrompeu Albano, dando uma boa golada de café. – Você não tem nem vinte e quatro horas aqui, se pensa que vou confiar em você está muito enganado. Estamos todos de olho. <br /><br />– E porque me colocaram nessa missão de escolta? <br /><br />– Ordens, ora, simplesmente ordens de cima... <br /><br />– E você não sabe por quê? <br /><br />– Não. <br /><br />– Não? Você não pergunta os motivos de suas ordens? <br /><br />– Não. <br /><br />– Como assim? Você é maluco? <br /><br />– Não. <br /><br />– Então você é o que? <br /><br />– Um soldado, e soldados cumprem ordens... E é bom se acostumar, você faz muitas perguntas. Não sabe falar de outras coisas? Mulheres... Ah, esqueci que você não curte... <br /><br /> Fernando sentiu repulsa do comentário de Albano. E não era pelo preconceito embutido na questão, pois o olhar de Albano transmitia que ele estava mentindo. Que sequer se importava com o teor da conversa, seu chefe apenas o queria irritar. “Merda, se continuar assim vou perder a paciência e vai dar tudo errado.”, pensava Fernando, tomando o último gole de seu café e emendando outro copo a seguir. <br /><br />– Café demais vai te deixar ligadão. – comentou Albano, insistindo em sua tática, mas vendo que Fernando era esperto pra cair nisso. – Gostei de você, é um moleque esperto... <br /><br />– Moleque? Tenho vinte e cinco anos... – Afirmou Fernando, convicto de sua posição. <br /><br />– Eu tenho trinta e muitos... Além disso, já matei tantas pessoas que nem somando todos os seus dias vivo conseguiria chegar perto desse total... Pra mim você é apenas um moleque. – Falou Albano, começando a fumar, mas nitidamente sem tragar. <br /><br />– Sente orgulho dessa marca? Eu não conseguiria dormir com um peso desses na consciência... <br /><br />– Orgulho? Tenho muito... Apenas me tira o sono um certo arrependimento. <br /><br />– De ter feito tantas vítimas? <br /><br />– Não, eu me arrependo apenas de não ter dado mais tiros. Existem dias do ano em que não disparo uma bala sequer, isso me enlouquece. Vide ontem, saí de sua casa e fui direto pra Organização em busca da sala de treinos. Até um mendigo peguei pra treinar... <br /><br />– Mendigo? <br /><br />– É. Mas não aqueles miseráveis que estão sofrendo nas ruas, peguei um dos malandros... Que se fazem de pobres pra extorquir dinheiro dos otários, isso quando não roubam as pessoas. Levei o filho da puta pra sede, amarrei o desgraçado lá na sala de tiro e quando dei o primeiro tiro na perna, fui convocado pra reunião... Chato não? <br /><br />– Monstruoso... Isso sim. <br /><br />– Há há há há! – Gargalhou Albano, dando em seguir a última tragada no cigarro e jogando a guimba no lixo. - Ouvir disso vindo de alguém que não faz dois dias estourou os miolos do namorado com dezesseis tiros é no mínimo cômico... <br /><br /> A dura verdade de Albano feriu a moral de Fernando seriamente. O jovem preferia levar um tiro na virilha a escutar tais coisas e de tal forma. Ele sabia que não era mais a mesma pessoa, mas os sentimentos da Carne ainda se misturavam aos da Alma, e por menos que estivesse doendo, ainda doía. Por mais monstruoso que Albano fosse, o que fizera com Renato era do mesmo grau de crueldade, senão pior. Mesmo assim, e amaldiçoando os responsáveis por seu estado, Jonas ainda precisava manter Fernando vivo, ao menos por fora. Mas nem por isso deixaria de tirar o melhor proveito da pior situação. <br /><br />– O que vocês fizeram com o mendigo? – Perguntou Fernando, deixando a conversa fluir e os sentimentos de culpa desaparecer. <br /><br />– Descartamos, depois te ensinarei como, agora vamos pro quarto dela, que temos trabalho a fazer... <br /><br /> Albano consultou novamente o relógio e caminhou apressado para o quarto. A conversa demorara mais que o previsto e agora tinham menos de quarenta segundos para percorrer o corredor até o local certo. Pra evitar atrasos, e ele nunca se atrasaria, Albano começou a andar o mais rápido que podia desesperadamente. Fernando o seguiu, estranhando a pressa de seu companheiro. Sem bater na porta, e faltando menos de dois segundos, Albano entrou no quarto bufando, mas satisfeito por não ter se atrasado. <br /><br />– Pensei que você fosse demorar... – Falou Regina, sentada ao lado da esposa do vereador. <br /><br />– Ele! – Berrou a mulher. – Foi ele quem matou minha família! Socorro! <br /><br />– Calma, Amanda. – Disse Regina, enquanto Fernando entrava no quarto e trancava a porta a mando de gestos de Regina. – Você esqueceu de quem é? Do que tem que fazer? <br /><br />– Mas... ele... – A mulher caiu em prantos. <br /><br />– Chega de frescura! <br /><br /> Regina ergueu suas mãos e segurou a cabeça de Amanda com firmeza. O gesto foi tão brusco e repentino quanto foi violento. Até mesmo Albano se assustou com toda essa determinação de Regina. De repente todos na sala começaram a sentir o odor acre de enxofre e as flores que estavam distribuídas em vasos pelo quarto começaram a murchar. Regina então proferiu uma seqüência de sons e grunhidos estranhos, mas entoados como uma canção profana. Amanda de imediato se acalmou e começou a acompanhar o cântico. Tudo não durou mais que quinze segundos, mas para os dois homens presentes pareceram ser horas. Regina finalmente soltou a cabeça de Amanda, que naquele momento estava completamente calma. Em seguida as duas se olharam e se beijaram de um modo depravado e completamente absurdo para os olhos de Fernando, e pelo que o rapaz pôde ver até Albano demonstrou certo incômodo com as duas. <br /><br />– Bem, Albano já conhece o esquema todo... Sejam rápidos e escoltem nosso novo membro até Angra dos Reis. Ao chegarem entrem em contato, mas não saiam de lá. – Falou Regina, desvencilhando-se de Amanda. <br /><br /> Sem dizer uma palavra mais, Regina saiu do quarto e foi embora, deixando os três sozinhos no quarto. Ao que a porta se fechou Amanda sentou-se na cama e perguntou se Albano tinha um cigarro, sendo prontamente atendida. Sem dizer mais nenhuma palavra, a mulher acendeu o cigarro e deu uma longa tragada, pra em seguida tossir desesperadamente. “Odeio esses tipos de carcaças... Puras demais!”, disse a mulher com uma voz levemente alterada, como se mais grossa. Albano continuou em silêncio e verificou as horas em seu relógio. Fernando notou o mesmo, que estava ficando tarde demais pra viajar em uma cidade como o Rio de Janeiro. <br /><br />Apressados os dois agentes levaram Amanda embora do hospital e a colocaram no banco traseiro do Chevette de Albano. Inicialmente ela pensou em protestar, dada sua posição social, mas ao ver os opcionais do carro mudou de idéia rápido. Albano sentou-se no volante, tendo Fernando ao seu lado e a mulher foi sozinha no banco traseiro. Pelos cálculos que Albano fizera, demorariam pelo menos de duas a três horas de viagem até chegarem em Angra, se não fizessem paradas e sem chamar atenção da policia rodoviária. Tudo estava dando certo, até demais, na mente dos dois agentes da Organização. <br /><br /> <br /><br /> “Essa noite vai ser demais”, disse Carne Moída aos membros de sua quadrilha no início da noite enquanto cheirava sua primeira carreira de droga das muitas que consumiria até o momento de saírem. Tinham três kombis carregadas de munição, cocaína e pelo menos cinco dos seus homens de confiança para cada uma. Carne Moída e outros dois comparsas iriam em outro carro, um Vectra, pra dar suporte em caso de problemas. O bonde sairia pela Vila do João, na Avenida Brasil, e tinha como objetivo pegar pelo menos duzentos mil reais dos “manés do asfalto”, somados carros, celulares e outros furtados em ônibus de viagem. Se acaso não conseguissem atingir a meta, simplesmente queimariam três ônibus e diriam que era represália pela morte de algum traficante. Depois escolheriam o nome do homenageado, no momento apenas se divertiriam às custas do povo. <br /><br />Quando eram precisamente dez horas da noite um dos fogueteiros deu o sinal, avisando que “a polícia já tinha se mandado”. Imediatamente todos correram para seus respectivos veículos e partiram, escutando dos mais diversos proibidões pra dar o clima. Desceram a Av. Brasil em direção a Linha Amarela, entrando na via expressa para entrarem no retorno por Bonsucesso para o sentido da via expressa que daria mais lucro e que serviria de rota de fuga de volta pra Vila do João, caso algo desse errado. <br /><br />– Já sabem das paradas... Se for casaco azul, é pra explodir a cabeça do filho da puta com fuzil e depois penduramos no morro. – Instruiu Carne Moída, pelo rádio. <br /><br />– Vai moer eles e vender? – Perguntou um comparsa pelo rádio. <br /><br />– Polícia não serve nem pra alimentar porcos... Queimamos mesmo no microondas. – Respondeu Carne Moída, fazendo todos rirem de vontade de matar muitos policiais. <br /><br />– Vamos deixar o olheiro aonde? – Perguntou outro bandido. <br /><br />– Perto da entrada pra Bonsucesso, a uns dois quilômetros de onde vocês ficarão, já quase na comunidade. – Ordenou Mozart. <br /><br />– Beleza., estamos fazendo então. <br /><br /> Carne Moída cessou a comunicação e reduziu a velocidade de seu Vectra.Pra não levantar suspeitas, ele sempre fazia isso, reduzia a marcha e dava umas voltas pela região e aguardava o som de tiros. Se não tivessem som nenhum, era porque tudo estava dando certo. Se ouvisse algo, era porque alguém fizera merda e era hora de aloprar. Ele desceria a Linha Amarela descarregando sua metralhadora pra todos os lados, exceto para onde estavam seus comparsas, e deixava uma trilha bem grande de corpos pra polícia limpar. No dia seguinte um contato na imprensa colocava a culpa dos tiros na polícia e uma manifestação complementaria o serviço. Enquanto estacionava seu carro em alguma rua próxima, seus companheiros estavam fechando a pista lateral da Avenida Brasil, no sentido Baixada. <br /><br /> <br /><br /> <br /><br />Albano e Fernando se separaram de Amanda. Em virtude da frescura da recém iniciada, acabaram tendo de providenciar um segundo carro para a viagem, de aspecto mais luxuoso que o Chevette, e uma passagem de avião em um jato fretado para Angra. Obviamente Albano reclamou do fato com a Organização, mas ao invés de ser ouvido, a Organização enviou mais um carro para satisfazer os desejos da mulher, dessa vez uma bela Mercedes. Albano desistiu de argumentar e apenas comentou com Fernando que eram todos idiotas por darem ouvido a uma iniciante. <br /><br />– Ela deve ser importante... – Comentou Fernando, enquanto se sentava no carro e via Amanda ser guiada por outros agentes pra dentro do Mercedes. <br /><br />– Poderia ser Deus naquele corpo... – Respondeu Albano, já sentado e girando a chave da ignição. <br /><br />– Porque tanta raiva? Ela é esposa de um político... Ao menos viúva de um. – questionou Fernando, enquanto prendia o cinto de segurança. <br /><br />– Não é raiva, é indignação... A Organização deu voz a uma qualquer que chegou há menos de uma semana, e um destaque que não é seguro. <br /><br />– Destaque? <br /><br />– Tem noção da hora em que estamos começando a viajar? E do carro dela? <br /><br />– Mas não vamos viajar de jatinho particular daqui da Barra? <br /><br />– Não, vamos partir do Aeroporto Internacional... Lá na Ilha do Governador. <br /><br />– E daí? Descemos a Linha Amarela a toda e chegamos lá em uma hora no máximo, até menos. <br /><br />– Daí? Daí que são dez horas da noite quando deveríamos ter saído as oito e meia, e quando estivermos na Linha Amarela perto do aeroporto, serão quase onze da noite. Não tem lido jornais sobre crimes nas proximidades daquela região? <br /><br /> Com as últimas palavras escutadas Fernando se lembrou das notícias sempre constantes de crimes ocorridos nas redondezas, mas não deu importância. “Hoje é o dia 24 de maio de 2006, uma quarta-feira, e quem em sã consciência faria algo no dia mais morto da semana?”, pensou Fernando enquanto se incomodava com o fedor de mais um cigarro sendo aceso por Albano. Minutos depois uma comitiva de dois carros negros começava sua viagem rumo ao Aeroporto Internacional, onde um avião os aguardava com destino a Angra dos Reis. <br /><br />– Sabe uma coisa engraçada? – Comentou Fernando, quebrando o silêncio dos primeiros cinco minutos de viagem. <br /><br />– O que? – Perguntou Albano, prestando atenção na avenida, mas estranhando o tom de voz do rapaz. <br /><br />– Algumas horas atrás você disse que se eu me deixasse levar pelo estresse me mataria... <br /><br />– E? <br /><br />– Bem, essa tal de Amanda deu ordens a torto e a direito, com uma senhora demonstração de frescura, e depois eu que sou o viado aqui... <br /><br />– Aonde quer chegar? – Cortou Albano. <br /><br />– Se eu que tinha vinte e quatro horas posso morrer se der um “pití”, porque nada aconteceu com ela? <br /><br />– Quem disse que nada vai acontecer com ela? <br /><br /> <br /><br />Fernando quase ousou rir com a resposta de Albano, mas preferiu o silêncio. Aliás, ambos se calaram e o silêncio só foi quebrado quando Albano pegou um DVD no painel e colocou para tocar no Chevette. “Cantos Gregorianos, gosto muito de escutar em missão...”, comentou Albano, voltando ao silêncio habitual. E a viagem de ambos continuou sem problemas. <br /><br /> <br /> <br /><br />A noite para a quadrilha estava fraca. Apenas tinham roubado dois carros mais ou menos novos (que foram levados para o desmonte imediatamente, reduzindo a quantidade de bandidos presentes) e um ônibus para o aeroporto, que estava tão vazio que apenas valeu a pena assustar os passageiros e fazê-los implorar pelas vidas. De resto, já eram dez e meia da noite e nada. Nenhuma pessoa viva naquele trecho da Linha Amarela além deles mesmos. Já haviam trocado rádio duas vezes com Carne Moída pedindo para irem pra Av. Brasil furtar e não na Linha Amarela, mas a permissão foi negada. E nenhum deles ousaria negar permissão ao bandido, pois sabiam que no dia seguinte seriam servidos no almoço de alguma escola. <br /><br />Eis que de repente algo de diferente aparece. Através de um binóculo o olheiro da quadrilha vê chegarem dois carros negros em alta velocidade, e aparentemente separados ou talvez disputando um pega. Mas um deles em especial chama muita atenção. É um Mercedes preto, muito, mas muito luxuoso. O bandido de imediato chamam Carne Moída e os demais pelo rádio. <br /><br />– Caralho! Tem dois carros vindo... Um deles é um Chevette preto velho e o outro é um puta carro... – Diz o bandido pelo rádio. <br /><br />– Puta carro? - Responde Carne Moída. <br /><br />– Um mercedão, e não to falando de busão não... É coisa de ricaço mesmo, daqueles de filme. – Detalhou o comparsa. <br /><br />– Faz o seguinte, vamos mudar o dia de roubo pra seqüestro! Peguem o filho da puta, e se gritar muito matem o babaca e levem o carro... Depois damos jeito. É Jesus na mente! Estou indo para aí... Devo chegar logo atrás dos dois carros pra evitar fugas. <br /><br /> Mozart cortou a transmissão e ligou seu Vectra. Eram apenas dois carros e seus treze homens (pois dois haviam partido e o olheiro estava longe demais) dariam conta do recado. Um deles tinha sido PQD no exército e sabia atirar em pneus se precisasse. Pra confirmar se estava tudo certo, e se os carros não haviam feito nenhum desvio, fez uma nova chamada para o olheiro enquanto começava a descer um viaduto em direção a Linha Amarela. Nenhuma resposta. “Merda, tem alguma coisa errada.”, pensou Mozart antes de escutar o som claro de uma grande explosão.</div>Climão Tahitihttp://www.blogger.com/profile/11192074764995444622noreply@blogger.com6